Resenha - Nuvens de Ketchup

10 janeiro 2022




Este livro com título tão incomum conta a história de uma adolescente que se apresenta como Zoe. Ela começa a enviar cartas para um preso que está no corredor da morte no Texas e que se chama Stuart Harris. Sua intenção é contar para ele suas culpas e arrependimentos de coisas que lhe aconteceram em um passado recente.

O livro é intercalado pelos acontecimentos que ocorrem antes e depois de Zoe começar o envio das cartas e os motivos pelos quais ela se sente tão culpada por tudo o que aconteceu. Logo nas primeiras páginas ficamos sabendo que alguém morreu e no decorrer das páginas vamos saber quem, como e por que. Alguns meses antes do envio da primeira carta, algo terrível aconteceu e uma pessoa muito próxima morreu e desde então, Zoe já não é mais a mesma. Por isso mesmo, ela acredita que ninguém melhor do que um prisioneiro condenado à morte para entendê-la, já que ela acredita que o que fez pode ser comparado ao crime cometido por Stuart, ou apenas Sr. Harris, como Zoe o chama.


"Há centenas de criminosos que querem se corresponder com pessoas. Centenas. Mas o senhor se destacou. Toda aquela coisa sobre sua família te abandonar, então o senhor não recebeu nenhuma carta por onze anos inteiros. Toda aquela coisa sobre a sua culpa."


Nas cartas Zoe começa a descortinar os fatos que aconteceram no traumático 1° de maio e tudo o mais que aconteceu em sua vida no último ano. Morando com os pais e as duas irmãs mais novas, Sophie e Dot. Sendo Dot deficiente auditiva ela tem total atenção da mãe, que, ainda assim, controla a vida de todos, mesmo não sendo tão presente na vida de Sophie e Zoe. Tentando se livrar da marcação cerrada da mãe, Zoe inventa algumas situações que logo se transformam em mentiras. Além disso, também tem a difícil e quase inexistente relação da mãe de Zoe com o sogro, já que eles têm questões não resolvidas e que aconteceram há alguns anos prestes a se transformar em uma grande e dolorosa bola de neve.

Contudo, as coisas chegam a um nível preocupante quando ela se envolve em um triângulo amoroso e não revela às partes interessadas esse importante e crucial detalhe, que por sua vez, tem desdobramentos inesperados e devastadores na vida de todos.


"Todos acham que estou de luto, por isso não me fazem muitas perguntas quando pareço pálida e magra, com olheiras profundas, meus cabelos pendurados em mechas oleosas. Outro dia minha mãe me forçou a cortá-los. No salão, encarei os clientes me perguntando quantos deles tinham segredos, porque a freira disse que ninguém é perfeito e todo mundo tem um lado bom e ruim dentro de si."




[- Minhas impressões -]

O começo do livro foi meio confuso e um tanto quanto tumultuado, mas à medida que as explicações foram surgindo, as coisas começaram a se encaixar e fazer sentido. Mesmo que a idade de Zoe não tenha ficado clara, entende-se que ela é uma adolescente e tem por volta de 15 a 17 anos, embora algumas de suas falas e atitudes imaturas a façam parecer mais nova do que isso, o que acabou por me incomodar várias vezes enquanto lia.

Zoe foi uma protagonista que não conseguiu fazer com que eu simpatizasse com ela, já que não houve empatia e solidariedade. O personagem tem atitudes muito egoístas no decorrer da história e o exemplo disso é a maneira fria e e até mesmo maldosa (minha opinião) como ela se dirige ao prisioneiro para o qual envia as cartas.

O livro é maravilhoso em sua concepção, todavia, não posso dizer o mesmo de sua protagonista. Mas em uma coisa eu a admiro muito, sua relação com as irmãs é algo realmente lindo e emocionante do começo ao fim.

A maneira como a autora aborda a culpa que Zoe sente pelo o que aconteceu foi muito bem executada e dá gosto de ler, além de trazer histórias secundárias extremamente importantes para o desenrolar da trama.

Ela toca em questões profundas e nos envolve totalmente nas dores e culpas dos personagens, uma vez que não é somente Zoe que tem segredos, e mais para o final da história ficamos a par do que ocasionou a surdez de Dot, sua irmã caçula e o motivo de sua mãe e seu avô paterno não terem uma boa relação.

Annabel Pitcher contou uma história comovente e conseguiu imprimir através de seu talento o que a culpa é capaz de fazer com as pessoas e como cada uma delas reagem aos seus atos. O livro é tocante, a construção dos personagens foi impecável e a autora conseguiu me emocionar várias vezes com sua escrita fluida e cativante.

Se o começo foi meio confuso como falei no início, não posso dizer o mesmo do meio para o fim. A história tomou toda a minha atenção e mesmo não gostando de Zoe não posso dizer que não sofri um pouco com ela, mesmo acreditando que ela foi a única responsável por tudo o que aconteceu e pela maneira como aconteceu. Outra coisa que eu gostei muito foi a maneira que a autora encontrou para explicar o título do livro, pois enquanto lia foi inevitável me indagar sobre a escolha do título,o que me levou a pensar que não tinha nada a ver com a história. Ledo engano. Tudo é lindamente explicado em um dos momentos mais sensíveis e emocionantes do livro na minha opinião.

Nuvens de Ketchup é sem dúvida um dos melhores livros que li esse ano e em pouco mais de 270 páginas eu senti um turbilhão de intensas emoções que nem tão cedo eu irei esquecer. Esse é um daqueles livros que daqui alguns anos irei querer reler e tenho certeza de que novamente irei me emocionar.






Livro: Nuvens de Ketchup 
Cortesia: Editora Rocco / Autor: Annabel Pitcher
Número de páginas: 270


Indicado ao prêmio Edgar Allan Poe na categoria juvenil, Nuvens de ketchup é o segundo romance da inglesa Annabel Pitcher, autora do também premiado Minha irmã mora numa prateleira. A trama gira em torno da jovem Zoe, que narra, por meio de cartas enviadas a um prisioneiro condenado à morte, seu dia a dia com a família, seus envolvimentos românticos e um segredo sombrio que ela não tem coragem de contar a mais ninguém. As inúmeras dimensões dramáticas da jovem protagonista e a narrativa cativante mostram o desabrochar da juventude e percorrem temas como amor, culpa, luto, erros e acertos de forma sensível e bem-humorada.




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