Resenha - Dama das Lavandas

14 junho 2021



Nesse romance de época, conhecemos a sonhadora Victoire, uma jovem que mora com sua tia Augustine, em Provence, junto com Amelie, a quase empregada delas - que está ali por problemas familiares. Mesmo vivendo do plantio de lavandas há anos, por algum motivo, elas agora estão extremamente endividadas e precisam de uma solução quase imediata para seus problemas. 

Augustine se recusa a viver com pouco dinheiro e isso afetou ainda mais as economias da enorme casa, colocando-as em risco de perder tudo e colocando o trabalho de Amélie em uma corda bamba também, afinal, quanto mais bocas para alimentar, menos suprimentos elas terão para poder passsar por esse contratempo. Porém, Vic se recusa a deixar as coisas irem para esse lado e, insistentemente, está estudando alquimia, para tentar criar o perfume perfeito, com o cheiro inconfundível de suas tão amadas lavandas, e mudar a vida da família, uma vez que, no local onde moram, todos adoram o lançamento de um novo perfume e isso pode ser o auge delas. 


Enquanto isso, um milionário, Maurice, acabou de comprar o Château du blanc, uma importante propriedade perto de onde elas moram. Isso logo vira notícia e sai no jornal, fazendo tia Augustine, que é uma consumidora assídua de notícias, suspirar ao imaginar sua sobrinha casada com ele, tanto por ser bonito, quanto por ser rico. 

Sempre com uma língua afiada, ela não perde tempo e expressa seu desejo para a sobrinha, dizendo que isso seria a salvação delas. Afinal somente ele ou algum outro homem rico poderia ajudá-las no momento e Vic já estava em idade para começar a ser cortejada.

Só que para Vic era óbvio que esse homem jamais olharia para ela e, também, ela não queria pedir nenhum favor a ninguém, porque sempre controlou tudo sozinha e conquistou o que tem com suas próprias mãos, cravadas na terra onde planta suas lavandas. Algo pelo qual ela sempre se orgulhou.

Só que tia Augustine não deixa de pressionar a jovem, mas a apoia em seu perfume. Em uma das idas até a mulher que é amiga delas e dona da loja de perfumes, Vic fica para trás ao ver um lindo vestido em uma vitrine, e sua tia segue em frente para a outra loja. Então assim que sai de seu transe, após constatar que era pobre demais para um vestido tão lindo, ela voltou a caminhar, mas esqueceu de olhar por onde estava indo. É então que perdida em seus pensamentos ela cai diretamente nos braços daquele que ela julgou jamais ser capaz de conhecer, Maurice. O destino os uniu, em um primeiro momento, desastroso e envergonhante, mas, em um segundo, sério e profissional.


Ele realmente mudaria a vida da família dela, mas não do jeito que ela pensou. Será que a relação deles será apenas profissionalismo, algum joguinho sedutor ou paixão ardente e amor? Descubra como tudo isso se une, e talvez se resolve em Dama das Lavandas.


"A plantação de lavandas, quando atingia a floração e estava no auge de sua cor e formosura, como toda a estação de estio, coloria a terra como um tapete felpudo roxo. Definitivamente, era a atração turística que seduzia pessoas de vários lugares que estavam em busca de paisagens idílicas no interior da Fança, na região da Alta Provença."




[- Minhas Impressões -]


Esse foi o primeiro romance de época que li, então não estava acostumada com o estilo do gênero e  escrita, com o modo de apresentar os fatos e tudo, mas foi uma grande e boa surpresa, porque acabei gostando do livro. Apesar dele se demorar nas situações e não haver um relacionamento mais explícito entre os personagens, a história acabou me conquistando aos poucos. Há um jogo de insinuações muito bom, que me prendeu fácil e me deixou esperando o que iria acontecer nos próximos capítulos. 

E como todo romance histórico, a linguagem é escrita de forma antiga, mais formal, mas, ao mesmo tempo, com palavras simples, o que não torna a leitura cansativa e chata, porque, se fosse escrito com palavras muito rebuscadas e da época o tempo todo, seria ruim ter que sempre ir buscar essas palavras no dicionário para entender elas. Há algumas palavras rebuscadas, mas elas são compreensíveis e acrescentam bastante ao texto com um toque de "antiguidade", o suficiente para nos situarmos no tempo histórico e não esquecermos dele durante a história.



O narrador é em terceira pessoa e descreve as personagens de forma curta no começo, mas é possível visualizar muito bem como elas são. Depois, ele passa a dar todas as informações sobre elas antes que os personagens façam isso por si só, então sabemos mais deles pelo o que é narrado do que pelos diálogos. Com essa narração mais expositiva dos fatos, sobra para os diálogos muita acidez, personalidade, cordialidade e podemos comprrender o modo como falam. Já os capítulos, são curtos, o que amo, pois a leitura parece passar mais rápido e, se tratando de um livro longo, isso ajuda o leitor a engatar na história.
  

Percebi que a autora realmente estudou para escrever essa história, porque temos muitas informações sobre lavandas, como plantar e cultivar, como fazer perfumes e como as coisas eram naquele período. Achei muito interessante a escolha de lavandas como plano de fundo, amo o cheiro delas e parece que os homens também, pois se sentiram hipnotizados por ele e por Vic. Então tudo se encaixou muito bem na história e é lindo demais ver o amor que Vic tem por tudo que construiu e por suas flores.


"Durante os segundos em que Victoire tentou estancar o sangue do dedo entre seus lábios macios e carnudos, Maurice fitou-a com olhos ardentes; um desejo incontrolável o consumiu, como fogo queimando-lhe as entranhas."



No começo não se sabe muito sobre a vida de Vic e Augustine, ficando uma curiosidade por querer saber por que ela foi morar com a tia e por que estão falidas. A quase empregada, Amelie, é muito engraçada e perdida nas coisas, fazendo bagunças e quebrando tudo pela casa por ser desastrada, dando uma quebrada no ritmo denso e sedutor da história. Por outro lado, Augustine é até um pouco grossa, severa, mas, no fundo, tem um coração bom. Vic serve como ponto de equilíbrio entre elas, apaziguando as situações, enquanto tenta resolver a situação financeira por ser a que mais entende disso.

Achei muito legal essa questão do protagonismo das mulheres, apesar de ter o típico "preciso casar com um homem rico", já que Vic tenta ser muito independente, realizar seus sonhos e trabalha duro para juntar o dinheiro. Vemos muito o apoio entre, principalmente, as três mulheres, como uma se sustenta nas outras e assim vão levando a vida e fazendo o que podem para serem levadas à sério, já que são mulheres de negócios.

Na família delas, não há nenhum homem para comandar o que é mais importante, por isso sobrou para Vic, porque ela é muito forte ao segurar toda a situação o máximo que pode e ainda, depois de Maurice, ter que lutar contra uma paixão por medo de perder o que construiu.


Como é um livro de época, eu já esperava que fosse descritivo e falasse de alguns assuntos que hoje consideramos machistas. As descrições de roupas, ambientes, cheiros e casas ajudaram muito a me inserir nesse contexto histórico, não foram entediantes, pelo contrário, foram fundamentais. Já as frases "ultrapassadas" me fizeram respirar fundo e pensar: estou lendo um livro que se passa em outra época e esse era o pensamento.

Nele também há toda uma dramatização das cenas que não acontece mais em livros que não são de época, na maioria das vezes. Algumas cenas se prolongam, são quase imaginadas em câmera lenta, além de os personagens ficarem escandalizados por pouquíssima coisa e as regras sociais serem rígidas, o que é bem divertido pensando na atualidade.

A história de fato começa quando Maurice, o novo ricaço, acaba encontrando Vic por acaso em uma das ruas, enquanto ela se imaginava com um vestido de uma vitrine.

Esse encontro deles foi muito engraçado e desde o começo os dois trocam diálogos afiados, porque Vic não deixa a desejar quando alguém merece uma resposta, mesmo que seja um senhor importante como ele. Eu gostei bastante dela, de como ela é fofa e de gênio forte ao mesmo tempo. Ela não tem nada de mocinha boazinha, mas é recatada e sonha em encontrar o homem ideal com quem casará.


Enquanto Maurice é aquele tipo de homem que sabe que é bonito, rico, famoso e o efeito que causa nas mulheres. Mesmo sendo noivo de Marcelle, outra milionária, ele não deixa de paquerar outras mulheres que deseja, e Victoire não irá escapar de suas tentativas, porque ele não consegue mais esquecê-la desde o dia em que se encontraram por acaso.


"Ah, ele não conseguia raciocinar com lucidez. Ela o atraía desmedidamente. Maldita! Porque ela o deixava atrapalhado, como um jovem bobo inexperiente?"



Outra surpresa na vida de Vic acontece quando ela finalmente é contratada para plantar lavandas em outro local e descobre ser o Château du Blanc, onde Maurice mora agora. Ela resolveu aceitar, pela situação financeira, e passar por cima dos sentimentos que teve quando o viu pela primeira vez. Isso foi um desafio enquanto esteve morando lá, pois Maurice começou a ser legal e fazer de tudo para seduzir ela. Eu fiquei em uma posição de pé atrás com ele, uma hora gostava muito e em outra hora queria que ele deixasse a nossa protagonista em paz. 


A trama possui, na maior parte, momentos hilários! Perdi a conta de quantas vezes fiquei dando risada das cenas trágicas e vergonhosas que Vic protagonizou. Porém, aos olhos de Maurice, essas cenas foram extremamente sensuais e isso também foi engraçado de ver. Além dessas cenas mais leves, temos cenas bem intensas entre os dois, durante as investidas, que o narrador prolonga mais, ajudando a criar uma tensão e expectativa.

Assuntos mais intensos são trabalhados também, como a diferença entre classes. Marcelle faz de tudo para tentar afastar Vic de Maurice, mesmo com a jovem dizendo que está apenas trabalhando para ele. Nesses momentos, há xingamentos e brigas, com a milionária deixando claro que a jovem das lavandas não passa de uma pobretona que trabalha com terra e se veste mal. Nesses momentos, senti muita revolta e raiva dessa personagem, mas ela é fundamental na história para criar as intrigas necessárias.

Conforme a estadia dela no Château se prolonga, mais Vic vai conhecendo Maurice e tendo que lidar com os ataques de fúria de Marcelle, que nem o próprio noivo dela aguenta mais, já que a relação deles não é bem o que ela conta que é.

E Continuamos então a ver Vic e Maurice em uma tensão sensual muito grande, os conflitos da jovem e o desejo do homem, mas ela tenta se manter coerente à sociedade da época, não manchando sua imagem. Porém, por mais que receba cortejos de outros homens, afinal, ela é linda, ela não consegue parar de pensar em Maurice. 


"Dentro de seu peito havia um turbilhão de sentimentos novos, e isso a deixava completamente desconfortável. A sensação de que algumas mudanças estavam prestes a acontecer a fazia se sentir insegura, e alguns pressentimentos obscuros a perturbavam a todo instante."



Pra mim foi diferente ler esse romance, porque as situações se prolongam muito. Senti, em alguns momentos, que eles andavam em círculos e nada acontecia no relacionamento, mas através das ações dos personagens eu fui compreendendo os costumes da época e como as pessoas se portavam nas mais diversas situações. No começo eu não gostava do Maurice, por ele aparentar ser apenas um conquistador que iria magoá-la e eu já tinha pegado muita empatia pela Vic, mas ao longo da história fui gostando mais e acabei que entendi o lado dele em algumas situações, embora fosse bem difícil ver como Vic sofreu, toda a angústia dela, enquanto os dois não tomavam um rumo. 

Gostei bastante da história. Tem muito drama, com cenas bem escritas e muito ciúmes; tem um romance que é quase impossível, pela questão das classes sociais; tem brigas sensacionais; entendemos como funcionava cortejar uma moça, sendo bem engraçado ler essas cenas, porque às vezes eles falavam da mulher como se ela não estivesse ali. Enfim, é um romance fofo, com momentos intensos e sensuais, mesmo que isso não seja o foco, e é escrito de forma muito completa, fazendo o leitor se sentir naquela época. 

Mas e o casal, então, fica junto? Ah, só lendo para descobrir.







 

Livro: A Dama das Lavandas
Cortesia: Anne Valerry (Autora Parceira)
Número de páginas: 458
Skoo
Onde comprar: Amazon

Victoire Martinet mora com Augustine, a tia solteirona, e Amélie, a empregada desastrada, em Provence, onde vivem do plantio de lavandas. Vic cria a fórmula de um perfume irresistível com a intenção de abalar a nobreza parisiense.
Quando o destino coloca o devasso magnata do vinho, Maurice Bourguignon, no caminho da jardinista, deixando-o fascinado pelo seu enfeitiçador cheiro de lavandas, ele lhe faz uma proposta irrecusável; endividada, ela aceita. Logo, uma atração incandescente os envolve, e mesmo Maurice sendo noivo da bilionária Marcelle Blanche, não deixa de tentar seduzi-la. Mas Vic não quer somente uma noite de luxúria; apaixonada, ela deseja que ele lhe dê o seu coração por inteiro, mesmo sabendo que ele poderá parti-lo em pedaços. Será que valerá a pena amar assim?



Postar um comentário

Licença Creative Commons
O site I LOVE MY BOOKS por Silvana Sartori está licenciado com uma Licença
Creative Commons Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional.
Por isso, qualquer contéudo aqui presente como resenhas, fotos e Colunas publicadas são exclusividade. RESPEITE e NÃO COPIE, pois PLÁGIO é CRIME!


Instagram

I Love My Books - Blog Literário . Berenica Designs.