Resenha - Agente Charlotte

03 junho 2021
 

Charlotte é uma agente da polícia, arrisca constantemente sua vida para perseguir bandidos e combater organizações criminosas que estão prejudicando sua cidade. Por conta de sua vida atarefada, está sempre atrás de algum caso, ela não tem muito tempo para se relacionar com outras pessoas ou curtir a vida. 

Com trinta anos, já se habituou a isso e ama o que faz, mas as coisas começam a mudar quando David é designado para ser seu novo parceiro de trabalho, ao mesmo tempo que ela conhece outra pessoa e também precisa lidar com um garotinho que começa a frequentar a casa onde ela mora com a avó.

Assim, a história se desenrola no círculo de pessoas que rondam Charlotte e sua vida na polícia, já que o próximo crime a ser combatido pode estar mais perto do que nós e ela imaginamos.


"Eu brinquei com a sua cabeça, deixei pensar que tinha um espião na sua delegacia. Estava sempre um passo a frente de você. Quem você acha que avisou aos traficantes sobre você e seu colega?"




[- Minhas Impressões -]


"Agente Charlotte"
é um livro extremamente curto, de leitura rápida e instigante. É narrado em primeira pessoa pela Charlotte e essa narração se mescla com diálogos curtos, o que favorece ainda mais a fluidez dos capítulos, também não muito longos. A escrita da Helô é direta, sem termos técnicos e boa de absorver, mas a trama contém muitos momentos tensos.

Já começamos com o título curioso do primeiro capítulo: "um tiro no telhado". A partir disso, entramos na história já em uma cena de ação que mostra Charlotte fazendo o que sabe de melhor e partindo para cima dos seus alvos sem medo. Ela escolheu ser policial federal após algumas coisas em sua vida não caminharem para onde esperava, o que deixou sua avó apreensiva, pois a irmã de Charlotte também está nesse ramo pergisoso e as duas não temem nada.

O livro não possui muitas descrições ou aprofundamentos das cenas. Os crimes e momentos de perseguições ou quando se fala nos casos não são explicados totalmente, apenas de forma geral e logo se passa para outro caso. No começo, achei que isso era um problema, porque não estava conseguindo entender qual era o foco, mas logo isso se resolveu e o caso principal ficou claro. Apesar de poderem ser mais demoradas, entendi que essas cenas de crime eram mais um plano de fundo para conhecermos Charlotte.

Ela é uma mulher muito inteligente e isso é perceptível quando um caso é solucionado de forma muito rápida, pois depois ela nos apresenta sua linha de raciocínio e tudo fica claro. Gostei bastante da personagem e achei ela muito forte por tudo que passou e que ainda tem que lidar.
 

"Ser mulher na Polícia Federal não é algo fácil. Porque mesmo sem te conhecerem, já te subestimam, acham que você não é capaz ou forto o bastante. É preciso, portanto, ir além do que qualquer outro homem já foi para ser reconhecida, ou ao menos respeitada."


Quando David é inserido na história, temos um personagem brincalhão, mas ao mesmo tempo traumatizado com um acontecimento com seu antigo parceiro. Os momentos dele com Charlotte são engraçados, embora no começo ela se irrite fácil com ele por não estar habituada a ter alguém tão próximo e com quem ela precisa dividir seus pensamentos sobre as ocorrências.

No desenvolvimento, vemos mais pessoas se inserindo na vida de nossa protagonista e a forma como ela lida com isso, já que sempre viveu muito sozinha, tendo só sua avó e pouca aproximação com a irmã. Em um certo momento, sua avó a convida para ir até a Igreja e, por algum motivo, Charlotte aceita.

A abordagem da fé foi algo que me surpreendeu muito nesse livro, pois imaginei de tudo menos isso. Pensei que fosse falar de um único crime, uma única missão, mas foram vários e a verdadeira história, para mim, era a vida de Charlotte, seu jeito de viver. 


Então assim que foi apresentada a religião Evangélica fiquei um pouco com um pé atrás, mas a narradora desmistificou toda a questão conservadora que geralmente evolve esse seguimento religioso, mostrando um local de afeto e refúgio, não importa para quem. Esse deveria ser o objetivo de qualquer religião, mas sabemos que não é bem assim.

Lá ela conhece Igor e então mais um passo em sua vida social é dado, porém, junto com isso, surge a suspeita de que alguém de dentro da polícia está vazando segredos de um caso muito importante. Então Charlotte começa a desconfiar de todos, inclusive de seu parceiro de trabalho e, depois, de Igor.

Ele parece ser o cara perfeito e isso deixa ela muito insegura, sempre se perguntando se é ou não o suficiente para ele, se ele a acha bonita. 

Aqui temos uma dualidade na personalidade dela: em seu trabalho, é uma policial segura de si e sem medo, mas na sua vida pessoal é como se trocasse de lugar com uma Charlotte tímida e sem muita autoestima. Também vemos a abordagem do racismo e xenofobia, devido aos personagens Charlotte e Igor serem, respectivamente, negra e chinês, de forma cotidiana, o que é muito triste.


"Own... A durona da Polícia Federal está se sentindo insegura? Tem um coração de manteiga por baixo desse colete à prova de balas, tem?"


Embora sem muitas certezas, ela tenta começar um relacionamento. Achei precipitado e rápido como as coisas fluíram entre eles, pois quase não sabiam nada um do outro, mas na vida real o que mais se repete são amores a primeira vista. Enquanto isso, Charlotte segue sua outra vida investigando e tentando descobrir quem é o informante que está entre eles, ao mesmo tempo que também se sente na obrigação de proteger Isaque, o menino que é amigo de sua avó, por causa do que aconteceu ao irmão dele em uma das missões dela.


O livro me surpreendeu de várias formas, pois todas as teorias que fui criando enquanto lia, sobre os personagens, eram refutadas seguidamente e não consegui, de forma alguma, pensar no final que teve, ficando de olhos arregalados quando os fatos se conectaram. Aconteceu uma virada no rumo que foi bem drástica e grandiosa, elevando a tensão que vinha sendo construída em cima da busca pela pessoa que estava vazando tudo.


"Sabe a sensação de que mesmo fazendo tudo certo, você ainda se sente errado de alguma forma? Se eu soubesse o tamanho do meu erro, teria terminado esse caso bem mais cedo."


Além disso, achei muito importante a humanização do policial nesse livro. Mostrar que eles se abalam com as mortes, de parceiros ou não, é algo fundamental para a conscientização de que policiais sentem exatamente o que sentimos, eles só estão mais preparados para esconder isso do mundo exterior, mas dentro de si as marcas ficam e continuam doendo.

Gostei bastante de tudo, ainda mais por ser um livro curto. Mesmo assim, a única ressalva que tenho é sobre as cenas de ação serem rápidas demais, quase fica difícil visualizar tudo ou acompanhar o que está acontecendo. Precisei ler devagar, assim fui assimilando tudo, mas seria ótimo se esse ritmo rápido se intercalasse com momentos calmos e lentos, com mais descrições, para causar mais emoção. Isso não é algo extremamente necessário, o livro passa bem tudo que acontece e muitas cenas são dignas de velozes e furiosos ou jogos de videogame, o que achei muito legal.







 


Livro:
Agente Charlotte
Cortesia: Helena Grillo (Autora Parceira)
Número de páginas: 100
Skoob / Amazon 

Como muitas brasileiras na faixa dos 30 anos, Charlotte curte pizza, ver séries na Netflix, e é claro, prender traficantes de armas, contrabandistas e políticos corruptos.


Se você gosta que a sua leitura tire seu fôlego, leia esse livro.






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