Que todos foram afetados pela pandemia já sabemos, e é nesses momentos mais tensos e intensos como este que a gente aprende e acha uma nova maneira de se adaptar, e as vezes escrever é o que dá aquela sensação de eu vivi isso daqui, e sobrevive. E é nessa nostalgia que a autora Graziela Barduco, atriz e mestre em arte da cena nos presenteia com o livro SUTIL LEVEZA, que traz poemas envolventes e intensos, que fazem parte da sua vida assim como o sangue que corre em suas veias.
Gostei batente de ver que o livro é separado em quatro partes, essas quatro partes representam fases diferentes da vida da autora, e cada fase complementa a outra, cada uma é necessária para o desenvolvimento da outra. Assim é a vida né? (risos)
“Passei por aqui quase sempre calada
Por anos e anos assim eu segui
E quando externei tudo o que eu senti
Nem sei lhe dizer de então fui amada
Confesso, sem fé, pela beira da estrada
Que sinto o desprezo rasgar a minha calma
Com a dor engasgando de vez o meu peito
Já cega, sonhando com um mundo perfeito
Arranco meu peso e estilhaço na palma.”
No segundo capítulo onde ela traz poemas mais leves pude sentir a esperança se apoderar de meus sentimentos, e acredito que essa tenha sido a intensão da autora, nos mostrar que tudo é possível mesmo que pareça que não. E também não deixou de apresentar sua bela homenagem a Cora Coralina que fez parte da sua vida.
“ Com as mazelas desta vida
Mergulhei-me em poesia
Desta forma eu renascia
Ao sentir-me refletida
E na busca destemida
Conheci, ainda menina
Uma escrita que fascina
Pois depois de tal instante
Sinto a alma em mim pulsante
Ao ler Cora Coralina.”
Quando cheguei na terceira parte senti a mudança dos poemas, mais intensos, e também não pude deixar de sentir a dor que ela representa em seus poemas, onde ela expõe o estupro, depressão, assédio, exploração, ansiedade, e tudo aquilo que nos rouba a alegria de viver, e podemos sentir que são desabafos da autora e seu ato de apoio e de rebeldia em cima de quem causa mal a outro ser humano por pura e simples diversão. Aqui você vai precisar estar preparado para encarar a dureza da vida.
“ A tristeza é destemida
Ao pensar na situação
Dói no peito, a ferida
Desespero e opressão
Ao pensar que em nossa vida
O respeito é exceção
Mariana é humilhada
A violência só se arrasta
Sua vida é estraçalhada
Minha alma aqui desgasta
Ao gritar, desesperada
Desejando dar um basta.”
Não tem como não se sentir apreensiva em ver tantas verdades em poemas tão certeiros em mostrar a falta de respeito e a dor de ser violado, tanto fisicamente quanto mentalmente.
Já na quarta e última parte pude acompanhar o amadurecimento da própria autora, e ela nos mostra como é ser uma mulher que já passou por tantas e ainda assim conseguiu extrair o melhor, os poemas dessa última parte são iluminados, a autora consegue nos prender em cada nova página, cada nova rima, é maravilhoso poder ver essa nova mulher transmitido no livro seus melhores e piores momentos. Uma leitura incrível!
“ Sou infinita, sou muitas, sou tantas, que nem cabem em mim!
Sou sabor, sou dor, sou desespero que se exacerba, enfim...
E quando penso que tudo se esgota,
Quando sinto que a essência desbota,
Um mar de doces possibilidades me tira do pranto.
E eu, transbordando, inundada, vou nadando pra outro canto.”
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