Resenha - Sutil Leveza

24 outubro 2022



Que todos foram afetados pela pandemia já sabemos, e é nesses momentos mais tensos e intensos como este que a gente aprende e acha uma nova maneira de se adaptar, e as vezes escrever é o que dá aquela sensação de eu vivi isso daqui, e sobrevive. E é nessa nostalgia que a autora Graziela Barduco, atriz e mestre em arte da cena nos presenteia com o livro SUTIL LEVEZA, que traz poemas envolventes e intensos, que fazem parte da sua vida assim como o sangue que corre em suas veias.

Gostei batente de ver que o livro é separado em quatro partes, essas quatro partes representam fases diferentes da vida da autora, e cada fase complementa a outra, cada uma é necessária para o desenvolvimento da outra. Assim é a vida né? (risos)


“Passei por aqui quase sempre calada 

Por anos e anos assim eu segui 

E quando externei tudo o que eu senti 

Nem sei lhe dizer de então fui amada 

Confesso, sem fé, pela beira da estrada 

Que sinto o desprezo rasgar a minha calma 

Com a dor engasgando de vez o meu peito

Já cega, sonhando com um mundo perfeito 

Arranco meu peso e estilhaço na palma.”



No segundo capítulo  onde ela traz poemas mais leves pude sentir a esperança se apoderar de meus sentimentos, e acredito que essa tenha sido a intensão da autora, nos mostrar que tudo é possível mesmo que pareça que não. E também não deixou de apresentar sua bela homenagem a Cora Coralina que fez parte da sua vida. 


“ Com as mazelas desta vida

Mergulhei-me em poesia 

Desta forma eu renascia 

Ao sentir-me refletida 

E na busca destemida 

Conheci, ainda menina 

Uma escrita que fascina 

Pois depois de tal instante 

Sinto a alma em mim pulsante 

Ao ler Cora Coralina.”





Quando cheguei na terceira parte senti a mudança dos poemas, mais intensos, e também não pude deixar de sentir a dor que ela representa em seus poemas, onde ela expõe o estupro, depressão, assédio, exploração, ansiedade, e tudo aquilo que nos rouba a alegria de viver, e podemos sentir que são desabafos da autora e seu ato de apoio e de rebeldia em cima de quem causa mal a outro ser humano por pura e simples diversão. Aqui você vai precisar estar preparado para encarar a dureza da vida. 



“ A tristeza é destemida 

Ao pensar na situação 

Dói no peito, a ferida 

Desespero e opressão 

Ao pensar que em nossa vida 

O respeito é exceção 

Mariana é humilhada 

A violência só se arrasta 

Sua vida é estraçalhada 

Minha alma aqui desgasta 

Ao gritar, desesperada 

Desejando dar um basta.”



Não tem como não se sentir apreensiva em ver tantas verdades em poemas tão certeiros em mostrar a falta de respeito e a dor de ser violado, tanto fisicamente quanto mentalmente.


Já na quarta e última parte pude acompanhar o amadurecimento da própria autora, e ela nos mostra como é ser uma mulher que já passou por tantas e ainda assim conseguiu extrair o melhor, os poemas dessa última parte são iluminados, a autora consegue nos prender em cada nova página, cada nova rima, é maravilhoso poder ver essa nova mulher transmitido no livro seus melhores e piores momentos. Uma leitura incrível!




“ Sou infinita, sou muitas, sou tantas, que nem cabem em mim!

Sou sabor, sou dor, sou desespero que se exacerba, enfim...

E quando penso que tudo se esgota,

Quando sinto que a essência desbota,

Um mar de doces possibilidades me tira do pranto.

E eu, transbordando, inundada, vou nadando pra outro canto.”




Escrito pela colaboradora Joseli Medeiros

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