Resenha - A Filha Primitiva

01 dezembro 2021

 


Um livro que poderia estar falando de qualquer uma de nós, com tristezas, provações e muitas dores na alma. O livro é dividido em três partes: filha, mãe e vó.

Logo na primeira parte teremos a filha relatando a experiência dela com uma gravidez indesejada, a qual a faz sofrer muito e que acaba gerando uma antipatia dela para com a bebê que ela mesmo chama de menina depois do nascimento, ela não quer desistir dos seus estudos pois acredita que seja a sua única saída para se fortalecer e sair daquela zona de conforto ao qual ela está inserida.

A segunda parte temos os relatos da mãe da menina que relata as dores dela tanto físicas como emocionais que a geração de uma criança lhe acarretou, ela mostra todo o ódio que sente pela situação e ela está tão estressada que acaba descontando em sua própria mãe, a vó da menina, a mãe da menina insiste em querer saber quem é seu pai, e porque a sua mãe não quer falar sobre o assunto e também tenta com as vizinhas saber mais de sua mãe. Mas as vizinhas também não lhe entregam informação alguma, apenas relatam a luta da avó para criar sua filha e sua neta, lutando para que elas estudem e tenham oportunidades que a ela foram negadas.


A terceira parte é a vó da menina que acaba sendo encurralada pela filha, e em uma dolorosa revelação ela acaba contando a filha quem é seu pai e porquê que ela não gosta de falar no assunto. E acaba revelando um ciclo vicioso em que a sociedade vive. Onde homens acham que mulheres devem lhe servirem e nada mais.

A mãe da menina também relata abusos em que ela sofreu quando ela ia junto com a vó da menina trabalhar em casas de família, ela sendo apenas uma menina acabava ficando à mercê de homens perversos e doentios. Muitas das vezes a vó apareciam e lhe salvavam de passar por momentos dolorosos, mas em outras vezes isso não acontecia.


Acumulando mais traumas em uma menina já traumatizada. Dentro de uma narrativa difícil a autora traz uma realidade triste e dolorosa, onde ela explora o abuso, o racismo, maternidade, fé e oportunidades. E cada um desses fatores contribui para que a vida de mulheres seja dificultada e desvalorizada.

A autora usa uma dinâmica de não dar nomes para as personagens, o que num primeiro momento pode parecer estranho e de difícil leitura, mas logo percebemos que na verdade ela não deu nome, pois ela quer representar todas as mulheres já que os fatos contados na história é a realidade de muitas mulheres nesse mundo a fora.

A vó tenta suprir o desprezo da mãe da menina com a neta, já que a mãe não consegue superar todos os traumas que ela já viveu, e sua raiva com a própria mãe é o mais doloroso de acompanhar, pois ver uma filha culpar uma mãe que fez de tudo para dar o melhor que pôde é de uma revolta, mas também entendemos que o psicológico dela tem suas próprias mágoas. Causando um desconforto em todas as envolvidas.

É uma leitura difícil de digerir pois aceitar que nós mulheres estamos à mercê de uma sociedade que nos condena por estilo de roupas, de maquiagem e de comportamento, quando deveria punir quem pratica atos de desrespeito, estrupo e racismo. Um livro que relata toda a perversidade e maldade humana.

A autora teve uma difícil missão de relatar a vida dessas três mulheres que representa, o medo e a superação de todas as outras. Uma leitura realística, e necessária.









 

Livro: A Filha Primitiva
Cortesia: Vanessa Passos (Autora Parceira)
Número de páginas:  76


Um história de amor e ódio, violência e redenção. Ambientada em Fortaleza, A filha primitiva traz luz e sombra para uma geração de mulheres: avó, mãe e filha – unidas pela dor e pelo abandono, separadas pela fé, pelo ceticismo e pelos segredos que guardam. Uma avó negra que esconde quem é o pai da filha. Uma mãe branca que escreve para preencher as lacunas de sua vida e rejeita a maternidade. Um filha que recebe a raiva de mãe para filha e já nasce sentindo a dor de ser mulher. Uma ficção imersa numa crueza de linguagem e calcada no real que transforma uma história de ancestralidade em grande literatura.



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