Em Casas é uma coletânea de contos que busca chegar o mais próximo possível da realidade vivenciada pela humanidade com a pandemia, ocasionada pelo aparecimento do vírus da Covid-19. Os encontros e desencontros de cada conto nos permite um pequeno vislumbre do que a população enfrentou em seus lares e relacionamentos com o surgimento desse vírus maldito e ainda que se trate de uma obra de ficção, acredito que se assemelhe bastante com a realidade de milhões de brasileiros espalhados pelo mundo. No primeiro conto conhecemos Marisol, uma jovem que tenta assimilar e se acostumar com a estranheza de ruas desertas, comércios fechados e lembranças de bons momentos passados na sorveteria preferida.
"Para alguém que vivia sozinha desde que se mudara para a capital, há dois anos, Mari estava habituada à solidão. Entretanto, era diferente ter a opção de encontrar algumas amigas que moravam aqui em um barzinho qualquer, ou frequentar aos fins de semana as festas indie de que tanto gostava."
Além da solidão imposta pela pandemia, Marisol está passando por problemas amorosos, o que torna tudo ainda mais difícil de suportar, mas sua vida acaba ganhando um pouco mais de cor e entusiasmo quando ela escuta o som alto de um violão no apartamento do vizinho Teo e eles passam a interagir de fato.
"--Você é um cara legal, Teo. Não sei porque a gente nunca trocou uma ideia." "-- Nem eu! Talvez porque nos dias normais nunca tínhamos tempo de olhar um na cara do outro além de dar bom dia, né?" "-- Pode ser. É isso, na real."
O segundo conto traz como protagonista o casal de idosos Rui e Ruth e o amor gigantesco que sentem um pelo outro.
"Ele, 90. Ela. 86. Juntos, 65 anos de uma vida em parceria." "Quatro filhos, nove netos, cinco bisnetos até o momento." "Rui e Ruth não sabiam dizer como era a vida sem um estar ao lado do outro."
A história deles é com certeza uma das mais belas e emocionantes entre tantas histórias maravilhosas que há na coletânea. Esse conto toca fundo na gente, pois fala de amor, querer estar junto de quem se ama, arrependimentos, filhos, família e escolhas, além de provocar grandes e profundas reflexões em nós.
Bem pessoal, já deu para perceber que emoção é o que não falta nas histórias, né? E tenham a certeza de que tem muito mais esperando por vocês nos contos de Rodolfo, Ligya, Júnior, Clara, Paula e Arthur, Emérito, Amanda e Fernando, Michele, Zeca, Jefferson, Luana, João, Heloísa, Claudemir, Nathalia, Ângela, Mayara e Vitor, Miguel, Danilo, Gael, Heitor, Leila e Jessé e por último, mas não menos importante, Eleanor.
[-Minhas Impressões-]
Ler a coletânea teve um significado muito importante para mim, pois me deu a oportunidade de "enxergar" como que as pessoas lidaram com o vírus dentro de suas casas, em seus relacionamentos e o sofrimento ocasionado pela perda de um ente querido. Todos nós vivenciamos a pandemia e todos nós temos histórias para contar a respeito, mas os contos escritos pelo autor são a síntese perfeita do que aconteceu nos anos de 2020 e 2021 nas casas do brasileiros.
A covid-19 ceifou a vida de pais, filhos, maridos, mulheres, amigos, avós e netos e acabou com os sonhos de milhares de pessoas por todo o Brasil. O isolamento forçado nos fez prestar atenção ao nosso entorno, às pessoas que estão ao nosso lado e o quanto elas são importantes para nós.
O livro é um puxão de orelha bem dado para que valorizemos mais a nossa família e os nossos amigos e deixemos um pouco de lado os telefones celulares e o mundo virtual.
A escrita do autor é de uma sensibilidade tocante e ao término de cada conto é quase certo que estejamos com os olhos marejados d'água, devido a grande carga emocional despendida nas histórias e personagens.
A leitura dos contos nos leva de volta ao passado recente, bem como ao cenário político da época, sendo possível identificar as críticas ao governo e as atitudes que foram tomadas e postas em ação para lidar com o vírus e a pandemia. Cada conto evoca em nós lembranças e sentimentos de um tempo que jamais vamos esquecer e a reflexão acontece justamente para que sejamos pessoas melhores com aqueles que amamos e temos a benção de ter ao nosso lado e também com o próximo.
Em Casas: contos, encontros e desencontros é um lembrete fidedigno de um dos piores períodos enfrentados pela humanidade e não pode e nem deve ser encarado com leviandade, portanto, trata-se de uma leitura oportunamente necessária a todos nós.
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