No limite da Obediência traz três contos com enredos totalmente diferentes entre si, mas iguais na mensagem final de cada um, pois o que está em jogo para os personagens é sua própria liberdade. O primeiro conto é "Os Guardiões da Floresta" e tem como protagonistas os irmãos indígenas Runa e Ticó, que são vistos pelo próprio pai e cacique da tribo como uma vergonha, pois seu maior desejo sempre foi de que seu primeiro filho ficasse em seu lugar quando se tornasse adulto, mas seus planos são frustrados quando nasce uma menina ao invés de um menino.
"Enquanto todos comemoravam o nascimento de uma vida, o cacique, amargurado, esperava em sua casa, pensando que só dali a dez meses ou mais teria a chance de ter um herdeiro digno -- e não algo frágil como uma mulher."
O nascimento do segundo filho deixa o cacique exultante, pois ele finalmente consegue o filho homem que sempre quis, só que aos olhos do pai, o menino é fraco, portanto, não serve para substituí-lo quando o momento chegar, sendo assim, Ticó recebe o mesmo tratamento que a irmã e ambos são desprezados pelo próprio pai. Mas quando suas vidas são colocadas em perigo, os irmãos se unem e vão em busca de conhecimento, aprendizado e salvação que só os Guardiões podem lhes oferecer, para que assim possam retornar à tribo e provar ao desalmado pai o quão valorosos são.
"... não há vergonha nenhuma em assumir uma fraqueza! Se você pretende ser cacique um dia, ou seja lá o que você quer ser, tem que saber entender as pessoas, tem que ter compaixão!"
O segundo conto é "Os Sabotadores"e nele conheceremos Nico, um comerciante muito esperto que possui uma mochila mágica capaz de resolver todo e qualquer problema, mas, ao chegar a uma vila acompanhado de Burrinho, seu fiel amigo, eles percebem que algo muito estranho está acontecendo com os moradores, pois todos possuem corcundas chamativas, assim como uma profunda tristeza.
"-- Esta é a vila dos Sabotadores, e andamos curvados por causa desses monstros malignos! Como você pode ver, ficam sobre nossas costas doloridas... E nós? Quem somos nós? Os oizus... O povo mais azarado que você vai conhecer -- e que continuemos assim!"
Nico parece ser o único disposto a descobrir a verdade sobre os Sabotadores e devolver a alegria, otimismo e sorte aos Oizus, só que tem alguém que vai fazer de tudo para impedi-lo de conseguir o que deseja.
O terceiro e último conto é "O Patinho Diferente" e conta a história de uma mamãe pata que acaba chocando um ovo diferente quando percebe que um de seus patinhos não se parece em nada com os outros. Ele acaba sofrendo muita discriminação e isso o faz partir em busca de sua verdadeira mãe.
"Estava desolado: se sentindo sozinho, diferente, esquisito... Como se não pertencesse a lugar algum. Ficou ali, olhando seu reflexo nas águas cristalinas do lago."
[- Minhas impressões -]
Os contos são verdadeiros presentes do autor para nós, leitores. Foi essa a percepção que tive ao ler as histórias e me deparar com tamanha sensibilidade, criatividade e imaginação do Glauber. Os personagens têm muito a nos ensinar e através deles é possível resgatarmos sentimentos e aprendizados que porventura tenhamos esquecido ao longo do caminho de nossas vidas. Afinal de contas, quem de nós pode afirmar com 100% de certeza que em algum momento da vida não se esqueceu de coisas que foram ensinadas lá atrás? Eu com certeza não posso afirmar. As tramas e personagens são completamente diferentes, mas todos prezam pela liberdade e pelo direito de ser quem se é, sem se moldar ao que os outros esperam e desejam que sejamos.
Runa e Ticó de "Os Guardiões da Floresta" não aceitaram que o pai os menosprezassem por ela ser uma menina e ele ser considerado fraco. Nico de "Os Sabotadores" não sossegou enquanto não conseguiu fazer com que os moradores da vila abrissem os olhos e percebessem que não era certo se conformar com a tristeza e ser igual a todo mundo. Assim como aconteceu em "O Patinho Diferente" que sabia ser diferente dos demais e foi em busca de si mesmo. Quantos de nós não vivemos assim? Quantas pessoas vivem debaixo de uma obediência sem contestar? E até onde vai esse limite?
Esses são alguns dos alertas que o autor faz no decorrer da leitura de forma responsável e cuidadosa, através de personagens carismáticos, doces e inspiradores. Me encantei por cada um deles e me emocionei bastante com a mensagem de cada conto, assim como com a escrita do autor e a construção de cada história, e foi com um grande prazer que li cada uma delas. Por isso, não poderia deixar passar a oportunidade de convidar você a ler No Limite da Obediência e tirar suas próprias conclusões de cada conto e da obra em si.
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