Resenha - Vulgo Grace

28 abril 2020


Título: Vulgo Grace
Autora: Margaret Atwood
N° de páginas: 470
Cortesia: Editora Rocco
Skoob
Onde comprar: Amazon / Saraiva
Depois de O conto da aia, que deu origem à prestigiada série The handmaid’s tale e alcançou o status de bestseller mais de 30 anos após a publicação original, outro romance de Margaret Atwood vai ganhar as telas, desta vez pela Netflix, e volta às prateleiras com nova capa pela Rocco. Inspirado num caso real, Vulgo Grace conta a trajetória de Grace Marks, uma criada condenada à prisão perpétua por ter ajudado a assassinar o patrão e a governanta da casa onde trabalhava, na Toronto do século XIX. Com uma narrativa repleta de sutilezas que revelam um pouco da personalidade e do passado da personagem, estimulando o leitor a formar sua própria opinião sobre ela, Atwood guarda as respostas definitivas para o fim. Afinal, o que teria levado Grace Marks a cometer o crime? Ou será que ela estaria sendo vitima de uma injustiça?



Vulgo Grace tem início contando sobre a  difícil e sofrida vida da protagonista, Grace Marks, ainda criança. Sendo a filha mais velha de um casal muito pobre e com muitos filhos, eles partem em busca de uma vida melhor em outro país. A viagem de navio dura alguns meses e, nesse meio tempo, a mãe de Grace acaba falecendo, deixando ela e seus irmãos órfãos.

Seu pai é um homem muito violento que só sabe beber e amaldiçoar a vida desgraçada que leva. Alcoólatra e agressivo, ele nem ao menos sente a perda da esposa, e assim que se estabelece com os filhos, ele deixa claro que Grace, então com doze anos, será a responsável pelo sustento da família.

A menina vai trabalhar como criada na casa de uma família rica e abastada e lá conhece Mary Whitney, uma menina um pouco mais velha do que ela própria e as duas se tornam melhores amigas.
O tempo passa, Grace já não mantém mais nenhum tipo de contato com o pai e os irmãos, e nem ao menos sabe o que aconteceu com eles, pois todos foram embora da casa em que moravam e partiram para um lugar desconhecido para ela.

Grace é feliz na medida do possível e se diverte muito com sua amiga, Mary Whitney, que a aconselha sobre os homens e como se defender deles. Mas então, algo terrível acontece com Mary e logo em seguida ao choque, coisas estranhas acontecem com Grace, que não vê outra saída a não ser ir embora.

Após trabalhar em algumas casas como criada,  ela conhece Nancy, que a chama para trabalhar na casa em que é governanta e, ao aceitar o convite mal sabe Grace o quanto sua vida está prestes a mudar para sempre.

A casa na qual Grace vai trabalhar pertence ao senhor Kinnear, um homem solteiro e de meia idade e que tempos depois é assassinado covardemente. Grace então com dezesseis anos recém completados é presa e acusada de ajudar o criado, James McDermott, a assassinar a sangue frio Nancy, por sentir inveja e ódio da governanta. A partir desse momento sua vida se transforma em um verdadeiro inferno, e características no mínimo peculiares do comportamento de Grace vêm à tona, revelando aspectos sombrios e misteriosos de seu interior.

" A beleza de Grace me fez interessar-me por ela, e, embora houvesse alguma coisa a respeito da jovem que não me agradava, eu era um sujeito muito dissipado, desregrado e, se uma mulher era jovem e bonita, eu pouco me importava com seu caráter. Grace era mal-humorada e orgulhosa e não era muito fácil de agradar; mas, para conquistá-la, se possível, eu dei ouvidos a todas as suas queixas e insatisfações. James McDermott "

A seu lado, Grace tem um pequeno grupo de pessoas que acreditam em sua inocência e lutam por sua liberdade. Grace passa a contar com o interesse de Simon Jordan, um médico muito interessado em conhecer sua mente e os segredos que ela esconde. Será Grace uma assassina fria e calculista?
Venham ler e tirar suas próprias conclusões.

" É 1851. Farei vinte e quatro anos no meu próximo aniversário. Estou trancada aqui desde os dezesseis. Sou uma prisioneira exemplar e não dou nenhum trabalho. É o que diz a mulher do governador do presídio, eu a ouvi afirmar isso."



[- Minhas Impressões-]

A vontade de ler "Vulgo Grace" é um desejo antigo de minha parte, então quando eu enfim consegui ler o livro fiquei em êxtase, pois a história envolve e insere o leitor na trama de um jeito contagiante.

A protagonista rouba a cena o tempo todo e deixa o leitor confuso boa parte do tempo e sem saber o que é de fato verdade ou mentira em seu comportamento. A vida de Grace sempre foi difícil e automaticamente rola uma empatia muito grande por ela e desde o começo ela passou por muitas dificuldades e perdas, principalmente a perda de sua mãe e, mais tarde, outra grande perda se junta a essa, que determinam momentos cruciais em sua vida.

A autora faz com que simpatizemos instantaneamente por Grace e que torçamos muito por ela. Mas a medida que alguns fatos surgem na história, aspectos do personagem e suas características confundem o leitor no sentido de não saber se Grace é realmente culpada ou inocente do crime pelo qual foi presa e condenada à prisão perpétua. Afinal, ela era somente uma menina quando o crime foi cometido e na maioria das vezes, Grace sempre é retratada como uma boa moça e incapaz de cometer atos violentos e por isso mesmo que é tão surreal para quem está lendo acreditar que Grace seja uma pessoa tão ardilosa e duas caras, como James McDermott a faz parecer em seu depoimento.


O mistério também se faz presente em várias situações ao longo da leitura e contribui para deixar o leitor ainda mais enredado pela trama e até com um pouco de medo, já que algo muito sinistro acontece com Grace, e se repete ao longo da leitura.

Grace me confundiu muitas vezes por conta de seu ar doce e ingênuo, mas bem lá no fundo do meu coração eu sempre acreditei que ela realmente ajudou a matar a governanta por que quis, pura e simplesmente. E como a sinopse bem diz, a protagonista é realmente um enigma bastante difícil de ser desvendado, e a narrativa em si incentiva o leitor a formar sua própria opinião sobre a mesma, o que eu achei muito legal e encarei como um desafio por parte da autora.

Diante de tudo o que li cheguei a conclusão de que por trás do olhar doce e ingênuo de Grace Marks se esconde uma mente ardilosa e muito inteligente, que age de acordo com seus próprios interesses.

Eu gostei muito da leitura, e fiquei completamente encantada pela capa, pois ela chama a atenção para a história e cativa o leitor.

Vulgo Grace é uma leitura que eu super recomendo para os fãs da sagacidade de Margaret Atwood e que adoram um desafio.

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