Resenha - Troncos e Barrancos

01 novembro 2023


O livro conta a história de Anahí, uma jovem totalmente oprimida por um pai tirânico, moralista e agressivo, que não permite que as mulheres da casa tenham voz e muito menos expressem seus sentimentos. Criada em um lar violento, com uma mãe submissa e um irmão mais novo seguindo os passos do pai, a jovem protagonista não tem muitas perspectivas de felicidade até que ela conhece Zion, o belo e jovem mágico do circo que está se apresentando em sua cidade e os olhares de ambos se atraem quando Anahí é convidada a participar de um número por ser considerada a moça mais bonita presente ao espetáculo. 
Desse dia em diante eles se aproximam cada vez mais e acabam se apaixonando perdidamente, passando a se encontrar escondidos do pai de Anahí.


"Os encantos pela aprazível felicidade que invadia a vida de Anahí, de vez em quando, eram tomados por pressentimentos de profunda tristeza. O medo consciente de mais cedo ou mais tarde ter que despertar da história de amor que estava vivenciando, ameaçada pela inabilidade em esconder suas emoções, levava Anahí a sabotar seus pensamentos dominados por Zion."


Os encontros sempre às escondidas é descoberto por Itagiba, pai de Anahí, que a proíbe de voltar a se encontrar novamente com Zion por considerá-lo um vagabundo, só porque ele é artista de circo e não tem dinheiro, escancarando todo seu preconceito e sua total falta de preocupação com os sentimentos da filha.
 

"--Você está enfeitiçada por esse cafajeste. Está proibida de encontrar esse sujeito -- bradou Itagiba colérico."


A história familiar de Zion e Anahí se assemelha na violência e agressividade proveniente de seus lares, todavia, Zion teve a mãe covardemente assassinada pelo padrasto alcoólatra, deixando-o órfão juntamente com seus dois irmãos mais novos.


"Não fosse a cegueira e fraqueza da paixão, ela não teria sido assassinada na minha frente. Escapamos vivos por ele estar embriagado."


O casal apaixonado é separado da pior maneira possível, pois assim como aconteceu com sua mãe, Zion é covardemente assassinado na noite do seu aniversário por Zé Maria, dono do bar da cidade sem que ninguém saiba o motivo de tal crime. Desolada com a morte de seu grande amor, Anahí é expulsa de casa pelo pai após ele ficar sabendo que ela está grávida e acaba indo viver com Araçá, sua avó paterna na humilde casa do sítio Bacurizeiro. 

O tempo passa, Anahí faz amizade com Solange e Josefina e nasce seu filho com Zion, que recebe o mesmo nome do pai. Vivendo há anos no sítio, Anahí é convidada por Josefina a trabalhar na fazenda Boqueirão e seus caminhos se cruzam com Inácio, o dono da casa e mandachuva da região, a quem todos obedecem sem pestanejar, inclusive o pai e o tio de Anahí, que acabam armando um plano para separá-la do filho e obrigá-la a se tornar amante do patrão. Só que as coisas não saem totalmente como o planejado, embora o destino de Anahí já tenha sido selado. 

Em paralelo a história de Anahí crimes ambientais estão sendo cometidos com a derrubada de inúmeras árvores a mando de Inácio, chamando a atenção da polícia ambiental, que por sua vez acaba se envolvendo na triste história de Anahí e seu filho.

 
[- Minhas impressões -]

Intensa e arrebatadora são palavras que definem bem a leitura desse livro que possui um enredo forte, impactante e até mesmo cruel em alguns momentos, e por isso mesmo tão realista. 

A história de Anahí com um pai violento e extremamente machista e uma mãe oprimida, submissa e vítima constante de agressão física e psicológica, embora se passe em uma época distante percebe-se que em muito se assemelha com os tempos de hoje, pois mesmo com o passar dos anos e com as mudanças que ocorreram ao longo do tempo, infelizmente ainda existem milhares de mulheres sofrendo violência e sendo tratadas como mercadoria ou um pedaço de carne por seus cônjuges e parceiros em pleno século XXI. 

A autora Luiza Medeiros abordou o tema sem dourar a pílula e mostrou a realidade dessas mulheres retratada na história de Anahí, Justina, Solange e Josefina, personagens fictícios de sua obra. A história de amor de Zion e Anahí é linda, extremamente tocante e impossível de a gente não se emocionar e se sensibilizar com tudo o que lhes acontece, principalmente pela maneira brutal com que eles são separados, sem que Zion tenha a menor chance de se defender. 

 A escrita da autora salta aos olhos e nos faz cativos de uma narrativa fluída que desperta no leitor o sentimento de inconformismo e choque por saber que a ficção muitas das vezes conta a realidade tal como ela é, o que com que seja difícil de digerir.

O crime ambiental é outra realidade muito bem contextualizada na história e que só fez somar à obra, contribuindo ainda mais para o clima de ação e perigo na trama, chamando atenção para uma prática totalmente criminosa e infelizmente muito comum nas florestas brasileiras, principalmente no norte do país. 

Ler Troncos e Barrancos é a certeza de que vamos nos deparar com situações que prometem sacudir-nos e tirarmo-nos totalmente de nossa zona de conforto, mas que faz-se extremamente necessário, pois trata-se de uma obra que ficará marcada por um longo período em nossas memórias, ou até mesmo permanentemente porque conteúdo é o que não lhe falta e eu convido você a conhecê-la duvido você não se encantar por ela como eu. Uma leitura mais do que recomendada!

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