Resenha - Os Seis Finalistas

30 agosto 2021



Nesse livro de ficção científica, acompanhamos a história de 24 adolescentes, pertencentes às diversas nacionalidades, que recebem a chance de fazer parte do "salvamento" da vida humana. A Terra como conhecemos já não existe mais, o ser humano usou e destruiu tudo o que pôde e a natureza revidou de forma devastadora.

Terremotos, tempestades, tsunamis e falta de alimentos estão exterminando, aos poucos, todos os habitantes. As águas tomaram conta de boa parte do mundo, portanto, não há muitos espaços para moradias ou para qualquer outra situação. E onde há, ocorre uma superlotação e, ainda assim, não é um local seguro, pois a cada dia que passa a Terra vai engolindo mais partes de continentes com água e destruição.

Para tentar evitar o extermínio, os governos e a NASA concentraram todo o poder e recursos ainda restantes em um projeto que promete ir muito além do que a viagem até a Lua. A lua que eles querem buscar agora é, na verdade, Europa, uma das luas de Júpiter. Lá, eles acham que pode ser possível construir uma habitação e, principalmente, mantê-la de forma que ela não seja destruída nas mãos dos homens.

Então os 24 adolescentes entram em ação, porém somente seis irão participar, de fato, da Missão Europa, que consiste em ir até a lua de Júpiter e começar essa nova povoação. Eles foram escolhidos por suas habilidades em diversas áreas e colocados em um treinamento intenso para ver quem é mais forte e quem é mais útil para a NASA.

Naomi é uma das escolhidas e ela sempre torceu para que isso não acontecesse. Ela tem uma família completa, eles se mudam constantemente, mas estão juntos, e seu irmão tem saúde fraca. Tudo que ela queria era ficar ao lado deles, mas, uma vez que foi selecionada, ela não tem opção de escolha. Se recusar a ordem, pode acabar presa. Enquanto isso, Leonardo está extremamente eufórico com a chance que recebeu, pois sua família inteira morreu no primeiro trágico tsunami. Assim, ele se sente útil e parte de algum plano que dá sentido à vida dele.

Quando esses dois se encontram, a conexão é imediata. Porém, não há tempo para romances, a Terra está morrendo e levando consigo todos os habitantes.


"Fico pasma ao perceber que a minha mãe acredita, de fato, nessa propaganda absurda, de que os Seis Finalistas podem sobreviver a essa fantasia absurda que chamaram de missão. E mesmo que eles - nós? - conseguissem dar um jeito de alcançar o inacreditável, eu escolheria morrer com a minha família a viver com cinco estranhos na lua de Júpiter. Mas quando olho para a esperança estampada nos rostos dos meus pais, deixo os meus protestos morrerem nos meus lábios."


[- Minhas Impressões -]

O primeiro item que eu quero ressaltar aqui, antes de partir para a avaliação ficcional do livro, é a relevância do tema abordado. Em 2021, vários países da Europa sofreram com tempestades jamais vistas, que alagaram muitas cidades, destruíram muitos lugares e mataram muitas pessoas. Tudo isso não ocorreu "do nada" ou de um dia para o outro. Tudo isso é consequência das mudanças climáticas causadas pela interferência do homem na Terra, assim como o esgotamento dos recursos naturais para o planeta se manter saudável.

Comecei a ler antes que esse fato ocorresse e me surpreendi ao perceber que a ficção que eu estava lendo, e pensando que demoraria muito para acontecer, na realidade, estava ocorrendo simultaneamente à minha leitura. É um assunto preocupante, porém é um assunto tratado com descaso. "Os Seis Finalistas" é muito mais do que leitura por prazer, é também uma forma de construir um pensamento crítico do leitor sobre esses acontecimentos e gerar preocupação. Somente uma nação preocupada pode mudar o que está acontecendo, antes que tome a proporção que tomou no livro.

Portanto, nesse livro, a Terra está somente habitável em locais altos, que ainda não foram atingidos pelas enchentes. Mas esses locais estão superlotados e pessoas com mais dinheiro conseguem viver em condições mais abrigadas. A comida é escassa e o governo não presta um grande auxílio, pois todo o foco está em retirar os humanos da Terra e inserí-los em um outro planeta. O problema é que dificilmente um planeta tem todos os requisitos para a vida humana prosperar, por isso os adolescentes foram selecionados.

Na idade deles, tudo é mais fácil: a adaptação a uma nova vida e rotina, a saúde, a longevidade e, principalmente, a resistência necessária. Europa possui muita radiação, o que mataria quem saísse da nave, então foi criada a BRR: uma vacina capaz de fazer eles imunes à radiação. Durante os dias de treinamentos intensos, que têm como objetivo a eliminação dos candidatos etapa por etapa, eles também são colocados como cobaias da vacina, para verem se eles não terão alguma rejeição.
 

Os personagens principais são Naomi e Leo. A narração é em primeira pessoa e intercalada entre os dois, às vezes com o ponto de vista dos dois sobre a mesma cena. Acho esse jogo de narração muito bom, porque não cansa em um mesmo ritmo e nos permite estar dentro do que esses dois sentem. A primeira coisa podemos perceber é a diferença de vida e ânimo deles, já que ele está eufórico e ela está triste, além de ela não entender como os outros também se sentem felizes em deixar suas famílias e ir para um local primitivo a ser explorado - e que talvez não dê certo.

Um ponto alto desse livro são as descrições. Por ser ficção científica, ele seria cheio de termos técnicos, mas isso não acontece. As descrições são facilmente visuais, simples de entender e igualmente enriquecedoras para a história. Não se torna uma leitura massante, pois não se demoram explicando muito os equipamentos e os locais, explica-se somente o necessário para nos habituarmos ao ambiente e também para entendermos como as provas acontecem.


"À medida que o doutor Takumi se lança à apresentação do corpo docente, meu desconforto dá lugar ao interesse. Esses não são professores comuns: são uma mistura de cientistas, engenheiros e ex-astronautas de todo o mundo, combinados com sargentos e tenentes do Exército dos Estados Unidos. Olhando para o corpo docente à nossa frente, fica claro que estamos num programa de treinamento militar voltado para viagens espaciais."



Em um certo ponto achei que a narrativa estava apressando demais as situações, mas ao final comecei a pensar que isso poderia ser proposital, já que eles não tem muito tempo para treinar e a Terra está colapsando cada vez mais rápido. Portanto, em alguns momentos, ele é um pouco superficial nos assuntos, mas isso não gera um problema de entendimento. Além de que foi muito legal acompanhar as fases de provas e testes.

Sendo uma competição, naturalmente irão existir rivalidades. Aqui, temos o personagem Becket, dos Estados Unidos, e ele é sobrinho do presidente e representado como: arrogante, mau-caráter, não empático e sempre querendo se sobrepôr aos outros, nem que seja de forma ilegal. Isso não passou batido por mim pois achei uma crítica bem interessante ao país e é raro vermos os EUA como vilões, enquanto Naomi, também dos EUA, é filha de imigrantes e retratada com mais atenção. Becket é, então, rival principalmente de Leo, pois eles tem habilidades semelhantes quanto à natação. Inclusive, Leo já estava sendo observando muito antes da missão existir, por seu talento com o esporte. Mas apenas um poderá embarcar naquela nave, e Leo sabe que precisa ser ele, já que não tem mais uma família para onde voltar.


Naomi, sempre revoltada por seu destino, vê em Leo um amigo e, claro, acaba acontecendo um clima sedutor entre eles desde os primeiros momentos. É incrível como pude sentir realmente a tensão entre os dois. Logo, ele passa também a ser cúmplice dela, pois a garota quer burlar as regras usar seus dom secreto como hacker para saber como sabotar a missão e tudo que a NASA está escondendo por trás de uma missão anterior fracassada, das viagens dos robôs até Europa e da BRR. A menina é inquieta, inteligente e gostei muito desse espírito encrenqueiro dela. Ela também quer provar que há vida inteligente fora da Terra, um estudo que foi proibido a todos.

Achando seus próprios propósitos de vida em meio ao caos, Naomi, Leo e os outros personagens dão tudo de si para que possam ser cogitados a serem um dos seis finalistas. Alguns personagens, secundários, aparecem com mais frequência que outros e acabamos por saber mais da vida deles e do que eles esperam do treinamento. É com eles que as situações começam a dar errado, já que nada seria tão perfeito assim.

A BRR causa uma reação, que a NASA diz ser rara, em alguns adolescentes. Logo, todos ficam em pânico ao verem as cenas horríveis daqueles que tiveram isso, o que aumenta a suspeita de Naomi a respeito de que a NASA esconde algo muito grave de todos. Após um dos acontecimentos, inclusive a saúde mental passou a ser de alta relevância para os pesquisadores, que fizeram os aprendizes realizaram testes e consultas com os robôs inteligentes, a fim de também eliminar os não aptos mentalmente. Afinal, eles não podem ter um surto em Europa, já que não há hospital ou medicação.

Esse livro aborda, a meu ver, um assunto pesado, mas de forma bem leve. Tanto quem está, quanto quem não está acostumado com ficção científica vai gostar dele, porque há ação, um leve romance, um drama, intrigas... Ele não é muito técnico e o foco aqui é a preparação, não a viagem. A leitura flui super bem, é possível terminar ele em poucos dias, além da edição ser muito boa. Eu não esperava que fosse gostar tanto assim, mas já estou louca para ler a continuação e saber o que mais aguarda os escolhidos.


"- É assim que as coisas funcionam no nosso centro - diz Lark. - Na NASA, eu treinei com a tripulação de Athena e vi alguns dos meus amigos mais próximos morrerem. Fiquei devastada, mas ainda assim tive que em apresentar ao trabalho. Nossos objetivos na NASA permaneceram os mesmos: ir além dos limites do espaço e encontrar um novo lar para abrigar a vida humana. Isso não muda quando algo ruim acontece."


O final me deixou muito surpresa, porque durante todo o livro a minha linha de raciocínio estava indo para um lado, mas, no final, eu nem acreditei no que estava lendo e foi aquele momento de "O Lado Bom da Vida", onde o personagem atira o livro pela janela. Brincadeira, me deixou surpresa mesmo, mas foi interessante. Acredito que há um sentido muito grande por trás do final. Ele me fez querer abrir o segundo livro imediatamente.

É uma leitura sensacional. Há tempos não lia um livro que me deixasse totalmente envolvida. Fui pesquisar sobre Europa, Júpiter, planetas, desastres climáticos e mil coisas enquanto estava lendo. É bem imersivo.








 

Livro: Os Seis Finalistas
Cortesia: Editora Jangada
Número de páginas: 283

Mudanças climáticas tornam nosso planeta inabitável, as grandes cidades do mundo estão debaixo d'água. Num último esforço para encontrar um novo lar para a humanidade, a Missão Especial mais audaciosa da história é lançada: a colonização de Europa, uma das luas de Júpiter. Agora, no Centro de Treinamento Espacial Internacional (CTEI), 24 adolescentes brilhantes foram recrutados e se preparam para disputar seis vagas na equipe que deixará para sempre a Terra carregando o futuro da raça humana. Leo, um nadador italiano profissional, não vê a hora de encarar esse desafio, depois de perder a família inteira numa inundação. Já Naomi, uma americana de ascendência iraniana - e gênio da ciência -, tem muitas suspeitas com relação ao CTEI, após uma missão semelhante falhar em circunstâncias misteriosas. Na medida em que o treinamento testa os limites de cada um e a tensão aumenta entre os astronautas, a amizade dos dois se torna essencial para enfrentarem o que está em jogo: a humanidade, a Terra e suas vidas.




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