Resenha - Sangue Quente

19 março 2018

Título: Sangue Quente
Autora: Isaac Marion
Paginas: 308
Editora: Leya
Skoob
Onde comprar:Amazon

R é um jovem vivendo uma crise existencial - ele é um zumbi. Perambula por uma América destruída pela guerra, colapso social e a fome voraz de seus companheiros mortos-vivos, mas ele busca mais do que sangue e cérebros. Ele consegue pronunciar apenas algumas sílabas, mas ele é profundo, cheio de pensamentos e saudade. Não tem recordações, nem identidade, nem pulso, mas ele tem sonhos.
Após vivenciar as memórias de um adolescente enquanto devorava seu cérebro, R faz uma escolha inesperada, que começa com uma relação tensa, desajeitada e estranhamente doce com a namorada de sua vítima. Julie é uma explosão de cores na paisagem triste e cinzenta que envolve a "vida" de R e sua decisão de protegê-la irá transformar não só ele, mas também seus companheiros mortos-vivos, e talvez o mundo inteiro.
Assustador, engraçado e surpreendentemente comovente, Sangue Quente fala sobre estar vivo, estando morto, e a tênue linha que os separa. 





O que você faria se acordasse em um mundo pós apocalíptico? Sem saber como o mundo chegou nesse ponto? No ponto em que os mortos decidiram voltar a vida e a matar os remanescentes do nada.

É nesse cenário clássico de filmes scifi/ficção científica que essa estória tem seu ponto de largada.

R é um zumbi (óbvio que aqui os zumbis serão parcialmente semelhantes aos do filmes, a não ser...), ele não se lembra do seu passado, de como era sua vida quando ele era vivo ou de como morreu; a única coisa que ele sabe é que de repente voltou a vida e sentia uma necessidade imensa de se alimentar dos vivos, a parte que mais lhe atrai é o cérebro da vítima, o qual ele tem acesso as memórias e isso lhe causa um frenesi intenso, visto que é como se através das memórias de suas vitimas ele pudesse se sentir vivo, como se fosse ele mesmo vivendo os momentos, sentindo a euforia do amor, da adrenalina no momento de uma loucura, o medo de morrer, a frustração de viver em uma corda bamba, sem saber como o mundo irá terminar. É apenas nesses momentos de frenesi que R se sente "vivo", como se ele não fosse um simples pedaço de carne podre e sem vida, sem poder sentir amor, raiva, medo; sem poder sentir calor ou frio; sem poder sentir o sangue correr por suas veias, sem poder ser... vivo.

R é acostumado a seguir sua "rotina" nada convencional, onde vive andando sem rumo em um aeroporto repleto de zumbis, como se não existisse nada mais importante. Como se o mundo não estivesse a ponto de chegar em um ponto que a situação se tornaria irreversível: ou seja, onde o mundo seria tomado pelos zumbis, e a pouca vida restante sucumbiria. Apesar de não estarem vivos, eles conseguem discernir lugares, coisas, mas não tem lembranças de nada, não sabem mais como articular os gestos com coerência, não sabem pronunciar palavras, como se a cada dia que passasse estivesse sucumbindo mais e mais, como se estivessem ali mas não fizesse parte daquilo e com isso perceberem que estão chegando ao fim da linha até mesmo para os zumbis: a morte definitiva.


" Reconhecemos a civilização -- prédios, carros, a visão geral da coisa -- mas não temos um papel nela. Nenhuma história. Apenas estamos aqui."



Com tudo isso acontecendo, R acha que esta destinado a "viver" essa monotonia constante sem realmente estar vivo, acha que no fim de tudo, ele acabará definhando e voltando ao estado natural das coisas: um morto de verdade.


"Quando você chega no fim do mundo, não interessa muito que caminho pegou para chegar lá."

O que ele não esperava era que em uma das suas caçadas, ele se depararia com uma situação que mudaria completamente não somente seu futuro, mas de todos os zumbis com que convive de maneira irremediável, de maneira que poderia acelerar o processo da extinção humana.

Ele conhece Julie, uma humana ao atacar um grupo de jovens que estavam buscando diversão em shopping há muito detonado e abandonado, R assassina o namorado da jovem humana e ao ingerir o cérebro da vitima, a vida de R dará uma volta de 360º graus e contra todas a probabilidades impossíveis entre a linha tênue do viver e morrer, R tomará a decisão que abalará não somente sua vida , mas a de Julie e de toda uma sociedade: ele decide protegê-la. O porque? Nem ele mesmo entende. Valerá a pena o risco? Sim, e ele está disposto a aguentar toda a consequência, se isso significa ficar perto de Julie e conhecê-la, afinal ela é diferente de todos os humanos que ele teve contato (mas ops, ninguém sobreviveu para contar a história), ela não tem medo dele, não saiu correndo na primeira oportunidade que teve, tudo bem que ela tem receio de ser morta, mas não chega a medo, mas sim curiosidade para entender o porque dele ter poupado sua vida.

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A convivência entre essas duas pessoas de mundos completamente diferentes, acabará mudando todos os seus preceitos e conhecimentos. Julie verá que R é muito mais que um zumbi, que ele tem sentimentos que ela jurava que os zumbis não poderiam ter como: a preocupação e instinto de proteção que ele possui para com ela; isso deveria ser impossível de ser sentido por um zumbi certo?

Afinal ele está morto, seu coração não bate mais. Mas são com esses questionamentos que Julie se descobrirá em uma encruzilhada na qual nem ela e nem R com toda a sua proteção conseguirá salvá - la, afinal como ela, uma garota viva acabou se apaixonando por um zumbi? Como que em tão pouco tempo o que era para ser temporário, somente para manter sua segurança, se tornou algo mais forte entre ambos?

E o pior de tudo, o que fazer quando o sentimento é devidamente recíproco? O que fazer ser o surreal e o impossível são mais atraentes? Afinal, R retribui todo o sentimento, só que de maneira mais intensa, ele não se vê mais sem a presença de Julie em sua vida, afinal ele passou anos vivendo em quadra preto e branco e Julie aparece como um furacão, desperta sentimentos desconhecidos por ele e o que arrastará para sua ruína eminente, mas ela trouxe com essa bagunça cor para seu mundo, trouxe consigo coisas que ele jamais sonharia ser possível viver e ter, ela exala esperança... esperança de um futuro melhor, esperança de que tudo isso irá mudar, esperança.... bem, esperança para ele, despertou nele uma vontade de construir momentos felizes com ela e para ela, despertou uma vontade de lutar contra essa "praga" ou o que quer que fosse isso que trazia os mortos de volta a vida.

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Mas mesmo com toda essa esperança, R perceberá que o que quer que esteja extinguindo aos poucos todo tipo de vida, seja algo maior do que ele imagina, que seja algo mais profundo, sombrio e o pior: desconhecido por tudo e por todos. Mas Julie despertou esperança não somente em R, mas em todos os zumbis, e por ora, isso basta. Isso lhes proporciona forças para lutar e para mudar, mudar para melhor, afinal quanto mais tempo R passa com Julie, mais vivo ele se sente. Será que isso é o fim dele? Ou um início um tanto incerto e perigoso para todos? Só construa momentos, mantenha a esperança.

" Memórias que você captura de propósito são sempre mais vivas dos que as que se captura por acidente."


[- Minhas Impressões -]

Bem, quero começar relembrando que no início da resenha eu disse entre parênteses que: "que os zumbis são parcialmente semelhante aos dos filmes...", o que quero dizer é que aqui, os zumbis vivem em uma comunidade, tem regras a seguir, regras essas que são ditadas pelos Ossudos. Mas Bya, o que são esses Ossudos? São como generais, seres superiores que ditam as regras para os zumbis. E ai que vem minha ressalva: o autor apostou não em zumbis que ficam por ai grunhindo, sem nada a fazer além de sair se alimentando da primeira vitima que vê.

Alguns zumbis tem um meio de se comunicar levemente arrastado, eles conseguem conversar, mas são poucas palavras, a dificuldade em pronunciá-las é perceptível; além disso, alguns deles tem consciência do que fazem (foco no R e Marcus aqui ), e essa realidade diferente criada pelo autor foi uma ousadia e tanto. E como que para provar essa ousadia, o livro é narrado por R, um zumbi mais amado da literatura. Aqui acompanhamos os pensamentos dele, sentimentos, receios, a descoberta do primeiro amor, a vontade de viver, e isso me proporcionou boas risadas em alguns momentos, suspiros em outros, afinal se apaixonar por um zumbi é o cúmulo não é amores?

Fora o R temos a Julie, a garota que trouxe luz e cor para a vida do querido zumbi, ela não é aquela garota que gosta muito de proteção, não se sente confortavel com as regras ditadas pelo seu pai, que é um general responsável por manter a ordem no Estádio -- lugar onde os humanos sobreviventes se escondem com o intuito de se protegerem da praga, e que na minha opinião se assemelhava a uma prisão -- mas voltando a Julie, ao mesmo tempo que ela luta para demonstrar essa força e impor sua opinião, temos uma garotinha assombrada por um passado que ela se recusa a esquecer, a esperança que ela tem, de que o mundo pode melhorar e que os zumbis não podem ser a ameaça potencial, isso é algo contagiante, não vou negar que em alguns momentos ela também me arrancou boas risadas, e quando percebi, estava torcendo para ela e o R terem um final feliz.

Os personagens secundários que mais chamam a atenção são: Marcus, melhor amigo de R e que em todas as cenas com ele me arrancou mais gargalhadas que tudo, arrisco dizer que foi o alívio cômico do livro; Perry, o namorado de Julie que R matou, bem, ele aqui é meio que um "fantasma" que perturba bastante o pobre R, porque cada vez que o R se alimenta de um pedaço do cérebro de Perry, eles meio que dialogam sobre tudo: a vida, morte, fim do mundo, a garota em comum que um amava e agora é amada e ama o zumbi, as vezes é cômicas as cenas com elas, outrora são carregadas de tensão e que por fim deixou um fio solto para uma continuação.

E por fim, temos Nora, melhor amiga de Julie, a rebelde que todos amam, a diferentona, enfim, uma personagem adorável.

Quanto a escrita do autor, confesso que é leve e bem descontraída, pois a narrativa é mesclada entre a ironia e tensão; um dos livros mais ousados que li na minha vida e que devo dizer que amei.

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O final deixou mutas questões abertas, e graças a Deus temos uma continuação confirmada: The Burning World, que esta com lançamento previsto para 6 de março nos EUA e sem previsão de lançamento aqui. Estou mega ansiosa por esse livro. Mas devo ressaltar que meu maior incomodo foi alguns erros ortográficos no livro, mas isso deve ser problema na edição que comprei. Mas fora isso é um livro que super indico, aquela leitura ideal para curar aquela ressaca literária ou se você leu aquele livro pesado e procura uma leitura leve, super indico.

Lembrando que esse é o livro que deu origem ao filme Meu Namorado É Um Zumbi e que eu gostei bastante por sinal, mas como sempre as adaptações nunca honram o livro, o foco é mais voltado para Julie, mas isso não diminui o meu amor pelo filme.


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9 comentários

  1. Como não gosto de filmes de zumbi, creio que não iria gostar de livros também. Fantasia de lobos ou fadas é uma coisa, gente meio morta meio viva não rola pra mim. Até quero abrir meu horizonte e sair da zona de conforto, mas esse tema creio que será um dos ultimos que vou conseguir, a menos que seja uma baita indicação, tipo sem erro , sabe?

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  2. Li este livro já tem um bom tempo e acabei vendo a adaptação também(que sim, é bem bacana, por sinal)
    Não é apenas uma história sobre zumbis, é além disso. É realmente uma sociedade, com regras, famílias, problemas e claro, algumas boas risadas.
    Há também amor e isso, penso eu, pode se estar morto, vivo, meio morto, meio vivo, que continuará sendo amor!
    Confesso que não sabia que teria continuação,mas adorei ler isso!
    Super recomendado!
    Beijo

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  3. Oi Bya.
    Já li o livro e gostei bastante! Achei bem diferente ler a história sob o ponto de vista de R. Era interessante acompanhar o seu raciocínio e ver como às vezes ele esquecia as palavras ou não sabia como expressar o que estava sentindo.
    Também vi o filme e confesso que não gostei muito. Mas achei as cenas com Marcus hilárias rsrs
    Não sabia que teria uma continuação! Fiquei feliz e apreensiva ao mesmo tempo. Estou curiosa para saber como o autor vai dar continuidade a história, mas achei que o final do livro já dava a entender o que iria acontecer.
    Beijos

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  4. Ahhhhhhhhh Adoreeeei. Eu não conhecia esse livro e nem a adaptação, já vou procurar para assistir e o livro vou tentar comprar para ler. Eu bem poucas histórias que contenham zumbis, assim como a assistir bem poucas filmes e séries também. Adoreeeei a resenha, me fez querer devorar esse livro e reler várias vezes quando eu tiver ele.

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  5. Eu já o filme e amei, não sabia do livro, preciso ler pra ontem!
    Um dos meus filmes favoritos!
    Bjs!

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  6. Byanca!
    Como sou muito apaixonada pelos seres fantásticos, primeiro anjos, depois vampiros e em seguida os zumbis, assim que esse livro foi lançado, tive oportunidade de ler. Confesso que na época, fiquei um tanto chocada, pelo simples fato de me acabar de rir, ao invés de ter os 'zumbis' normais de quase todas as histórias que conhecemos, me deparei com um apaixonado por uma humana. Claro que gostei depois do choque e tive que ir assistir o filme depois, porém, apesar de achar engraçada a adaptação, nem se compara com o livro fabuloso.
    “Não acredite em tudo que ouvires! Há mentiras que sempre serão ditas, e verdades que jamais serão pronunciadas...” (Eliane Azevedo)
    cheirinhos
    Rudy
    TOP COMENTARISTA MARÇO: 3 livros + vários kits, 5 ganhadores, participem!
    BLOG ALEGRIA DE VIVER E AMAR O QUE É BOM!

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  7. Oi Byanca! Minha amiga sempre tenta me convencer a ler "sangue quente", mas sempre achei a história relativamente "fraca", sem muita emoção. Mas essa impressão é baseada no filme, e como vc mesma disse, muitas vezes os filmes nao honram os livros; então talvez eu pudesse me aventurar a ler! Um exemplo claro disso pra mim é a saga Percy Jackson. Eu sou extremamente fã,e fiquei indignada com a adaptação que fizeram para o cinema :(
    Em relação ao tema, acho que zumbis mais agressivos deixam a trama mais impactante. Por outro lado, ler sobre os sentimentos e conflitos de um zumbi também é bem interessante!

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  8. Oi Byanca!
    Chocada que esse filme é baseado em um livro, eu já vi o filme e na época achei bom pra um distração.
    A ideia é bem interessante, pois apesar de hoje ser comum ler livros com vampiros, lobisomens e seres sobrenaturais, eu não tinha pensado em um zumbi. Pra mim eles sempre parecem que não tem sentimentos e só querem comer gente mesmo auhauha
    Gostei dessa organização dos zumbis, achei que faltou no filme mesmo.
    Adoro quando os personagens secundários também tem uma papel importante.
    Acho que é uma boa leitura!
    Bjs

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  9. Oi Byanca. Olha, eu não gosto de zumbis não. É um monstro do terror que eu simplesmente não tenho mais paciência, é zumbi pra todo lado. Mas, sinceramente... zumbi que se apaixona? É bizarro demais. Não consegui me interessar não, achei um pouco forçado, meio que foge de tudo que todo mundo já sabe sobre zumbis, mas não de uma forma boa.
    Beijos.

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