Resenha - Belas Adormecidas

22 dezembro 2017


Título: Belas Adormecidas
Autores: Stephen King e Owen King
Cortesia: Companhia das Letras / Selo Suma de Letras
Páginas: 728
Skoob
Onde comprar: Saraiva / Amazon / Submarino
Pelo mundo todo, algo de estranho começa a acontecer quando as mulheres adormecem: elas são imediatamente envoltas em casulos. Se despertadas, se o casulo é rasgado e os corpos expostos, as mulheres se tornam bestiais, reagindo com fúria cega antes de voltar a dormir. Em poucos dias, quase cem por cento da população mundial feminina pegou no sono. Sozinhos e desesperados, os homens se dividem entre os que fariam de tudo para proteger as mulheres adormecidas e aqueles que querem aproveitar a crise para instaurar o caos. Grupos de homens formam as “Brigadas do Maçarico”,incendeiam em massa casulos, e em diversas partes do mundo guerras parecem prestes a eclodir. Mas na pequena cidade de Dooling as autoridades locais precisam lidar com o único caso de imunidade à doença do sono: Evie Black, uma mulher misteriosa com poderes inexplicáveis. Escrito por Stephen King e Owen King, Belas Adormecidas é um livro provocativo, dramático e corajoso, que aborda temas cada vez mais urgentes e relevantes.






A história de Belas Adormecidas se passa numa cidadezinha pequena chamada Dooling. Nela, surge uma mulher misteriosa, bonita e enigmática que leva o nome de Evie quando, sozinha, explode uma fábrica de drogas e mata dois traficantes usando somente as próprias mãos. A xerife Lila Norcross a leva para o presídio feminino no qual seu marido Clint Norcross trabalha como psiquiatra, e naquele mesmo dia as pessoas começam a descobrir um fenômeno muito estranho que ocorre a todas as mulheres do mundo: quando elas dormem, forma-se um casulo branco no rosto que não as permitem acordar mais. E se alguém tentar removê-lo, elas ficam ensandecidas e furiosas, podendo até mesmo matar aquele que perturbar o seu sono.

Enquanto a Aurora não se estabelece por completo na cidade de Dooling, atingindo primeiramente países como a Austrália, vamos acompanhando a rotina de alguns personagens e seus próprios conflitos pessoais. Clint Norcross é o psiquiatra da prisão feminina e nos revela ser um homem com um passado difícil – do qual não fala sobre com ninguém, nem mesmo para a esposa -, pois foi abandonado pela mãe biológica quando era criança e pulou de casa em casa até encontrar uma família adotiva. Ele nos mostra que, até chegar onde está, passou por muitos obstáculos e foi forçado a arriscar sua própria vida. Trabalhando como psiquiatra da prisão, Clint cria um vínculo com as detentas e as ajudam a superar a culpa, seus traumas e problemas que as levaram a cometer os crimes.

Falando nas detentas, também temos acesso à rotina delas na prisão, aos abusos e ameaças que sofrem de guardas, de todos os perrengues que precisam passar para não ficarem na lista de mau comportamento, não podendo, assim, nem mesmo receber visitas das pessoas amadas. Lila Norcross é a esposa de Clint e demonstra ser uma mulher angustiada, pois recentemente descobriu algo sobre o marido que a fez questionar se o conhecia de verdade. Mas ela ainda não está pronta para abrir o jogo e conversar com ele, logo, passa a investigar esse grande mistério em segredo.

“Ah, ás vezes havia um presente, um beijo suave no pescoço, um jantar fora (à luz de velas!), mas essas coisas eram só a cobertura de um bolo duro e difícil de mastigar. O Bolo do Casamento! Ela não estava preparada para dizer que todos os homens eram iguais, mas a maioria era, porque os instintos vinham de fábrica. Com o pênis. A casa de um homem era seu castelo, era o que diziam, e inserido nos cromossomos XY havia uma crença profunda de que todos os homens eram reis e todas as mulheres eram suas empregadas.”

À medida que a Aurora vai chegando na cidade e há cada vez menos mulheres acordadas, o caos passa a se instaurar. Os homens ficam desesperados ao verem suas esposas e filhas com casulos em suas faces, alguns se organizam para queimar as adormecidas acreditando que isso fará com que o vírus pare de ser proliferar, mulheres abusam de drogas para suportarem o máximo de tempo que podem até serem vencidas pelo sono e há ainda homens que se aproveitam da epidemia para cometerem barbaridades contra as mulheres. Conforme as horas passam, as pessoas começam a notar que Evie é a única mulher que consegue dormir e acordar normalmente. E quando ela diz a Clint que possui a chave para fazer com que as mulheres despertem, ele se dedica na missão de protegê-la na prisão. Porém, há homens desesperados do lado de fora em busca de vingança, e farão qualquer coisa para matarem Evie. E com a xerife encasulada, quem será aquele que se responsabilizará pela segurança da cidade?

Não li tantos livros do Stephen King quanto gostaria, mas o Belas Adormecidas, escrito em parceria com o seu filho Owen King, foi o primeiro que me fez notar uma crítica social bastante evidente nas entrelinhas. Sempre houve uma cutucada ou outra em relação a alguma questão polêmica nos livros anteriores de Stephen King, mas nessa história ficou bastante perceptível como eles decidiram aprofundar alguns temas. Dois deles, por serem os mais abordados, nos chamam mais a atenção: a importância do feminismo e a forte presença do machismo na sociedade, mesmo nas situações mais ínfimas. Como eu aprecio bastante histórias que tratam de temas polêmicos de alguma forma, admito que gostei de ver que um dos meus escritores favoritos criou uma história que convidasse o leitor a repensar sobre esses pontos tão importantes.


Belas Adormecidas é uma história que me fez imaginar e refletir durante toda a leitura como seria um mundo sem mulheres ou um mundo sem homens. Qual deles seria mais próspero, um lugar mais harmonioso de se viver, mais duradouro e feliz? Não é difícil concluir a resposta, e essa história enfatizou isso muito bem. Os autores King não pintam os homens com a imagem de um ser horrível e malvado, mas se preocupam em deixar claro que cada um dos homens possui os instintos, a força e a completa consciência dela; de que podem fazer o que bem quiserem com as mulheres, afinal, no aspecto biológico, eles têm maiores chances de vencê-las.

Através dos personagens complexos e imprevisíveis, eles nos mostram que não precisamos simplesmente aceitar que um sexo é superior ao outro, focando na importância de tomar uma atitude em relação a nós mesmos e nos esforçarmos para melhorar ao invés de apontar o dedo e julgar. Nesse ponto, confesso que amei presenciar um certo amadurecimento em alguns personagens! Me surpreendi positivamente, pois jamais poderia imaginar que do início ao fim acabariam se tornando pessoas completamente diferentes, e gostei de eles terem me mostrado que, para algumas pessoas, pode existir salvação.   

“Era engraçado se parasse para pensar no assunto: por que todos aqueles homens estavam se rebelando? O que eles achavam que conseguiriam? Maura se perguntou se haveria rebeliões se fosse a outra metade da raça humana adormecendo. Ela achava improvável.”

Apesar do fenômeno Aurora atingir todas as mulheres do mundo, a história gira em torno de uma cidade pequena, portanto, não vemos uma quantidade imensa de atrocidades contra as belas adormecidas. Porém, ainda assim, o pouco que há basta para nos deixar surpresos e enojados. Belas Adormecidas não é bem um livro de terror, mas algumas coisas que os homens fazem com as mulheres nesse livro conseguiram me deixar bastante assustada. Especialmente por conterem algumas cenas apavorantes que, infelizmente, ainda são muito reais e frequentes em nosso cotidiano, como estupro, violência física e psicológica, e assassinato.

A história vai se encaminhando de uma forma que parece nos contar quem é o vilão ou vilã, mas no fim, não há. Acredito que os King quiseram nos mostrar com essa história que a maldade está dentro de nós mesmos, em todos nós, seja homem ou mulher. Mas mesmo carregando isso conosco, talvez seja possível dar a volta por cima e se tornar uma pessoa melhor, tanto consigo mesmo quanto as pessoas à sua volta. Achei isso incrível pois do modo que a história prometia se encaminhar, passou a impressão de que, para certas pessoas, não havia alguma forma de solucionar os problemas.

Há uma enorme quantidade de personagens, portanto, a narrativa em terceira pessoa vai oscilando o foco para vários deles. Mas não demora muito para conseguirmos deduzir quais deles serão mais frequentes e importantes para que a história funcione. Apesar disso, não é uma tarefa difícil acompanhar a história, pois assim que passou a fase introdutória do livro já pude me situar e diferenciar cada um deles. Fora que, nas primeiras páginas, há uma lista dos nomes de todos os personagens, suas funções, idades e grau de parentesco. Sempre que me sentia um pouco perdida sobre isso, bastava voltar no início do livro e buscar o nome que quisesse. Essa lista facilitou bastante!

Como podem ver, a edição do livro é linda! Estou profundamente encantada por essa capa, definitivamente, é uma das mais belas que já vi. A editora cuidou muito bem da diagramação e caprichou em todos os detalhes. Em suma, Belas Adormecidas contém uma história grande e relevante, e possui uma narrativa bem fluída apesar do grande número de páginas, mas ainda que o propósito dele seja discutir temas importantes, ficou aquele sentimento de que ainda faltou alguma coisa. O livro gera algumas reflexões, mas seu ponto negativo é que não vai mais além. Em minha experiência, senti que os autores não me deram uma explicação totalmente convincente e satisfatória. Esse foi o único detalhe que me incomodou, mas, de forma geral, é um ótimo livro e com certeza continuarei pensando nele durante bastante tempo. Para quem é fã do Stephen King como eu, vale muito a pena realizar a leitura!



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9 comentários

  1. Desejei demais dois livros neste ano que está se encerrando(tá, foram mais.rs mas digo dois do Mestre): It, A Coisa e Belas Adormecidas. Consegui comprar It recentemente e ainda não comecei a ler, mas Belas continuará na fila mais um tempo.
    Amo a brincadeira psicológica que só o Mestre King consegue fazer na mente do leitor. Ele não precisa usar o terror, só precisa usar pessoas e já consegue colocar medo em quem imagina as situações!
    Vou ler este livro com certeza, pode demorar, mas vou!
    Beijo

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  2. Sou apaixonada pelos livros do Stephen King mais infelizmente ainda não tive a chance de ver esse nem o novo livro dele com o filho mais lindo do Stephen King tem certeza que ele vai ser maravilhoso

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  3. Ai, que delicia ver o Rei do Terror e seu filho aqui. Amo terror e amo Stephen King. E este livro parece ser maravilhoso, já está separado para a minha TBR de janeiro! Estava louca por ele e ganhei em uma promoção do instagram, nem acreditei. Foi presente de Natal adiantado!
    E parece que mais uma vez King acertou a mão e criou um livro no qual impera não só o terror, mas uma grande reflexão sobre como seria o mundo sem mulheres (ou sem homens, como foi muito bem apontado na resenha, fato que sinceramente eu não tinha cogitado, achei que o livro versaria sobre a malignidade do homem em comparação à mulher).
    Apesar de talvez parecer "faltar alguma coisa" e não ter as reflexões tão bem desenvolvidas, acredito ser uma das melhores estórias, talvez não tanto de terror, mas de suspense e "nervoso" kkkkk. E talvez as reflexões não sejam tão desenvolvidas justamente para deixar-nos refletir sobre elas.
    Concordo absolutamente com a beleza da capa, e não vejo a hora de mergulhar nessa estória!

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  4. Amanda!
    Na verdade nem todos os livros do King (e de sua prole) são de terror, alguns são mesmo de ficção com um jeito de thriller psicológico e acredito que é o caso aqui do livro, onde há uma série de novas doenças, o conflito entre os sexos, os mistérios em relação aos assassinatos e por aí vai.
    Gostei de ver que há uma introdução falando sobre as diversas personagens, o que deve facilitar o entendimento.
    E gostei também de ver que nesse livro ele levanta a polêmica sobre o machismo, tema sempre importante de ser discutido.
    “Celebrar o Natal é crer na força do amor, é isto que transforma o homem e o mundo. Feliz Natal!” (Desconhecido)
    cheirinhos
    Rudy
    TOP COMENTARISTA dezembro 3 livros + 2 Kits papelaria, 4 ganhadores, participem!

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  5. Oii Amanda ;)
    Ainda não tive a oportunidade de ler nenhum livro do mestre King, mas ganhei Belas Adormecidas de presente, e espero que consiga ler ele em 2018, já coloquei na minha meta!
    Não sabia muito bem sobre o que era a história, mas adorei e achei bem diferente de tudo que li. E que bom que além de ter essa premissa interessante, o livro também tem essas críticas que você mencionou, e que demais que os autores se preocuparam com isso!
    Acho que o único fato que pode me incomodar na narrativa é essa quantidade excessiva de personagens, não gosto muito de livros assim... mas mesmo assim estou com expectativas boas para Belas Adormecidas ;)
    Bjos

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  6. Olá Amanda Bom dia Linda amei a resenha eu ainda não li nenhum livro do King mas marquei esse no skoob como meta de leitura espero gostar e poder voltar para deixar meu comentário aqui e fazer a resenha no meu blog. Um Beijão !

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  7. Nossa que diferente.
    Eu li só um livro dele, e não era tãão sobrenatural assim srs mas achei legal a ideia da estória, e também gosto muito quando existem vários personagens, eu gosto quando o autor cria um mundo amplo... gostei da ideia do mundo ficar sem mulheres, e também as consequências disso.

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  8. Eu quero muito ler esse livro imaginação eu juntar pai e filho meu Deus do céu Espero que a história seja realmente cativante

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  9. Olá! Não sou muito fã do SK, mas confesso que digo isso baseada apenas em algumas obras mais antigas dele que não gostei. Fico curiosa pra saber como foi essa parceria com o filho, que só vejo elogios até então, e me senti interessada também pelo tema, pela condição das mulheres, o mistério dessa anomalia do sono e por esse mundo "sem mulheres". Me parece muito angustiante! Quero ler!
    Beijos.

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