Resenha - O Legado da Ruína

12 dezembro 2017

Título: O Legado da Ruína #1 - Lobo e Gelo
Cortesia: William Tannure
Editora: Chiado
Skoob
Páginas: 563
Onde comprar: Saraiva / Chiado

Em um mundo entre tantos, o Império de Yxor dominava toda a terra conhecida pelo homem. Seu poderio com exércitos vastos e legiões de magos sempre assegurou o controle sobre os reinos subordinados a ele.
Sob o comando de Rognam, um herói que surgiu em tempos obscuros e devolveu a esperança aos homens, o Império yxoriano cresceu e se expandiu até que todos os homens se ajoelhassem perante o imperador-deus.
Um casamento foi celebrado entre ele e a herdeira do maior dos rebeldes, a filha de Sirar, o Leão, regente da nação sulista de DacMeth, com o intuito de unificar aqueles que um dia foram inimigos e de trazer a prosperidade acompanhada de paz.
Dessa união três crianças nasceram, três príncipes de personalidade e objetivo diferentes. Regnar, o mais velho e herdeiro do trono, luta contra as vontades irrecusáveis de seu pai para tentar seguir seu caminho. Arcaedas, um feiticeiro tamanhamente talentoso, quanto arrogante, assolado por uma enfermidade que o privou do sentido da visão. Syric, o mais novo, um rapaz confuso, com o presente e o futuro envoltos em dúvidas e mistérios.
Cada um parte em sua jornada pessoal, motivados por ambições e vontades particulares.
Mas a suposta prosperidade no Império é fraca. Enquanto Yxor julga ter controle sobre os reinos conquistados, seus monarcas indignados pela opressão duradoura tramam silenciosamente a queda do Imperador e da unidade conquistada por ele. E, nas sombras mais densas um ser sinistro de tempos imemoriais espreita, pacientemente, tecendo planos macabros e aguardando seu momento de revelação.






A história se inicia narrando os acontecimentos do passado, quando o Reino de Yxor estava em guerra sendo atacado por selvagens do Sul e por Harulf, um lobo de gelo gigante e indestrutível. Quando todos achavam que estavam perdidos, um herói guerreiro surgiu com sua lança mágica e derrubou o lobo, se tornando a partir desse dia, o Imperador de Yxor. Para formar uma aliança com o reino derrotado, se casou com Merlain, filha do rei dos bárbaros. Mas os anos se passaram e logo o povo não viu mais os traços de herói no Imperador Rognam, pois este acabou se tornando um grande tirano, cobrando taxas de impostos altas demais dos reinos conquistados, levando-os a sofrer com miséria e fome; ditando seus interesses e demonstrando grande indiferença sobre o sofrimento e opinião das pessoas, incluindo de sua própria esposa e filhos. 

Regnar, o mais velho, é aquele em que Rognam deposita a maior pressão, e também aquele que o mais decepciona. O motivo disso? Regnar não está nem um pouco interessado em aprender nas aulas de magia, considerando-as monótonas. Os anos vão passando, seus colegas vão subindo de nível e Regnar continua no primeiro Degrau. Não importa o quanto ele tente, simplesmente não consegue colocar em prática os ensinamentos de Arquimante Galdras, nem mesmo os encantamentos básicos. E, ainda assim, o Imperador permanece pressionando-o a se tornar um grande feiticeiro, e por ser um homem temido e perigoso, seus desejos e ordens não podem ser questionados, não restando a Regnar outra saída a não ser continuar. 

“E então tudo fez sentido para Regnar. Passou todos aqueles anos sem sequer executar um encantamento decente porque simplesmente seu corpo não o deixava fazer isso. Aquela sensação estranha, o comichão, que sentia em sua cabeça quando se aproximava de um feiticeiro, não era mera cisma. Era uma defesa, uma reação natural de seu ser como um cão defendendo seu território de outro prestes a atacar.” 

Já com o segundo filho, Arcaedas, a situação é diferente. É um menino com grandes ambições, tão grandes que o leva ao ápice da arrogância. Impressiona a todos com seus feitos e passos rápidos que distribui na arte do arcano, pois mesmo possuindo a cegueira desde que nasceu, isso não lhe impede de crescer e se tornar um poderoso feiticeiro. Arcaedas e Regnar nunca se deram bem, estão sempre disputando entre si quem é o melhor e proferindo ofensas, já que é em Regnar que o Imperador destina sua maior esperança de ocupar seu trono. Por fim, o último filho Syric, por ser muito novo, se revela um grande mistério, especialmente quando acaba sendo sequestrado. 

Cada um dos filhos possuem um destino diferente e isso acabará implicando futuramente na prosperidade e imponência de Yxor, para o bem ou para o mal. 


Eu amo ler histórias de fantasia, mas confesso que fazia bastante tempo que não me interessava por alguma premissa. Como considero válido sair da zona de conforto ocasionalmente, me propus a ler o primeiro volume de O Legado da Ruína, cedido gentilmente em parceria através do autor William Tannure. Sim, além de ser uma história recheada de guerreiros, feiticeiros, seres místicos, demônios e humanoides das mais variadas formas, ela foi escrita por um autor nacional! E ainda por cima, uma história que merece ser lida. Depois de um certo número de páginas, me vi completamente cativada por aquele universo mágico e por seus personagens distintos e ambiciosos. Tudo é descrito de uma forma tão vívida que acabou sendo inevitável não mergulhar profundamente no continente da Geoplaca Central. 

Como o livro possui uma vasta infinidade de personagens, foi ótimo me deliciar com essa narrativa em terceira pessoa. Vamos acompanhando os passos e acontecimentos de vários personagens ao mesmo tempo, o que é muito legal, pois dessa forma vemos como um certo acontecimento irrompido em um lugar pode gerar consequências em outro ponto distante. Também foi graças a essa estrutura que temos o benefício de observar os dois lados adversários, e admito que ao receber tantas informações novas me vi surpresa e perdida, sem saber mais para qual partido tomar. 

William Tannure constrói os personagens de um modo que não é possível simplesmente classificá-los como bem ou mal, dignos ou indignos, honrosos ou insolentes. Eles são complexos, possuem suas próprias versões de justiça e são impostos a carregar seus fardos pessoais. Achei isso muito intrigante, pois com personagens moldados assim me vi em um beco sem saída, sem saber o que as páginas seguintes me aguardavam. Mas uma coisa eu posso dizer a vocês: me surpreendi bastante com as reviravoltas, especialmente com o final! O livro termina de um modo que deixa o leitor ansioso para o próximo, admito que fiquei sem chão depois de ser nocauteada por aquelas palavras das páginas finais. Fico imaginando a todo momento como a história será continuada. 

Regnar, por ser o principal herdeiro do Império de Yxor, acaba recebendo maior destaque na história. Ele vai conquistando nossa atenção e nos deixando intrigados pelo fato de ser um fracassado no que se refere a aprender a arte do arcano, sempre emperrado no mesmo lugar enquanto seus colegas subiam rapidamente os Degraus com o passar dos anos. E seu ódio pelo pai, o Imperador Rognam, vai tomando proporções maiores, pois o mesmo persiste na ideia de que cada um de seus filhos precisam se tornar célebres feiticeiros, não lhes dando espaço para tomar outros caminhos. E é claro, comprovando isso através de surras nos filhos e na Imperatriz acabou deixando-o de mãos atadas sobre se rebelar.

“Está escrito em seu futuro. Você ficará preso aqui por mais vidas do que mil homens, e seu corpo e sua carne se rasgarão para que se mantenha vivo. Você poderá impedir que tudo aquilo que vislumbrou aconteça! Será você aquele que esmagará o Legado da Ruína que recai sobre toda a criação?”

Notei certos elementos na história que me deixaram curiosa. Eu não sei se isso foi algo proposital do autor, como um modo de fazer alguma crítica sutil, mas senti que essa família do Imperador poderia se assemelhar a várias famílias que conhecemos em muitos aspectos. Em primeiro lugar, a presença de um pai alcoólatra e abusivo. Ouso dizer que esse é praticamente o modelo-padrão dos pais brasileiros. Vemos esse perfil em todo lugar! Em segundo lugar, a esposa submissa e vítima das violências do marido. Quantas mulheres não vemos por aí presas em casamentos infelizes porque não conseguem denunciar, não tem algum lugar para ir ou simplesmente porque sentem que é preciso zelar pela imagem de uma família perfeita e estar por perto para cuidar dos filhos? 


E por último, os três filhos, que tiveram seus destinos selados desde o nascimento pelo pai. São constantemente pressionados a seguir ‘carreira’ em algo estabelecido por ele, não cabendo a esses meninos ter a liberdade de escolha. Vi muito disso em Regnar, um menino querendo ir atrás de seus sonhos, de se tornar aquilo que sempre foi, mas incapaz de tomar tal atitude pois o pai acaba prendendo suas asas. Enfim, ressalto aqui que esse foi só um detalhe da história que notei e achei interessante mencionar.

O que dizer dessa edição? O ponto alto, certamente, está nessa capa. Ela é perfeita pois demonstra com exatidão o ápice da guerra, o momento em que será decidido a vitória ou a derrota. As páginas são amareladas e o espaçamento entre linhas está perfeito para a leitura. Infelizmente não posso dizer o mesmo da revisão ortográfica, mas nada que uma nova revisão não dê conta de ajustar os erros. Enfim, recomendo muito esse livro para quem goste de fantasia e também para quem gostaria de sair da zona do conforto. Superou minhas expectativas e agora me encontro bastante ansiosa pelo próximo volume!


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8 comentários

  1. Amanda!
    Gosto desse lance de mundos em outras realidades e das referências dos quadrinhos e Game of Thrones, deve ser uma ótima ficção, ainda mais com a intriga e disputa entre os irmãos e o desenvolvimento da magia.
    A semelhança com as famílias atuais causa uma certa identificação para o leitor, né?
    Sem contar que é de autor nacional, maravilha!
    Pena que a revisão feita pela editora foi péssima.
    Desejo uma ótima semana!
    “ Bendita seja a data que une a todo mundo numa conspiração de amor.” (Hamilton Wright Mabi)
    cheirinhos
    Rudy
    TOP COMENTARISTA dezembro 3 livros + 2 Kits papelaria, 4 ganhadores, participem!

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  2. Amo livros de fantasia, ainda mais quando o autor consegue instigar o leitor a pensar, a se colocar realmente dentro do enredo e tipo depois do livro terminar, a gente ainda ficar ali, sonhando e imaginando!
    Não conhecia o livro, mas que dá muito orgulho na gente saber que é literatura nacional, ah...o coração até acelera!
    E se tem referências de Got, melhor ainda!
    A capa é lindíssima e eu vou colocar o livro na lista de desejados, com certeza!
    Beijo

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  3. Livros de fantasia são os meus favoritos e quando é bem escrito e que faz o leitor viajar através das páginas são incriveis. Isso que essa resenha me passou. A capa já é maravilhosa por si só. Além de parecer ter vários personagens marcantes e cativantes.

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  4. Olá! Achei interessante essa interpretação que você teve sobre o modelo familiar do livro em paralelo com o que temos na realidade. Acredito que essa é uma das principais características da literatura fantástica: a analogia com o mundo real. Apesar de gostar desse ponto que o autor colocou, o livro em si não me interessou muito pela premissa. Quem sabe quando tiver mais livros eu me sinta mais atraída.
    Beijos.

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  5. Olá Amanda, tudo bem?
    Curto bastante uma boa fantasia, e esta promete ser uma boa estória. Ainda não conhecia o livro, nem o autor, que parece trazer todo um universo diferente para mergulharmos.
    As várias criaturas que compõem a estória são bem diversas e originais na sua junção. Todos os personagens tem a chance de mostrar seu ponto de vista, e isto faz com que os compreendamos melhor e que eles apresentem ser bem construídos e acabados. Não adiantaria mostrar um monte de personagens diferentes sem que tivessem sido bem descritos.
    Muito interessante também o autor relacionar pessoas e fatos da estória a situações que vivenciamos hoje em dia e que são polêmicas, como alcoolismo e violência contra a mulher. Assim, ele junta as duas realidades, e podemos discutir tópicos mais profundos.
    Com certeza um livro que se mostrará diferente dos clichés e das mesmices!

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  6. Gostei da resenha, achei legal você ter percebido que o autor abordou temas bastante realistas nas familias, eu não costumo destacar esse tipo de coisa quando vou escrever uma resenha, mas foi bom ter lido essa, pois vou começar a prestar mais atenção nesse tipo de coisa. Parabéns

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  7. Oi Amanda ;)
    Não conhecia essa série ainda, mas como adoro descobrir novos livros de fantasia, gostei bastante da resenha e da sua indicação.
    Que legal que uma série detalhada assim e com uma temática bem legal, foi escrita por um autor nacional! Acho que nunca li uma fantasia nacional, e adorei conhecer um pouco mais da história aqui.
    Um dos pontos negativos do livro, para mim, foi o fato de ele ser em terceira pessoa e ter esse tanto de personagens que você mencionou, algo que em geral eu não gosto muito em uma narrativa.
    Acho que esse primeiro livro, o autor parece mesmo ter introduzido a história com a intenção de deixar o leitor curioso para os próximos livros. E que edição caprichada mesmo, adoro quando o livro vem com um mapa dentro *-*
    Bjos

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  8. Acho que o livro não é muito Meu gênero não conseguiu captar minha atenção a pessoa já conheceu o trabalho do autor

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