Título: Sonetos
Autor: Florbela Espanca
Editora: Difel
Ano: 1983
Páginas: 207
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Nascida com o talento vocabular e a precisão métrica para criar um soneto como que uma ourives da palavra, Florbela Espanca viveu a fundo os mais diversos estados da alma - depressão, exaltação, concentração, dispersão - que na sua poesia atingem tão vibrante expressividade. Impossível lermos Florbela sem reconhecermos sua inquietação e inconformismo, que vão se manifestando de forma irremediável e sôfrega, retratando uma personalidade contraditória.
Livro das Mágoas (1919)
Pelo título já sentimos a profundidade do sentimento que estará presente nos poemas. Florbela viveu inúmeras desgraças durante sua vida, perdendo muitos familiares, pessoas queridas e amadas, e certamente isso contribuiu muito para o teor melancólico de seus textos.
Em "Livro das Mágoas" nos é apresentado um eu-lírico bastante triste, pessimista e que expõe suas dores e frustrações. A vontade dele de querer , de ser é muito presente e vem acompanhada do nunca conseguir aquilo que lhe é desejado. As angústias do eu-lírico são expressas de forma sutil e faz com que o leitor se angustie junto e sinta a sua dor.
O soneto "Eu" deixa bem explícito o quão o eu-lírico está perdido e triste :
"Sou aquela que passa e ninguém vê...Sou a que chamam triste sem o ser...Sou a que chora sem saber porquê..." (Terceira estrofe)
Livro de Soror Saudade (1923)
Bem diferente do primeiro (apesar de ter a tristeza muito presente) esse livro mostra um eu-lírico enamorado que busca encontrar o seu amado. Presenciamos nesse momento o sofrimento por aquilo que não se tem e possivelmente nunca se terá: o amor dos sonhos. Senti aqui a existência de um amor platônico permeando cada soneto , já que o eu-lírico sofre por alguém que nunca pareceu mostrar qualquer indício de reciprocidade ao sentimento exposto. O amor é bem evidenciado nesses poemas e foi o livro que mais gostei. Cada poema me tocou e cativou e de modo ímpar e gostaria de citar todos os sonetos desse livro, mas vou destacar apenas alguns: Fanatismo, Que importa?..., Frieza, Caravelas, Saudades, Crepúsculo , Ódio? e Os Versos Que Te Fiz (o meu favorito).
"Amo-te tanto! E nunca te beijei...E nesse beijo, Amor, que eu te não deiGuardo os versos mais lindos que te fiz" (última estrofe do soneto "Os versos que te fiz")
Charneca em Flor (1930)
Nesse momento, nos é apresentado um eu-lírico que parece já ter encontrado o seu amado e que agora precisa se encontrar , encontrar seu próprio "eu". Diferentemente dos dois primeiros, esse livro tem um tom de felicidade (possivelmente pelo encontro do amado) e mesmo que tentando se achar , ela se completa , encontra e se perde novamente inúmeras vezes. Sonetos que mostram a busca de si próprio , de alguém tão perdido que sequer pode ser considerado um "alguém", como vemos nos poemas Quem Sabe?..., Mais Alto, Sou Eu!, Minha Culpa.
"Queria tanto saber porque sou Eu!Quem me enjeitou neste caminho escuro ?Queria tanto saber porque seguroNas minhas mãos um bem que não é meu !" (Primeira estrofe do poema "Quem sabe?..")
Reliquiae (1931)
Nesse último livro, vemos uma face livre de Florbela que nos apresenta sonetos que vezes falam de um amor eterno e vezes de um amor finito. O poema "Os Meus Versos" é como se fosse um pedido para que os versos do poema "Os Versos Que Te Fiz" , publicado quase que dez anos antes , fossem rasgados e esquecidos por não passar de um amor qualquer.
"Rasga esses versos que te fiz, Amor!Deita-os ao nada, ao pó, ao esquecimento,Que a cinza os cubra , que os arraste o vento,Que a tempestade os leve aonde for! "(Primeira estrofe do soneto "Os Meus Versos")
Tenho que dizer que Florbela se tornou uma das minhas escritoras favoritas. Com uma obra carregada de sentimentos que a cada verso nos faz pensar , sentir e até mesmo reviver momentos e emoções já vivenciadas pelo leitor. Mesmo com um teor melancólico altíssimo em inúmeros sonetos , fui cativado e aprisionado pela escrita de Espanca.
Certamente é uma obra que recomendo e que recomendarei sempre, por ser tão ímpar com sentimentos tão sinceros e profundos.
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5 comentários
Ítalo!
ResponderExcluirGosto de poemas e acho os sonetos a forma perfeita sw escrita deles.
Nunca li nada da Florbela Espanca, apenas alguns poemas exporádicos, mas livro nenhum e gosto da forma como ela se expressa, principalmentet por ser escritos do início do século XX.
“ Lança o saber e não terás tristeza.” (Lao-Tsé)
cheirinhos
Rudy
TOP COMENTARISTA novembro 3 livros, 3 ganhadores, participem!
Sou apaixonada por poemas, poesias, sonetos...aliás, tudo que envolve letras me fascina!
ResponderExcluirFlorbela é um ícone da poesia e dos sentimentos. Ela conseguiu de uma forma majestosa, colocar seu coração em cada palavra, em cada verso e poucas autoras tiveram essa proeza de transformar tudo que se propuseram a escrever.
É uma obra maravilhosa e não é a toa que a Rainha é citada em rodas de poesia, saraus e tudo que envolva beleza e poesia!
Beijo
Que lindo Italo!
ResponderExcluirEu sou fã da autora, amo sonetos, este eu não tinha visto ainda, vai direto pra minha listinha, capa maravilhosa!
Bjs!
Nunca fui muito de poemas. sempre tentei começar a ler livros assim mas não é meu tipo
ResponderExcluirOlá Italo ;)
ResponderExcluirEstou me acostumando a ler poesia, e já descobri muitos livros bons, mas acho que nunca li um de sonetos, por isso gostei da sua indicação.
Adoro um autor que sabe escrever com sentimento, que passa diversas emoções ao leitor durante a leitura, e a Florbela parece fazer isso e mais!
Que legal saber que ela se tornou uma das suas escritoras favoritas, fiquei bem curiosa para ler Sonetos ;)
Abç