Resenha - Herdeiros de Drácula

21 novembro 2017

Título: Herdeiros de Drácula
Autores: Sir Arthur Conan Doyle, M.R. James, Algernon Blackwood e outros
Cortesia: HarperCollins Brasil
Páginas: 528
Skoob
Onde comprar: Amazon / Saraiva 

Drácula, de Bram Stoker, é a mais famosa história de vampiro já escrita, embora não tenha sido a primeira a descrever a malignidade dos mortos-vivos — muito menos a última.
Em comemoração aos 120 anos de publicação de Drácula, esta antologia única reúne 25 contos raros escritos entre 1867 e 1940 por autores igualmente geniais, como Sir Arthur Conan Doyle e M.R. James.
Herdeiros de Drácula é um verdadeiro banquete para todos os aficionados por literatura fantástica e sobrenatural, um delicioso mergulho na história desses seres fascinantes e assustadores.






Herdeiros de Drácula é uma antologia de 25 contos vampirescos, escritos por autores que são referências na arte de criar uma excelente história de terror. São contos bem antigos que datam desde a década de 1860, e foram organizados por Richard Dalby, um pesquisador literário que selecionou propositalmente os contos menos famosos, tanto de escritores reconhecidos e prestigiados, quanto de aqueles que foram subestimados e não alcançaram o sucesso merecido. É importante ressaltar que, quando digo contos vampirescos, não quero afirmar que há somente vampiros como as únicas criaturas sobrenaturais das histórias, mas também existem vários seres e objetos que são associados a essa figura, como: árvores, pedras, espíritos, peixes e pessoas aparentemente comuns. Eles lembram e inspiraram Bram Stoker na criação de Drácula pois, de alguma maneira, sugam a vida das pessoas, podendo também ser caracterizados como criaturas sanguinárias e sedutoras. 

Ainda não li Drácula, mas gostei do fato de Richard Dalby ter deixado em cada uma das prévias dos contos, uma conexão que aquele (a) autor (a) possui com Bram Stoker. Não tenho dúvidas de que ter um relacionamento com esse autor, mesmo que por pouco tempo, tenha influenciado um pouco na criação dessas histórias. Aliás, algumas delas foram criadas antes mesmo de Drácula surgir e também contribuíram para inspirar o autor. E é claro que, após finalizada a leitura dessa antologia, meu interesse pelo livro aumentou ainda mais e estou bem ansiosa para finalmente conhecer esse clássico tão aclamado. Apesar do número de páginas ser um pouco mais alto que a maioria dos livros (quase um calhamaço!), Herdeiros de Drácula é um livro fácil de devorar. Muitos contos possuem uma narrativa gostosa, são fluídos e tão deliciosos de desfrutar que passamos horas imersos naquela ambientação sem nem mesmo perceber. Havia dias que eu aproveitava a tarde toda lendo de tão vidrada que ficava nas páginas.

“Ela dissera com sinceridade que ainda era muito jovem. Ria e brincava com as moças da idade dela. E nem por mim, nem por qualquer outro homem pensava em amor. Porém, ainda assim o amor dormia profundamente nos olhos tranquilos dela, como o peixe de escamas douradas dorme no fundo de um lago profundo. E o tempo de despertar se aproximava.” 

Eu gostaria muito de falar de todos os contos, pois cada um deles me deixou fascinada de um modo especial. Porém, como são muitos, tomei a liberdade de falar daqueles que mais chamaram a minha atenção e que considerei de grande importância mencioná-los e conhecê-los. Vale muito a pena! 

Os últimos senhores de Gardonal, William Gilbert: O barão do castelo Gardonal, antes de falecer, pede para que seus servos vigiem seus dois filhos pois desconfiava de suas naturezas maldosas e receava deixar suas terras para eles. Porém, para não decepcionar o barão que está tão próximo da morte, os encarregados acabavam dando uma descrição mais benigna de seus herdeiros. O tal barão falece sem saber da verdade, um dos filhos fica com a maior parte e não demora muito para que os servos descubram como o novo barão é tão diferente do anterior, no mal sentido. Um certo dia, fica obcecado para se casar com uma mulher e, sendo um líder poderoso, tirânico e calculista, não mede esforços para o casamento ocorrer. Mas ele não faz ideia da consequência que um desejo tão egoísta pode lhe trazer.

Esse é o primeiro conto do livro e já nas primeiras páginas me encantei por essa história. Apesar de esse conto ter um protagonista muito desagradável, que contrata malfeitores para extrair mais dinheiro do que devia de camponeses, utilizando a violência e torturas para alcançar tal objetivo, além de não se importar se a mulher por quem se apaixonou não deseja se casar com ele, o autor acaba escrevendo de uma forma que nos deixa curiosos para saber o que irá acontecer em seguida, principalmente de quais meios perigosos o barão irá utilizar para forçar um casamento indesejado pela família da moça. Salvo uma boa escrita, há alguns elementos de fantasia que acabam deixando a história ainda mais fascinante. Se eu pudesse definir a história em apenas uma palavra, minha escolha seria “karma”. Muito boa!


O destino de madame Cabanel, Eliza Lynn Linton: Achei essa história com uma temática bem pesada! E, de certa forma, muito atual. Pois se passa em uma cidade pequena, onde a fofoca recebe uma grande força pela população e suas mentes são fechadas e limitadas. Tudo que ocorre é considerado uma obra do sobrenatural, as coisas mais absurdas e supersticiosas são tomadas com uma séria suspeita e todos vão atrás de suas próprias concepções de justiça. É incrível e assustador como as pessoas se deixam influenciar tão facilmente por impressões tão enganosas! 

O motivo por eu considerar essa história tão atual é o fato de a autora mostrar nas entrelinhas como uma mulher é facilmente colocada em uma posição tão inferior e como a sociedade não a considera digna de se defender, de ser ouvida e compreendida. Apesar de estarmos vivendo em uma sociedade mais evoluída em comparação à época que se passa a história, ainda podemos ver isso acontecendo de alguma forma em nosso cotidiano. Aliás, Richard Dalby deixou uma informação na prévia desse conto que é muito interessante, na qual consta que 15 anos após a publicação desse conto, um caso muito semelhante ocorreu na Irlanda, onde uma mulher foi assassinada pela própria família devido à forte superstição que alimentavam de que ela foi abduzida por fadas e trocada por uma. Com certeza, é uma obra que vale a pena ler e refletir sobre os assuntos nela abordados.

O mistério de Ken, Julian Hawthorne: Gostei bastante desse conto pois há uma intensa relação entre o aspecto sobrenatural e o romance, que considerei bem mais acentuada do que nas outras histórias desta antologia. O protagonista tem um amigo afortunado chamado Ken que mudou sua personalidade drasticamente depois de ter viajado para o exterior e, preocupado, vai até a casa dele descobrir o que aconteceu. Ao perguntar do banjo que deu a ele de presente, Ken lhe revela uma informação muito estranha: o banjo não funciona mais pois em um período de um ano, acabou envelhecendo, no mínimo, duzentos anos. Como isso é possível? Nenhum dos dois sabe como deduzir esse mistério, mas Ken lhe conta os detalhes de quando viajou para Irlanda e é através desse relato que podemos deduzir o que de fato ocorreu. 

Apesar de o conto estar direcionado no mistério do banjo de Ken ter envelhecido de uma forma inimaginável, esse é o aspecto mais irrelevante da história. A parte realmente interessante está naquilo que Ken conta a seu amigo da viagem, das pessoas que conheceu por lá, da lenda que ouviu dos novos companheiros, de uma certa mulher que observou e que de repente não estava mais ali. E mesmo o personagem reconhecendo que não estava sob circunstâncias normais, acaba aceitando de bom grado, e é maravilhoso e assustador ao mesmo tempo como ele recebe certos acontecimentos com naturalidade e até com uma certa devoção. 

“Como posso explicar? Existe um ditado comum, uma experiência comum, que afirma ser possível, em certas ocasiões difíceis ou excepcionais, viver anos em um momento. Mas essa é uma experiência mental, não física, e que se aplica, em todos os casos, apenas aos seres humanos, e não a objetos de madeira e de metal.”

A parasita, Sir Arthur Conan Doyle: Por incrível que pareça, nunca li nada escrito por esse autor, apesar de ser tão reconhecido no mundo da literatura por suas histórias de detetive. Após ler e me encantar por esse conto maravilhoso, constatei que preciso conhecer suas outras obras. Adorei a sua escrita e forma de narrar! É o tipo de narrativa fluída que não dá para pausar a leitura no meio, especialmente porque conforme vão se sucedendo alguns acontecimentos, a história vai nos deixando com uma certa agonia a todo momento, ansiosos pelo próximo ataque da tal parasita. Afinal, reconhecendo o grande poder que ela dispõe, não há como não se afetar por um profundo sentimento de desespero. E o final, então? É realmente surpreendente o modo que o conto termina em suas palavras finais. A preocupação e tortura do protagonista conseguem, certamente, ser transmitidas a nós, entendemos seu medo e sentimos empatia por ele. 

A boa Lady Ducayne, Mary E. Braddon: Bella é uma jovem moça que decide ir atrás de seu primeiro emprego como acompanhante de uma dama rica para ajudar ela e sua mãe a se sustentarem, já que o salário resultante da costura mal é o suficiente para as duas, de modo que passam por dificuldades para se manterem. Um dia, Bella é agraciada com a sorte de trabalhar para Lady Ducayne, uma senhora muito idosa que andava procurando moças jovens e muito saudáveis, já que as acompanhantes anteriores sempre acabavam adoecendo facilmente. E assim, Bella vive de luxo, já que acompanha a senhora na Itália e reside numa mansão, cercada por um jardim de flores deslumbrantes. Mas, apesar de Bella sempre ter tido uma saúde de ferro, começa a apresentar os mesmos sinais das outras moças que trabalharam para a Lady Ducayne, se sentindo cada vez mais fraca e com uma aparência terrível. 

Mesmo esse conto não sendo tão surpreendente, se trata de uma história muito bem construída. Acompanhamos Bella nessa nova jornada, as cartas que manda para a mãe demonstrando tanta saudade de casa, mesmo estando no maior conforto que a mansão e a liberdade da senhora lhe proporcionam. Há como não se encantar pela delicadeza e inocência da Bella? 


“Estava drenando a vida dela enquanto a encarava – drenando as veias, ressentindo-se das batidas do coração dela. Ele não sentia necessidade dos venenos lentos que definham a carne, dos venenos pavorosos que incendeiam o cérebro, pois o ódio era um veneno que ele entornava sobre o copo branco dela, até que não mais tivesse forças para segurar a alma em fuga.” 

Em suma, Herdeiros de Drácula se revela uma obra bastante digna de se ter na estante. A editora HarperCollins caprichou na edição, pois, como podem ver, é linda e de capa dura. Tem como não amar essa capa? Me identifiquei demais! A diagramação também está ótima e todos os detalhes técnicos foram bem cuidados, eu não cheguei a me incomodar em algum aspecto do livro. Recomendo fortemente para todos os leitores! Apesar de o gênero estar bem orientado ao terror, não achei de forma alguma as histórias assustadoras, muito pelo contrário, são até leves. Os contos nem mesmo contém cenas muito brutais ou fortes. Outro ponto positivo é que, ainda que sejam clássicos, não possuem uma linguagem muito rebuscada, o que tornou a leitura muito mais acessível. Recomendadíssimo!

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5 comentários

  1. Quando vi pela primeira vez a capa deste livro, foi paixão a primeira vista!Daí, vieram as indicações em outros blogs que sigo e já o coloquei na lista de desejados.
    Amo contos, ainda mais se vieram de tantos autores renomados.E de quebra, com uma capa tão maravilhosa...
    Conan Doyle é soberbo e poder ter a oportunidade de reler alguns de seus contos, já é um grande presente!
    Espero poder ter esta obra em mãos o mais breve possível!
    Beijo

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  2. Capa maravilhosa!!
    Curti mto o enredo, e por ser conto amei mais ainda...
    Parece bem agradável e rápido de ler.
    Vou anotar na listinha!
    A editora arrasou!
    Bjs!

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  3. Amanda!
    Bem bacana essa edição especial que acredito seja comemorativa com contos especiais dos melhores.
    Como gosto de todos os autores citados e pelos contos que comentou parecem fabulosos, gostaria demais de ler.
    “ Lança o saber e não terás tristeza.” (Lao-Tsé)
    cheirinhos
    Rudy
    TOP COMENTARISTA novembro 3 livros, 3 ganhadores, participem!

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  4. Essa edição e tão linda. foi a unica coisa que me fez comprar o livro. Nem cheguei a ler a sinopse. O preço estava mara e a capa me fizeram comprar mas me surpreendi com os textos

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  5. Olá Amanda ;)
    Não conhecia o livro ainda, mas já quero muuuito ler ele! Sempre quis ler o clássico Drácula, e apesar de não ler muito antologias, pelos seus comentários vou gostar dos contos separados no livro!
    O que mais me deixou interessada foi o O Destino de Madame Cabanel, adoro livros com essa temática e esse tipo de superstição diferente, e que doido esse caso real que aconteceu 15 anos depois!
    Também acho que gostarei do conto de Sir Arthur, e também me interesso em ler as obras dele.
    A Harper Collins parece ter se superado mesmo nessa edição, com essas gravuras lindas demais dentro, para acompanharam a leitura!
    Bjos

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