Resenha - Achados e Perdidos

08 agosto 2017

Título: Achados e Perdidos (Bill Hodges #2)
Autor: Stephen King
Editora: Companhia das Letras / Suma de Letras
Skoob / Goodreads
Páginas: 352
Onde comprar: Saraiva / Americanas / Amazon

“— Acorde, gênio.”
Assim King começa a história de Morris Bellamy. O gênio é John Rothstein, um autor consagrado que há muito abandonou o mundo literário. Bellamy é seu maior fã e seu maior crítico. Inconformado com o fim que o autor deu a seu personagem favorito, ele invade a casa de Rothstein e rouba os cadernos com produções inéditas do escritor, antes de matá-lo. Morris esconde os cadernos pouco antes de ser preso por outro crime. Décadas depois, é Peter Saubers, um garoto de treze anos, quem encontra o tesouro enterrado. Quando Morris é solto da prisão, depois de trinta e cinco anos, toda a família Saubers fica em perigo. Cabe ao ex-detetive Bill Hodges e a seus ajudantes, Holly e Jerome, protegê-los de um assassino agora ainda mais perigoso e vingativo.








Esta resenha não contém spoilers.

John Rothstein é um escritor prestigiado, e grande parte do sucesso foi graças a sua trilogia Jimmy Gold. Só que acabou se tornando um idoso recluso, passando a viver longe da cidade. No meio da noite ele é acordado por vários homens de máscaras coloridas com o cruel propósito de roubá-lo. Mas um deles parece ser o líder do grupo, o mais inteligente, e não está interessado no dinheiro. Seu nome é Morris Bellamy e ele está com raiva, já que não gostou do destino que Rothstein atribuiu a Jimmy Gold, seu protagonista favorito, e acaba matando-o. Leva consigo mais de 20 mil dólares e muitos cadernos que estavam no cofre. Morris percebe, tarde demais, que Rothstein havia escrito mais livros do Jimmy Gold não-publicados e não vê a hora de ler, mas é pressionado pelo seu amigo Andy a esconder os dinheiro e cadernos por um tempo até a poeira baixar, já que assassinou um escritor famoso. Só que antes de desfrutar do tesouro roubado, Morris comete o que considera o pior erro de sua vida: sai de casa para beber com o intuito de afastar a ansiedade de ler os cadernos.

O problema é que, quando bebe, Morris não consegue se lembrar de nada e nem do motivo de ter feito tais ações. E é dessa forma que acaba sendo condenado na prisão durante 35 anos por estuprar uma mulher, enquanto seu tesouro permanece enterrado. Várias décadas depois, em paralelo, Peter Sauber, um pré-adolescente, está vivendo na casa que era de Morris. Está preocupado, já que seu pai foi uma das vítimas do Massacre do City Center e a família está passando por uma crise econômica e financeira. Seus pais brigam tanto por dinheiro que Peter sente a ideia do divórcio se concretizar aos poucos. É durante um desses “late-lates” que sai de casa de fininho para brincar e, por acaso, encontra um baú enterrado. Quando vê o que tem dentro, Peter fica maravilhado e assustado ao mesmo tempo: muito dinheiro! Ele sabe que deve pertencer a alguém, mas como sua família está ruindo, encara isso como uma grande chance de melhorar as coisas e envia para sua casa, anonimamente, 500 dólares a cada duas semanas.

"Para os leitores, uma das descobertas mais eletrizantes da vida era a de que eles eram leitores, não apenas capazes de ler (o que Morris já sabia), mas apaixonados pelo ato. Desesperadamente. Incorrigivelmente".

No entanto, conforme vai crescendo, Peter entra em contato com os livros de Rothstein e como Morris, também se apaixona pelas suas obras, por isso, não demora para ter uma boa noção de que os cadernos que encontrou são valiosíssimos. Assim, quando o dinheiro milagroso acaba e sua irmãzinha demonstra interesse em estudar na mesma escola cara e de boa qualidade que Barbara Robinson - irmã de Jerome -, e seus pais não têm condições de pagar, Peter se sente culpado e quer ajudar Tina de alguma forma. E é aí que comete um grande erro: tenta vender os cadernos para um colecionador suspeito.

Enquanto isso, Morris está furioso por ter sido preso por um crime que nem mesmo se recorda e cada dia sofrendo agressão na cadeia ele passa se lembrando do baú enterrado, especificamente dos livros, dos quais está extremamente ansioso para ler. Para ele, tudo que acontece de ruim em sua vida é culpa de todos, menos de si mesmo. Quando foi para detenção juvenil na época que era mais jovem, por exemplo, foi culpa da mãe. Morris pode ser apaixonado pela literatura - até mais do que deveria -, mas é uma pessoa muito vingativa. Imagine o que pode acontecer no momento em que sair da prisão, já idoso, e descobrir que seu tesouro foi roubado? Logo, Bill Hodges, Holly e Jerome se reúnem novamente para investigar o mistério do dinheiro milagroso e enfrentar um lobo que voltou à ativa.


Um dos motivos de eu ter gostado tanto de Mr. Mercedes foi por ter o privilégio de contar com as perspectivas do detetive aposentado Bill Hodges e também do vilão, acompanhando cada passo dos dois ao mesmo tempo. E no livro Achados e Perdidos, Stephen King felizmente manteve essa mesma característica em sua narrativa, ainda que não tenha incluído muitos capítulos sob a visão de Hodges. O que é uma pena, pois ele é um personagem excelente e bem construído, e eu desejava que aquele contato íntimo com sua vida pessoal que testemunhamos no livro anterior se mantivesse nesse livro, algo que ocorre pouco. Na maior parte do tempo, ele está ali para ajudar a família Saubers, focado na investigação e lembrando a si mesmo a não deixar ninguém morrer, como infelizmente aconteceu no caso do Mr. Mercedes.

Gostei bastante de como Stephen King trabalhou os personagens, especialmente Morris Bellamy. Mais uma vez o autor adentra a fundo na mente do vilão, nos mostra o seu passado, desde a adolescência até a velhice, como ele se tornou quem é hoje e seu péssimo relacionamento com os pais.  Ele é perturbador porque aparenta ser uma pessoa normal como qualquer outra, apenas mais um jovem rebelde como estamos acostumados a ver no cotidiano. O problema é que no turbilhão de situações ruins em sua vida, ele encontrou uma única coisa boa que o fazia feliz: os livros de Jimmy Gold. Assim, se apegou intensamente ao personagem, ao seu modo de olhar a vida e encarar os desafios. O que, é claro, nós leitores vemos que não terminou muito bem para ele. O bordão de Jimmy “essa merda não quer dizer merda nenhuma” nem sempre lhe caiu bem. Para tudo há, sim, uma consequência.

Esse livro lembra um pouco Misery, já que também explora o fanatismo literário. Annie e Morris são bem distintos um do outro e têm suas próprias definições de loucura, mas ambos são intensamente apaixonados pela literatura e por livros de algum autor específico. Assim como Annie, Morris também desejava um final diferente para o seu personagem favorito, Jimmy Gold (o qual ele tanto se identifica e utiliza seus bordões na vida real a todo momento), mas a diferença é que ele estava completamente imerso nessas obras, Jimmy Gold era palpável, ele se identificava bastante com o personagem, assim como seu modo de vida, tanto que ele não se importou em matar seu autor favorito por isso. E essa grande paixão que Morris tem pelos livros é uma coisa bastante assustadora! Ele não é simplesmente qualquer fã, é um crítico persistente e teimoso que não abre mão de seus princípios.

“Lábios Vermelhos tirou a vida de um grande escritor, e por quê? Porque Rothstein ousou seguir um personagem que foi em uma direção que Lábios Vermelhos não gostou? Sim, era isso. Aquele homem o matou por causa de uma crença própria: a de que a escrita era mais importante do que o escritor.”

Quantos aos outros personagens, Peter também se mostrou um menino interessante. Apesar de ter mandado dinheiro escondido para sustentar a família e tentado vender os cadernos de Rothstein para pagar uma escola particular para sua irmã, foi obrigado a amadurecer cedo, presenciando as dificuldades financeiras e as brigas dos pais. Todas essas situações acabaram tornando-o uma pessoa melhor e menos superficial, ele passou a se interessar bastante pela literatura clássica e a se simpatizar pelos dramas que os personagens vivenciavam. Adorei presenciar uma grande melhora na Holly, já que agora ela sabe controlar seus surtos melhor que antes e é muito legal acompanhar o modo que suas intuições vão sendo trabalhadas. E o que dizer das últimas cem páginas? Os últimos capítulos são cheios de tensão, fez com que eu corresse os olhos pelas letras e virasse as páginas freneticamente para descobrir o que iria acontecer em seguida. Era impossível largar o livro!

Nem preciso dizer que amei a edição, certo? Como podem perceber, ela segue o mesmo estilo do livro anterior, com vários respingos de sangue e com as cores vermelho, branco e preto destacadas. Não tenho nenhuma ressalva a fazer da diagramação, tudo está bem feito e organizado, logo, não há nenhum detalhe que pode prejudicar a leitura. Gostei bastante de Achados e Perdidos e já não vejo a hora de conferir o último livro da trilogia, já que o último parágrafo dá um gancho bem curioso e assustador para a próxima história. Altamente recomendado!


PARTICIPE !! SE INSCREVA !!!


14 comentários

  1. Olá Amanda!!
    Já li muuuuitos livros do rei do terror, que é um dos meus gêneros favoritos. Ganhei o livro Mr. Mercedes em uma ação de fotos do instagram no Halloween passado. Depois, solicitei "Achados e perdidos" no skoob.
    Agora olha a coincidência: solicitei o terceiro livro ontem no skoob!! Vou querer ler de "carreirinha".
    Stephen King escreve com maestria, e temos mesmo a impressão de que ele entra na mente do vilão e a vai destrinchando para nós. É como se pudéssemos ler seus pensamentos. A construção das personagens é feita de forma perfeita também, nos identificamos e sofremos com elas. Em relação a personagem Hodges, cuja visão você disse que não aparece aqui, quem sabe apareça totalmente e volte no último livro de desfecho.
    Misery é um dos meus livros favoritos de King, adoro esta questão de fanatismo literário, e gostei muito de saber que o tema vai ser recorrente nesta trilogia!!
    A edição é mesmo de primeiro nível, dá vontade de ficar somente admirando as capas!! Vou logo querer conferir!
    Ah... muito bom o quote!!

    ResponderExcluir
  2. Não li nada do King ainda, mas a premissa me lembrou muito Misery, e fiquei com o pé atrás. Mas, você falou das diferenças encontradas nos personagens principais e isso me fez ter vontade de ler pra poder fazer as minhas próprias opiniões. O que mais me chama atenção na escrita de King, apesar de ter lido apenas alguns trechos aleatórios, é a capacidade dele de construir os personagens de uma forma que fica fácil de visualizar e até certo ponto entender como uma as pessoas podem se comportar, acho que é isso que faz com que o King seje aclamado pelo público, ele consegue demonstrar comportamentos insanos que é plenamente possível um ser humano fazer. Mas,de qualquer forma vou ter que ler para formar uma opinião mais consistente dele e acho que vou começar com esse!

    ResponderExcluir
  3. Olá Amanda ;)
    Ainda não li nada do King, uma pena... mas sempre tive vontade!
    Não conhecia Achados e Perdidos ainda, mas também achei essa parte de leitor frustrado com os livros quer machucar o autor bem parecida com a adaptação de Misery, Louca Obsessão.
    Que legal que o autor sabe trabalhar bem e desenvolver os personagens, mostrando como o vilão era desde o começo.
    E que bom saber que o livro tem essa narrativa que prende o leitor até o final, fiquei curiosa para saber o que vai acontecer!
    Bjos

    ResponderExcluir
  4. Eu sempre li livros de romance, to tentando experimentar uns novos e esse parecer ser maravilhoso, tipo tudo começou pq um leitor não gostou do que um autor "fez" com o protagonista do livro, esse enredo e muito interessante o lado do vilão e tal

    ResponderExcluir
  5. Eu amei "Mr.Mercedes", e fui com sede pra ler "Achados e Perdidos", mas achei o livro um pouquinho enrolado no início, na verdade, acho que não tava numa fase muito boa quando li o comecinho. Mas como todo livro do mestre King, tem hora que a história vira aquele vício que não dá pra parar de ler, né? No fim, o livro me deixou de queixo caído e na expectativa para "Último Turno", que lógico, supriu tudo o que esperava (apesar de ter visto um bocado de gente falando mal.)
    Só posso dizer que Stephen King não deixa ponta solta na história.

    ResponderExcluir
  6. Amanda!
    Em dado momento tive a impressão de estar lendo algo sobre Misery, do próprio autor: fã enlouquecido pelo término de uma série, fã com tendência a matar... enfim, ainda bem que o enredo passa disso e traz um detetive determinado e personagens bem construídos emocionalmente.
    Não li ainda nenhum dos livros da série, mas sendo do Mestre King, nem tem como não desejar fazer a leitura, né?
    Desejo uma ótima semana!
    “A vida guarda a sabedoria do equilíbrio e nada acontece sem uma razão justa.” (Zíbia Gasparetto)
    Cheirinhos
    Rudy
    TOP COMENTARISTA DE AGOSTO 3 livros, 3 ganhadores, participem.

    ResponderExcluir
  7. Oi, Amanda!
    Adorei encontrar essa resenha aqui no Blog! Estou amando ler esse trilogia! Também li os dois primeiros livros e pretendo ler o último, em breve. Sobre Achados e Perdidos, gostei muito da trama e do desenvolvimento da mesma. Também senti falta de um pouco mais da visão do personagem Hodges, já que ele é a chave para solucionar os mistérios, juntamente com seus amigos, que também cativam por demais o leitor! Mas de qualquer forma, foi uma ótima leitura. A gente fica presa no enredo , de uma forma muito gostosa.
    Estou com uma grande expectativa nesse terceiro livro, já que ficou um gancho sensacional , não é mesmo? Muito curiosa!
    Sua resenha está excelente, parabéns!
    Beijos.

    ResponderExcluir
  8. King é King, né?
    Li uns dois livros do autor e posso dizer que ele é um dos melhores escritores do mundo ♡♡

    Ainda não li esse livro mas já sei que é genial.
    Seus livros sempre têm personagens bem desenvolvidos e um trama excelente! !!
    Adorei !
    Bjos

    ResponderExcluir
  9. Tenho o primeiro livro desta trilogia que e o Mr. Mercedes, e o que mais me cativou a leitura desta obra foi o fato do autor aborda duas visões diferentes, a do vilão e o do detetive, abordando a mente louca do vilão desde criança, até a fase do adulto. De forma geral vejo que nesta continuação vamos nos deparar com novos personagens, que iram incrementar para o desfecho deste mistério, e pelo sua visto o autor não deixa a desejar na evolução destra obra, sempre muito bem construída e envolvente.

    Participe do TOP COMENTARISTA de AGOSTO, para participar e concorrer Ao livro "Dois Mundos", o primeiro da série "Tesouros da Tribo de Dana" da escritora Simone O. Marques, publicado numa edição linda pela Butterfly Editora.
    http://petalasdeliberdade.blogspot.com.br/

    ResponderExcluir
  10. Olá! Apesar de não gostar muito do gênero de terror, Stephen King sempre desperta minha curiosidade, este parece ser um livro bem intenso, embora tenha achado a história um pouco confusa, fiquei curiosa para saber qual será o desfecho da história, quem sabe quando o último livro for lançado eu não me anime a ler.

    ResponderExcluir
  11. Olá!
    Recentemente li dos livros do King (Carrie e It) e amei os dois <3 Quero ler tudo o que ele já escreveu ahushauhusa
    Não tinha colocado essa trilogia nas leituras desse ano, mas depois de ler seus comentários, acho que vou passar essa trilogia na frente haha
    Sempre tive curiosidade para ler e agora fiquei ainda mais curiosa (:
    Beijos

    ResponderExcluir
  12. Olá!
    Já ouvi fala tanto deles, já li varias resenhas e desejo muito conhecer a escrita dele, são historias maravilhosas que ele esccreve. Esse livro foi as primeiras resenha que li dele e despertou o meu lado investigar, terror isso para mim são magnifico. King, sendo ele mesmo é maravilhoso!

    ResponderExcluir
  13. Oi Amanda,
    Ainda não tive a chance de ler uma obra do mestre King, mas está na meta e pretendo ler um livro até o final do ano.
    Fiquei vidrada em Misery após ler a sua resenha, e acho que a minha estreia com a narrativa desse autor tão aclamado já tem o titulo escolhido, pois também vou querer ler o segundo livro da trilogia kkk
    Adorei o enredo de Achados e perdidos, é mais uma trama muito bem elaborada. O Morris é um personagem muito perturbado, levou a sua paixão pela literatura muito a sério. Imagine só matar o seu autor favorito por não estar de acordo com o final que ele deu ao seu personagem preferido? A paixão por livros foi ao extremo de uma forma assustadora. É o tipo de livro que prende o leitor desde o inicio, e mata de ansiedade no final.
    Beijos

    ResponderExcluir
  14. Ainda nao li nenhum livro desse autor, mas pretendo começar, mas não com esse livro.
    Nao gostei muito da sinopse e lendo a resenha não fiquei com vontade.
    Uma curiosidade que tenho pelos livros desse autor e pela forma que eu ouço as pessoas comentarem sobre a escrita dele e como ele descreve os personagens.

    ResponderExcluir

Licença Creative Commons
O site I LOVE MY BOOKS por Silvana Sartori está licenciado com uma Licença
Creative Commons Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional.
Por isso, qualquer contéudo aqui presente como resenhas, fotos e Colunas publicadas são exclusividade. RESPEITE e NÃO COPIE, pois PLÁGIO é CRIME!


Instagram

I Love My Books - Blog Literário . Berenica Designs.