Generosa e Manuel são casados e têm três filhos, duas meninas e um menino - Cora, Mariana e Joca. A história se passa entre as décadas de sessenta e setenta, pelo menos uma boa parte dela, levando-nos a conhecer os personagens citados acima. A vida dos irmãos toma um novo rumo quando a mãe morre inesperadamente e o pai, que nunca se importou muito com eles, decide deixá-los aos cuidados de sua mãe, avó das crianças, mesmo morando todos sob o mesmo teto. Mas a vida de todos muda mais uma vez quando Manuel decide casar-se com Eugênia, uma mulher sem um pingo de bondade e compaixão pelas pobres e indefesas crianças.
"Com o passar dos anos, todos os dias pareciam ser iguais e as crianças viviam maus bocados. Muitas foram as surras seguidas de humilhações. Os motivos nem sempre eram claros, tampouco necessários."
Os irmãos acabam se separando, indo cada um para um canto - Cora é a primeira que consegue se livrar das crueldades da madrasta ao ir embora, junto com a avó, Joca acaba fugindo de casa, cansado de tanto apanhar por tudo e qualquer coisa e acaba indo viver nas ruas, pois qualquer lugar é melhor do que viver sob o jugo de Eugênia. Mariana é a única que permanece e sofre por anos o controle e a maldade da mulher de seu pai, que se mostra cada vez mais disposta a infernizar sua vida.
"Os vizinhos não se metiam por terem medo dela também, então Joca e Mariana entenderam que não podiam contar com ninguém, de maneira que só o que restava era aceitarem seus destinos."
Tempos depois a vida trata de aproximar novamente os três irmãos, e eles têm a chance de recuperar um pouco do tempo perdido, mas não antes de Cora e Mariana enfrentarem grandes perigos, ao se depararem com uma perigosa e poderosa organização de tráfico de pessoas, colocando-as novamente cara a cara com a madrasta, que está envolvida até o último fio do cabelo neste esquema asqueroso de tráfico humano, dentre outras coisas que vocês só vão descobrir ao ler o livro.
[- Minhas impressões -]
O que mais chama a atenção nesta obra é saber que trata-se de uma biografia, envolta em ficção, mas, ainda assim, uma biografia. A autora conduziu de forma magistral o andamento da história e não permitiu que ficasse algo muito pesado de se ler, muito pelo contrário. Quanto mais lemos, mais queremos ler, pois a narrativa foi muito bem construída e podemos sentir e imaginar os horrores pelos quais os três irmãos viveram depois que a mãe faleceu e o pai casou com Eugênia.
A trama aborda assuntos como abandono, abuso psicológico e físico, luto, perda, surras, humilhação, violência infantil, fome, drogas e tráfico humano, emocionando-nos absurdamente por mostrar como cada irmão lutou com unhas e dentes para fugir da vida sofrida e injusta que tinham, dando a volta por cima, ainda que uns tenham conseguido mudar e melhorar a vida mais que outros.
A obra é bem completa, pois tem encontros e reencontros, recomeços, romance, ação, aventura, perigo, momentos mais leves e de descontração com toque de humor que agregam muito à história.
Os capítulos são curtos e ajudam muito na dinâmica da leitura, visto que impulsiona o andamento e desenrolar da trama, mantendo-nos presos às páginas e hipnotizados pela história forte e extremamente emocionante que, vale ressaltar, trata-se de uma história real, ainda que tenha sido atenuada pela ficção e só de pensar no sofrimento dessas crianças é impossível não se solidarizar e se indignar com tudo o que elas passaram.
Ler esse livro significa uma experiência arrebatadora, imersiva e inesquecível para todos, pois a autora soube muito bem como conduzir história, personagens e acontecimentos, presenteando-nos com momentos tocantes, reflexivos e um final incrível. Este foi o meu primeiro contato com a escrita da Monica e eu não poderia estar mais do que satisfeita em ter tido o privilégio e oportunidade de ler esta obra espetacular que eu super indico.
Um comentário
Muito boa Resenha, Kaline! Cheia de detalhes e considerações feitas com muita atenção. Obrigada pelo seu trabalho e carinho! Já recomendo.
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