Resenha - Encarcerados

19 outubro 2018

Título: Encarcerados
Autora: John Scalzi
Editora: Alpeh
Páginas: 328
Skoob
Onde comprar: Amazon / Saraiva

Um assassinato ocorre em um quarto de hotel em Washington. Junto à vítima está um homem banhado em seu sangue, que alega não ter sido responsável pelo crime. O caso logo se torna da alçada do FBI, pois envolve uma nova e especial classe de indivíduos. Os hadens são pessoas que, devido a uma síndrome, tiveram sua mente encarcerada em um organismo imóvel. Para viver em sociedade, eles transferem sua consciência para estruturas robóticas ou alugam o corpo de indivíduos saudáveis. A investigação desse assassinato leva agente Shane e sua parceira Vann não apenas a mergulhar no mundo dos hadens, mas a descobrir uma rede de interesses políticos e econômicos envolvendo sua cultura e seus veículos robóticos. Em mais um de seus best-sellers, John Scalzi, ganhador do prêmio Hugo, constrói um mundo futurista plausível e bem explicado. Encarcerados é uma mistura perfeita de ficção científica e romance policial, repleto de intrigas políticas e polêmicas sociais e tecnológicas.




Um vírus contagioso afetou grande parte da humanidade, causando a Síndrome de Haden, onde muitos se curaram tendo poucas sequelas, porém uma pequena parte de pessoas acabaram ficando encarceradas. Um estado no qual o corpo fica inativo, mas a mente funciona de forma normal fazendo com que essas pessoas, conhecidas como hadens, precisem de corpos robóticos chamados de C3.

Há aqueles curados da Síndrome de Haden que podem se tornar integradores, pessoas capacitadas de permitirem que hadens entrem em sua mente e controle seu corpo, assim "cedendo" uma forma humana para os encarcerados. Só que para se tornar integrador há requisitos e testes, sendo assim uma profissão, onde o mesmo recebe pelos serviços. A pessoa dona de seu corpo permanece consciente com um Haden dentro de sua mente, podendo evitar ações não aprováveis que seu cliente possa fazer.

Dentro desse imenso universo um corpo foi encontrado em um quarto, e ao lado havia um homem coberto com o sangue da vítima que se dizia ser inocente, pois possivelmente e provavelmente se trata de um caso com integradores, pois ele é transferido para Chris Shane, um haden famoso e novo agente do FBI, e sua parceira Vann.

O homem ao lado do corpo é um integrador, o que abre a teoria que o mesmo poderia estar integrando, sendo assim o crime cometido por seu cliente. Mas "pistas" encontradas na cena do crime mostram que o caso vai muito além, sendo muito mais complicado do que parece ser.

— O que precisa ser feito é que as pessoas parem de olhar apenas o próprio rabo. Vocês diz "Cura". Eu ouço "Você não é humano o bastante".


Estou simplesmente apaixonada pelo universo futurístico criado por John Scalzi. É meu segundo livro de ficção-cientifica e fica difícil colocar em palavras o quanto esse gênero e a capacidade dos autores de criar suas tramas envolvendo avanços científicos tem me deixado fascinada. A Síndrome de Haden e todas as suas sequelas e consequências foram muito bem desenvolvidas e pensadas, sem contar que ao ler o livro não é tão difícil imaginar que isso aconteça. Apesar de futurístico, o autor conseguiu ambientar o livro trazendo muito próximo da nossa realidade, já que os C3 não são de inteligência artificial, e sim movidos por mentes humanas. Jhon Scalzi conquistou meu coração ao início do livro, pois ele revela que o nome dado aos robôs usados pelos hadens é uma referência a Star Wars.

A escrita do autor é simples, para o leitor melhor compreender as questões "técnicas" do universo, fazendo com que o livro tenha uma fluidez impressionante e seja uma leitura gostosa e prazerosa. Assim não encontramos parágrafos extensos de descrição, nem diálogos eternos e enrolados que deixam o livro maçante e cansativo, e também não há de menos deles. O autor soube medir a quantidade certa de descrição, diálogos, ambientação, aprofundando o seu universo, personagens e trama de uma forma bem construída.

Narrado em primeira pessoa, encontramos uma linguagem fácil e palavras do dia a dia, mas há momentos em que é necessário uma concentração maior quando é explicado alguns aspectos na trama, como o funcionamento da programação dos C3, já que isso não é algo comum no nosso cotidiano e é de grande importância para o entendimento dos acontecimentos e da resolução do livro. As partes técnicas na descrição da trama também não fazem com que o ritmo da leitura caia ou seja difícil compreender.

Temos acesso a alguns detalhes da vida pessoal dos principais personagens o que deixa a história mais descontraída. O modo com o personagem Chris Shane fala é simples e formal ao mesmo tempo, o que me deu a impressão de ser um personagem bobo, mas de forma positiva, já que seu jeito é fácil de agradar a quem está acompanhando a história.

Algo muito característico de romance policial é a tenção e seriedade que a história e toda a ambientação apresentam ao leitor, algo que não encontramos nesse livro. A trama, os seus diversos acontecimentos, diálogos e personagens são apresentados de uma forma muito amena, dando um tom mais leve à história, apesar da severidade do caso.


Um tema abordado em "Encarcerados" de grande importância, mesmo sendo em uma realidade diferente da atual, é o preconceito. Muitas pessoas não conseguiam ou tinham dificuldade em conviver com os C3, visto que os mesmo são movidos por consciência humana, mas não agem (e nem se parecem) com humanos sendo que eles não tem como se alimentar ao sentar em uma mesa, por exemplo.

Movidos pela não aceitação, há pessoas que reagem de várias formas, algumas procurando uma cura para a Síndrome de Haden, enquanto os próprios encarcerados não querem ser curados e aceitam a sua realidade como ela é. Novamente, é fácil associar isso a questões de preconceitos presentes na nossa sociedade atual, mesmo eu não possuindo a certeza de ter sido intencional.

Li apenas dois livros de ficção-cientifica, e tanto o outro como esse trouxeram a tona a questão de desejo por poder e dinheiro. John Scalzi, nos mostra em Encarcerados, de forma bem crua o que o ser humano é capaz para conseguir aquilo que quer, principalmente quando o que se quer é o dinheiro. Por isso, há pessoas que estão disposta a ir longe, sem medir seus atos.

Demorei um pouco para me situar e compreender a questão da Síndrome de Haden e suas sequelas e variáveis, principalmente como funcionava os integradores, por isso, mas para frente de 50% do livro eu já havia conseguido entender. Mais para o final do livro, no momento em que as teorias sobre o assassinato começam se encaixar, esse assunto é mais aprofundando quando uma ex-integradora conta sua experiências em primeira mão.

Algo que aconteceu em todo o livro foi minha dificuldade em lembrar os nomes dos personagens, principalmente aqueles que quase não apareciam na obra, mas logo esse problema era resolvido, porque sempre havia algo que me fazia relembrar quem era a(s) pessoa(s) em questão. Apesar disso, um detalhe não ficou totalmente claro para mim, precisando fazer uma dedução que não tenho certeza estar correta, mas que não afeta completamente a trama e seu desenvolvimento.

— Fazer as pessoas mudarem porque você não pode lidar com quem elas são não é o caminho.

Quando iniciei o livro sabia da premissa muito por cima, pensei se tratar de um suspense policial com robôs, mas obviamente não podia estar mais enganada. Uma das coisas que mais me surpreendeu foi o fato de a investigação ir muito além de um simples assassinato, onde toda a ambientação da síndrome de haden tem um grande papel no crime. Então foi uma surpresa muito positiva saber que não seria um caso policial "normal", como nos livros que estou acostumada a ler.

Encarcerados é muito mais ficção-cientifica do que suspense policial, mas recomendo para amantes de ambos os gêneros. Quem gosta de thriller e livros que envolvam assassinatos não irá encontrar uma história com o mesmo clima de tenção que tanto gosta, mas irá se deparar com um caso muito bem elaborado, que vai além do que podemos imaginar.

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5 comentários

  1. Mesmo não conhecendo e nem sabendo muito de ficção científica, gostei demais de tudo que li acima, por trazer também essa parte generosa de investigação e crime, coisa que gosto pra Cacilda em livros ou filmes!
    Fiquei meio apreensiva com os nomes dos personagens, já que até em livros "normais" eu sempre acabo misturando ou esquecendo tudo.rs
    Mas mesmo assim, vou me arriscar neste universo com certeza.
    A capa é maravilhosa!!!
    Beijo

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  2. Ficção científica não é a minha praia, quanto menos suspense policial, mas preciso admitir que a premissa é bem interessante.
    Apesar de nunca ter lido ficção científica, fico surpresa com a maneira que os autores criam novos universos.
    Fiquei um pouco boquiaberta por achar que a Síndrome não é algo tão surreal, e acabei ficando curiosa pra entender melhor.
    É lamentável, mas parece que o preconceito será algo que teremos que lidar para sempre. O diferente sempre incomoda.

    Beijos

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  3. Olá! Não costumo ler muito ficção cientifica, justamente com receio de me perder durante a leitura, mas estou sendo disposta a dar uma oportunidade a novas leituras e essa é bem diferente de tudo que ando lendo ultimamente, acho muito interessante quando mesmo um livro que trata sobre robôs também aborda temas mais importantes e nos fazem repensar algumas atitudes.

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  4. Eu gosto de ambos os gêneros, então esse livro com certeza vai para a lista dos desejados. Apesar de a história contar com a premissa básica de avanço tecnológico e consequências graves dele, achei esse enredo bastante original e diferente daquelas que já conhecemos. Amei a referência a Star Wars, afinal é impossível falar em ficção científica sem mencionar a saga. Acho que o bom desenvolvimento da trama e do caso policial em si são apenas mais dois aspectos que me fazem querer conhecer o livro pra ontem.

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  5. Gosto mais de livros policiais do que ficção científica, mas como você falou que o livro vai muito além dessa simples denominação e que é muito bem estruturado tem grande chance de um dia eu vir a ler.
    Achei intrigante a questão da Síndrome de Haden, me lembrou daqueles pesadelos que temos e não conseguimos despertar...Muito assustador.
    Muito bom quando lemos um livro assim e tudo se encaixa, e mantém um tom leve e ameno pois a história é tensa e angustiante mesmo.
    Gostei muito da capa, sem detalhes ,básica e certeira.

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