Resenha - A outra volta do parafuso

14 junho 2018
Título: A outra volta do parafuso
Autor: Henry James
Editora: Companhia das Letras / Penguin
Páginas: 200
Onde comprar: Amazon / Saraiva


Sinopse: A outra volta do parafuso conta a história da jovem filha de um pároco que, iniciando-se na carreira de professora, aceita mudar-se para a propriedade de Bly, em Essex, arredores de Londres. Seu patrão é tio e tutor de duas crianças, Flora e Miles, cujos pais morreram na Índia, e deseja que a narradora (que não é nomeada) seja a governanta da casa de Bly. Ao chegar a Essex, a jovem logo percebe que duas aparições, atribuídas a antigos criados já mortos, assombram a casa. O triunfo íntimo da protagonista, mais que desvendar o mistério de Bly, consiste em vencer o silêncio imposto pela diferença de condição social entre ela e seus pequenos alunos. Desde que foi publicada, sucessivas gerações de leitores, críticos e artistas têm se inspirado na maestria narrativa desta novela, cuja tradução de Paulo Henriques Britto reconstitui com precisão a elegante contundência do original inglês




“Se uma criança dá ao fenômeno outra volta do parafuso, o que me diriam de duas crianças? Diríamos é claro, exclamou alguém, que elas dão duas voltas! E também que queremos ouvir esta história! ”

E sim, eu também quis saber do que se tratava esta que foi uma das histórias envolvendo fantasmas mais estranhas que eu já li na minha vida! Preparados para uma resenha cheia de peculiaridades? Pois então vamos lá!



Seguindo a clássica linha da maioria das histórias de horror do século 19, a outra volta do parafuso começa com um grupo de amigos reunidos em uma noite de natal contando uns aos outros histórias assustadoras. E um desses amigos é que guarda a história de fantasmas mais assustadora do século! Segundo ele, já é ruim um fantasma atormentar uma criancinha, agora imagine duas criancinhas? E é exatamente isto que acontece na história dele: o famigerado fenômeno outra volta do parafuso.

Mas afinal, o que raios significa “outra volta do parafuso”?

Esta expressão nada mais é do que uma tradução ao pé da letra da expressão idiomática em inglês “the turn of the screw”, que em tradução livre quer dizer “a volta do parafuso”. Este livro editado pela Companhia das Letras resolveu acrescentar o “a outra” em seu título a fim de não confundir o leitor que poderia interpretar o título original como um parafuso voltando... meio estranho, né? Mas relevando este fato, este fenômeno se refere ao fato de uma ação ser horrível, porém devido a outros fatores agravantes, ela acabar piorando ainda mais, inclusive pedindo a tomada de medidas drásticas. É mais ou menos o caso de nada é tão ruim que não possa piorar. O fato de um fantasma assombrar uma criança é ruim, mas no enredo da história, ele não contente com isso, assombra duas crianças!

Dadas as devidas explicações, voltemos ao enredo principal: Após um destes amigos se dispor a contar esta terrível história, ele acaba criando um clima de tensão ainda maior em seus colegas presentes, por dizer que ele precisaria de dois dias para ter acesso aos manuscritos onde foi escrito este fato. Já que ele conhecia quem os escreveu e aquilo foi confiado a ele, pela própria pessoa que presenciou a terrível situação.

“Mas então o manuscrito...? Está registrado numa tinta velha e desbotada, e na mais bela das caligrafias, letra de mulher, e ela morreu ha vinte anos. ”

Bom, após o clima estar totalmente criado e as pessoas estarem apreensivas, e todo mundo tenso, finalmente o nosso narrador Douglas, resolve contar a história.


Uma linda moça, filha de um pároco (espécie de pastor religioso), é contratada por um rico senhor a cuidar de seus dois sobrinhos em uma propriedade dele no interior da Inglaterra. Nem preciso dizer que no melhor cenário a la Cristian Grey e Anastácia de Cinquenta tons de cinza, ela logo acaba se apaixonando à primeira vista pelo irresistível ricaço para qual vai trabalhar. Mas esta não é uma história de amor, e o ricão deixa bem claro suas verdadeiras intenções para com ela.

“Que ela não deveria nunca incomodá-lo – nunca, jamais: nem apelar para ele, nem reclamar, nem escrever-lhe a respeito de qualquer assunto; teria de enfrentar todos os problemas sozinha, receber todas as remessas de dinheiro do advogado dele, assumir toda a situação e deixa-lo em paz. Ela prometeu que o faria, e a mim contou que quando por um momento, aliviado, deliciado, ele segurou sua mão, agradecendo-lhe o sacrifício, ela já se sentiu recompensada. ”

Sim, um simples aperto de mão bastou para a nossa mocinha se sentir recompensada pelo seu amor platônico. E mais do que isso, ela leva totalmente a sério o fato de se responsabilizar inteiramente pelas crianças (o casal de sobrinhos do rico senhor), e toma para si a figura de protetora máxima daquele lar, capaz de tudo pela vida daquelas crianças. Estão percebendo o sentido do título agora? A pessoa capaz de tomar a situação drástica já nos foi apresentada, agora só falta o grande problema, que vai ficar pior. E vamos a ele então!

Tudo começa bem na rotina da casa, e a nossa nova governanta logo conhece os criados e uma das crianças de quem cuidará: Flora, a irmã menor de Miles, o garoto. Seus pais morreram na índia, e agora eles serão educados e criados na Inglaterra. Logo a nossa protagonista (que não é revelado a nós seu nome), se encanta por Flora, uma menininha meiga e gentil. Ao conhecer Miles, porém, uma situação no mínimo estranha acontece, porque em uma carta da antiga escola acaba alegando que o menino é uma péssima influência para os demais.

Fato importante este que nos acompanhará ao longo da história toda, e que merece ser guardado para a posterioridade e entendimento da história.


Apesar dessa carta incriminadora, Miles se demonstra uma criança bastante agradável à primeira vista e inteligente. Vida que segue e nossa heroína no começo consegue tratar de seu serviço muito bem cuidando das crianças...até que acontece o grande problema da nossa história!

“Ele estava em uma das quinas, a mais distante da casa, bem empertigado, foi o que me pareceu, e com as mãos apoiadas no parapeito. Assim eu o via, tal como vejo as letras que traço neste papel; [...] Virou-se, e eu não vi mais nada. ”

Sim, uma aparição um tanto incomum de um homem, que segundo ela é muito bonito, se mostra desta forma para ela. Ela acha tudo aquilo muito estranho, pois acha que já conhece todos os empregados da casa, mas nunca se deparou com aquele. Vai então tirar satisfação com outra de nossas personagens: a criada Sra. Grose, que pelas descrições físicas dadas, diz que seria impossível mesmo ela lhe apresentar este criado, já que ele MORREU!


O nome de nosso fantasma é Peter Quint, um criado de confiança do patrão da casa, que morreu em circunstancias misteriosas. Nossa protagonista no início se vê preocupada com o fato, porém toma ainda mais sua alcunha de guardiã das crianças e promete a si mesma que as protegerá custe o que custar. Mas como eu disse tudo ainda fica pior quando a moça não é visitada somente por um fantasma, mas sim por dois. Em um outro momento perto do lago da casa, uma mulher é vista por nossa governanta e logo desaparece. Esta é a antiga governanta da casa, Jessel, a amante de Peter que fugiu do trabalho e logo foi também dada como morta!


Estas assombrações começam a aparecer vez ou outra para nossa personagem principal, porém somente ela consegue ver. E esta é uma das partes mais ambíguas da escrita do autor. Quem na verdade está sendo atormentado pelos fantasmas? As crianças ou a governanta? No decorrer do livro algumas revelações a respeito do relacionamento que esses criados mortos tinham entre si e com as crianças são feitas, e gente, sério, esta parte do livro é simplesmente de dar nó na cabeça.


Nada é realmente claro no que está acontecendo e abre margem para diversas interpretações. A protagonista em dados momentos parece obcecada em proteger as crianças da má influência dos fantasmas, e situações ocorrem, em que as crianças são colocadas em tal ponto de estresse, que as consequências disto tudo são assustadoras. Não vou revelar mais nada a respeito, pois o livro é bem curtinho e ao me alongar muito eu destruiria totalmente a experiência de leitura. Só digo que eu acredito ser essencial ao finalizarem a leitura, ler o posfácio do livro, pois ele é MUITO esclarecedor. O personagem Miles, para mim em alguns momentos chegou a dar mais medo do que os próprios fantasmas, só posso dizer isso.


Eu recomendo MUITO a leitura deste livro, pois ele vai muito além de uma história de terror envolvendo fantasmas. Ele trata de questões que eu jamais imaginaria encontrar em um livro destes. 

O autor utiliza uma linguagem e forma de contar as coisas tão peculiar que você fica em certas horas imaginando: será que é isso mesmo que eu entendi? Não, não pode ser! É a típica história que vai gerar muitas teorias do que realmente aconteceu naquele lugar. As imagens ao longo desta resenha foram extraídas do filme Os Inocentes que foi adaptado desta história, que aliás é excelente Vale muito a pena conferir, pois o clima dele é bem sombrio.

A edição da Penguin segue o padrão das outras em questão de qualidade, com uma belíssima capa, que traz uma obra de arte feita por Munch, um famoso pintor expressionista, e é extremante acessível. Este clássico da literatura merece uma chance de ser lido, e não apenas isso, dissecado por nós leitores, pois os assuntos nas entrelinhas desta história, rendem muita discussão. 


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8 comentários

  1. Ola Eduardo não conhecia o livro, amei a dica, a premissa do livro já me chamou atenção afinal são dois fantasma para a protagonista, a resenha está maravilhosa destacando pontos que atiçam a curiosidade do leitor. Dica mais que anotada. abraços

    Joyce Penedo

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  2. Acho que o título é para dar outra volta no parafuso que falta na minha cachola.rs
    Que resenha peculiar e intrigante!
    Como não conhecia o livro, fui lendo a resenha e fazendo os desenhos na minha imaginação. Me veio um filme muito bom que vi há alguns anos, Os Outros,mesmo parecendo(digo só parecendo) tem um enredo talvez em certos pontos, semelhante.
    Um fantasma já era u oh, imagina dois!rs(aliás, os gifs ficaram show)
    Vai para a lista de desejados com certeza.
    Beijo

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    1. Olá!!! Sim, Os Outros é claramente inspirado neste livro sim, daí a semelhança que você percebeu!
      Bjs

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  3. Nossa que resenha show, muito boa, apesar de me deixar confusa com algumas coisas e com muita curiosidade, pois nos instiga a querer saber o que realmente acontece, quem está sendo assombrado realmente e porque! Parabéns, os gifs ficaram ótimos, adorei, mais um para a lista infinita.

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  4. Olá! Confesso que não conhecia o livro, mas uma boa história de fantasmas é sempre muito bem-vinda, mesmo tendo um pouco de receio (medinho) quando se trata desse tipo de leitura. O titulo é bem diferente e já me deixa curiosa em iniciar a leitura. Miles já me deixou intrigada, além dessas aparições repentinas de pessoas que supostamente já se foram (literalmente).

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  5. Oi, Eduardo!
    Confesso que eu estava me indagando antes de você explicar o que diacho era "outra volta do parafuso" rsrs, obrigada pela explicação!
    Mas sério que a mocinha do livro é desse tipo, um aperto de mão do seu amor platônico e já se sente recompensada?! Sinceramente não gosto de personagens assim, assim como livros de terror não faz o meu estilo de leitura... por isso eu não leria A outra volta do parafuso. Abraços!

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  6. Eduardo!
    Primeira coisa que vou falar é que nunca tinha ouvido falar sobre o livro e que gosto muito desse terror com fantasmas.
    Uma pena o livro por vezes confundir a cabeça do leitor, acredito que é uma daquelas leituras que temos de fazer com calma e paciência.
    Fato é que parece um bom livro e vale a pena a leitura.
    cheirinhos
    Rudy

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  7. Eu gostei muito da tua resenha, conseguiu sintetizar a história sem esquecer nenhum fato importante. Li esse livro há muitos anos e assisti o filme também, muito bom por sinal, eu acredito que apesar do nome estranho para nós ,ou para muitos, essa explicação da editora é muito certa ,acabaria gerando dúvidas. ..o livro deixa o leitor em suspenso o tempo inteiro.Lembro que ao ler eu sentia medo do menino Miles e não confiava naquela personalidade boazinha não ...Mas o livro é ótimo, os personagens são bem construídos, a trama leva o leitor num suspense e angústia até o fim. Uma leitura pra ser apreciada por quem gosta de suspense. Ótima resenha,deu vontade de reler!

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