Resenha - Sombra e ossos

Alina Starkov nunca esperou muito da vida. Órfã de guerra, ela tem uma única certeza: o apoio de seu melhor amigo, Maly, e sua inconveniente paixão por ele. Cartógrafa de seu regimento militar, em uma das expedições que precisa fazer à Dobra das Sombras – uma faixa anômala de escuridão repleta dos temíveis predadores volcras –, Alina vê Maly ser atacado pelos monstros e ficar brutalmente ferido. Seu instinto a leva a protegê-lo, quando inesperadamente ela vê revelado um poder latente que nunca suspeitou ter.A partir disso, é arrancada de seu mundo conhecido e levada da corte real para ser treinada como um dos Grishas, a elite mágica liderada pelo misterioso Darkling. Com o extraordinário poder de Alina em seu arsenal, ele acredita que poderá finalmente destruir a Dobra das Sombras.Agora, ela terá de dominar e aprimorar seu dom especial e de algum modo adaptar-se à sua nova vida sem Maly. Mas nesse extravagante mundo nada é o que parece. As sombrias ameaças ao reino crescem cada vez mais, assim como a atração de Alina pelo Darkling, e ela acabará descobrindo um segredo que poderá dividir seu coração – e seu mundo – em dois. E isso pode determinar sua ruína ou seu triunfo.

288 páginas || Skoob || Cortesia: Editora Gutemberg ||

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O menino e a menina olharam um para o outro. Como os adultos não estavam prestando muita atenção, não viram a menina apertar a mão do menino nem o olhar trocado entre eles. O Duque teria reconhecido aquele olhar. Ele havia passado longos anos nas fronteiras devastadas do norte, onde as aldeias estavam constantemente sob cerco e os camponeses lutavam em suas batalhas com pouca ajuda do Rei ou de qualquer outra pessoa. Ele tinha visto uma mulher, descalça e inabalável em sua porta, encarar uma fileira de baionetas. Ele conhecia o olhar de um homem defendendo o seu lar apenas com uma pedra nas mãos.

Alina Starkov está prestes a entrar na Dobra das Sombras e se pergunta se sairá viva dela, se Maly sairá vivo dela, se eles a atravessarão juntos, e se algum dia ele deixará de olhar para as outras garotas bonitas e perceber que sua amiga de infância, a magrela pálida e doente que vive tentando alcançá-lo na verdade o ama mais que tudo e todos.

Alina perdeu os pais para a guerra que assoma Ravka à décadas e órfã, foi acolhida pelo Duque Keramsov e por algum tempo se sentiu solitária e infeliz; mas isso não durou muito, quando Maly chegou a casa do Duque eles compartilharam mais do que o trágico destino de perderem todos que amavam, eles partilharam uma ligação, algo tão forte que os manteve unidos por longos anos, os manteve unidos quando os Grishas vieram conferir se eles possuíam poderes, permaneceram juntos quando a governanta os punia, permaneceram juntos quando entraram para o exército do Rei.

Contudo assim que eles adentram a Dobra da Sombras, criada pelo Herege Negro centenas de anos atrás e povoada por volcras, seres horrendos sedentos por carne humana, Alina sente que tudo está errado, que ela tem que sair dali, que Maly corre perigo, que todos correm perigo e quando os volcras os atacam duramente ela sabe que estava certa, ela sabe que eles não vão sair vivos da Dobra mas ela não vai deixar Maly morrer sem lutar.

Garras afundam em sua pele e a dor explode em seu corpo, a mesma dor que ela vê estampada no rosto do homem que ama, e então, algo dentro dela grita, se expande e pulsa. Brilho. Luz intensa e cegante. Gritos e grunhidos e então o nada da inconsciência.

Quando Alina acorda tudo está confuso, ela está sendo escoltada, todos a olham estranho e Maly não se encontra em lugar nenhum... De uma hora para outra ela encontra o Darkling que com sua roupas negras e seus olhos de tempestade a encanta e apavora e com um toque, uma luz se expande dela. Pronto. Num passe de mágica. Num toque amplificado ela se vê sendo levada para longe de todos que conhece e do único que ama para ser treinada como Grisha. Ela é uma conjuradora do Sol. A única existente. A esperança de destruir a Dobra das Sombras e salvar Ravka.

"É claro que cometo erros", disse ele, com um meio sorriso. "Só não é algo frequente."

Assim que Alina adentra o Pequeno Palácio de Os Alta ela percebe que muitas coisas já mudaram e que vão continuar mudando. O Darkling não é tão assustador quanto parece, apesar dele claramente ser capaz de decapitar uma pessoa com sombras, mas a vida no palácio tem lá suas vantagens, ela ganhou uma amiga linda e habilidosa, roupas novas, comida boa todos os dias e horas de treinamento que de início só a fizeram ficar dolorida e cansada.

"E aí?", disse ela, se virando para um lado e para o outro.
"Eu detesto você", retruquei com um sorriso.
"Estou mesmo notável", disse ela, se admirando no espelho sobre a pia.
"Você ficaria ainda melhor com um pouco de humildade."

Porém assim que ela abre seu coração e estende as mãos para seu poder, ele flutua para fora e pela primeira vez Alina respira. E pela primeira vez ela sente que está bem e que as coisas podem melhorar,  pois ela achou seu lugar e sabe que tem um destino a cumprir, entretanto nem tudo é flores e isso se aplica as pessoas, o poder é algo cobiçado e ela logo perceberá em quem seu coração dividido deve confiar.

"Maly", sussurrei no escuro.
"Quê?"
"Obrigada por me encontrar."
Eu não sabia ao certo se estava sonhando, mas em algum lugar no escuro pensei tê-lo ouvido sussurrar: "Sempre".

O livro tem uma edição impecável e é narrado em primeira pessoa e passa rapidinho, isso é, depois que se entende como se lê os nomes e como funciona a hierarquia das coisas por ali.

A autora, Leigh Barbugo, fez um trabalho incrível criando esse novo universo cheio de intrigas, poderes e corações palpitantes, sinceramente admiro muito escritores que criam lugares nunca antes imaginados e os habitam, é meio incrível não? E por mais que no início você se sinta perdida, ainda sim o livro é totalmente explicativo e conforme a leitura avança tudo vai fazendo cada vez mais sentido. Por isso aqui algumas palavras da autora.

Eu culpo Gamynne Guillote por estimular minha megalomania e encorajar meu amor por vilões, Josh Minuto por me apresentar à fantasia épica e me fazer acreditar em heróis, e Rachel Tejada por tantos filmes assistidos depois da meia-noite. Hedwig Aerts, minha amiga rainha pirata, por participar de longas horas de digitação tarde da noite. Erdene Ukhaasai que diligentemente traduziu russo e mongol pelo Facebook. A Morgan Fahey, pelos coquetéis e conversas deliciosas sobre a ficção. E a Dan Braun e Michael Pessah, por manterem o ritmo.

Como já podem imaginar pelo "meu amor por vilões", a trama tem o seu, e devo dizer que foi uma bela surpresa, estava ali, lendo, adorando e querendo saber o que iria acontecer, se eles iriam se beijar, se ele notaria ela, se ela derrubaria ele e então isso acontece, foi meio chocante, um chocante bom, mas ainda sim incrivelmente sagaz!!! Foi sensacional de verdade.

Tudo foi muito bem desenvolvido e só posso dizer que estou louca pela continuação.

Recomendo para aqueles que curta Raphael Draccon, Licia Troisi e outros escritores que mergulham fundo em mundos imaginários e criem vilões apaixonantes e odiáveis, heróis adoráveis, incríveis mas reais e uma bela trama envolvente.