Resenha - Romance Tóxico

15 março 2019

Livro: Romance Tóxico
Autora: Heather Demetrios
Cortesia: Editora Cia das Letras / Editora Seguinte
Páginas: 416
Skoob
Onde Comprar: Amazon
Uma história contemporânea, comovente e incrivelmente honesta sobre como encontrar forças para se libertar de relacionamentos tóxicos. Grace quer sair de casa. Ela se sente sufocada pelo padrasto agressivo e pela mãe obsessiva, que a faz esfregar o chão até toda a poeira (que só ela enxerga) sumir. Quer ir embora da cidadezinha onde mora, na Califórnia, pequena demais para seus sonhos. Quer fugir da vida que leva e se tornar uma artista em Paris, uma diretora de teatro em Nova York… qualquer futuro que seja distante do medo e da solidão que sente. Então ela se aproxima de Gavin: charmoso, talentoso e adorado por todos da escola. Quando os dois se apaixonam, Grace tem certeza de que aquele romance é bom demais para ser verdade. Mas as suas amigas enxergam um outro lado do garoto — controlador e perigoso —, que, com o tempo, vai transformar o relacionamento dos dois em uma prisão da qual Grace será incapaz de escapar sozinha.



Existe leituras que são puro entretenimento, e existe leituras que são necessárias. Romance Tóxico é uma leitura mais que necessária. Choca, nos revolta, tira da zona de conforto e é seu papel trazer essa turbilhão de emoções.

Grace está no ensino médio e tem sonho de sair da cidadezinha que mora. Com uma família problemática — padrasto agressivo e mãe que possui transtorno obsessivo por limpeza — ela vive uma vida difícil e solitária. Um dos seus únicos confortos é o momento que sonha acordada com Gavin, um menino da sua escola charmoso com estilo RockStar, adorado por todos e o qual tem uma paixão.

Certo dia, os dois acabam se aproximando, e dessa amizade surge algo: um relacionamento amoroso nasce. Porém, além da fachada de um menino carismático, Gavin tem atitudes e escolhas controversas. Aos poucos Grace entra em um romance tóxico, onde o término torna-se algo difícil e o relacionamento vira uma prisão. Será capaz dela perceber que está em um namoro abusivo? E Gavin, que atitudes ele toma para transformar o sonho amoroso em pesadelo?



Geralmente quando leio enredos semelhantes a este, tenho que controlar minhas emoções porque é realmente difícil você não se colocar no lugar da protagonista, ainda mais sendo mulher. É um desenvolvimento que cresce no sentido de que as situações e acontecimentos drásticos pioram a medida que o relacionamento continua, e a vontade de querer entrar nas páginas e por um fim a tudo só aumenta. Temos uma construção de envolvimento amoroso pontuada nos sentimentos da Grace, o que nos ajuda junto dela a perceber as mudanças do saudável ao não saudável.

Mais uma vez uma obra transpassa o quanto é difícil quem está dentro de um convívio desse notar que sim, é prejudicial — e isso fica mais claro quando vemos a fala da Grace em relação ao casamento da sua mãe e padrasto, que é um outro relacionamento abusivo, entretanto que a mesma não nota as semelhantes caraterísticas no seu, justificando que é o jeito do Gavin amar. Me pergunto até quando veremos a idealização do amor sobrepujar atitudes incorretas?! A sociedade como um todo leva uma parcela de culpa em querer romantizar algo que não é, pois muitas vezes leva-se tudo como prova de amor. E entendemos que nem sempre é. Um menino que inicia o namoro sendo o perfeito cavalheiro, que tem arestas afiadas — vulgo personalidade forte e autoritária — que mina de pouco em pouco seu psicológico? Não, não é amor!

"Agora olho para aquela garota que te adora, que acha que está segura com você, e quero gritar para que pule do carro e corra o mais rápido possível. Porque você não vai deixá-la extasiada por muito tempo." 

Sobre nossa personagem principal, difícil não criar empatia. Ela vem de uma família instável, de convivência conturbada e acaba entrando de cabeça no namoro por achar que é sua única salvação. Apesar de em diversos momentos me deixar completamente angustiada e tensa com sua insistência em algo que constata-se que não dará certo, ela passa por uma evolução discreta durante a leitura. A Grace da página um não é a mesma Grace da página final, o que me deixa contente. Aprendeu a grande lição que é se colocar em primeiro lugar  — não é spoiler, e logo na primeira página já é perceptível que os dois não estão juntos, o que me deixou aliviada ao longo da leitura em relação ao bem-estar físico dela.

Deixar claro desde o título que o seu conteúdo é um alerta e que sua parte interna é algo que deve ser evitado, para mim é o maior ponto positivo. Estar precavido nos deixa mais antenados em todas as cenas, fazendo com que percebamos atenciosamente como tudo transcorrerá. Ações que às vezes não julgamos como abusivas ou ruins serão vista com outros olhos, nos ensinando a reconhecer os sinais quando algo não vai bem. Mais que um exemplar, serve como lição para levarmos para vida.

Outro assunto que acho importantíssimo ser citado, é o quanto incomodará o sufoco sentido pela nossa protagonista. A necessidade de liberdade da Grace é grande — que já vem sendo constantemente abafada pela família instável — e só cresce a medida que o relacionamento fica cada vez mais insuportável. É nítido nas pequenas brechas de autonomia a transformação da personalidade dela, mostrando o quanto Grace precisava ser conhecer primeiro, sozinha.



E se aqui não temos o apoio familiar como base, temos o apoio das amigas em estender a mão e mostrar os fatos como são. O grupo envolta dela é um dos melhores que já li, em minha opinião. Sensatos nas conversas e conselhos, foram fundamental para por fim na união prejudicial. As amizades das meninas é linda e dá gosto de ler o tempo que passavam juntas. Sonoridade representativa sim!

De uma forma geral, recomendo demais a leitura! Incomoda, tira da zona de conforto e  se faz necessário na época atual. Nos mostra como tudo pode se iniciar belo e transformar-se nos nossos piores pesadelos. Aliás a capa é uma referência, não é?! A narrativa em primeiro pessoa, contada pela Grace no presente é um diferencial. Ela conta como se estivesse falando com ele — usando muito a palavra você — criando uma melhor conexão entre o leitor e a história.

"— Desculpa. Por que estou me desculpando? Não posso controlar o fato de ter dezessete anos, assim como você não pode controlar o fato de ter dezoito. Mas é como se eu sentisse que preciso me desculpar. Como se eu tivesse feito algo de errado só por ser quem sou." 

Saio dessa obra feliz em ver algo assim no mercado literário, com um mensagem importante para um grupo que merece atenção — jovem adulto — e com vários elementos que enaltecem as lutas atuais. Espero que um dia possam ler!



3 comentários

  1. É por ler uma resenha assim, que este livro está na minha lista de mais desejados desde que o vi a primeira vez e soube do que se tratava.
    Realmente acredito também que não há como não se colocar no lugar da personagem, por ser mulher, por sentir medo muitas vezes e saber que estamos vivendo tempos difíceis a todas nós.
    Quantas e quantas mulheres ainda vivem romances tóxicos diariamente. E pelo que li acima, Grace não só carregou o peso do romance, mas também de uma família complicada, igual a muitas que nós vivemos, temos ou conhecemos!
    Espero de coração, ter e ler este livro o quanto antes!!!
    Beijo

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  2. Estou desejando muito esse livro, e depois dessa resenha a vontade de ler só aumentou.
    Estou cada vez mais interessada em leituras necessárias, mesmo sendo desconfortáveis.
    Sinto que essa leitura vai mexer comigo e que vou me emocionar.

    Beijos

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  3. Olá! Desde que vi esse livro, soube que precisava ler (#simplesassim), fico feliz em ver que existem sim histórias que tratam desse assunto tão delicado, que é um romance tóxico, de maneira correta e sem “romantização”. Mas sem dúvida é bem angustiante nos deparamos com uma leitura assim, sabendo que a cada palavra lida, tudo que se passou pode ter acontecido com alguém, às vezes, até mesmo, próximo de nós. Indo mais longe, quem sabe muitos leitores não acabem se identificando com a história e reunindo a coragem que faltava para se libertar de um mundo tão sombrio.

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