Resenha - Máquinas Mortais

09 janeiro 2019

Título: Máquinas Mortais
Autor: Philip Heeve
Cortesia: Harper Collins
Páginas: 320
Skoob
Onde comprar: Amazon / Saraiva

Sinopse: Neste mundo criado por Philip Reeve, a humanidade quase teve um fim em um conflito nuclear e biológico chamado de Guerra dos Sessenta Minutos. O mundo virou um descampado, a tecnologia foi praticamente extinta e todos os esforços humanos se voltaram para um único objetivo: fazer suas cidades sobreviverem. Para isso, elas precisam se mover, se tornando Cidades de Tração, para se afastar da radioatividade e doenças. Londres é uma grande cidade e está sempre em busca de novas cidades para se alimentar, como dita o Darwinismo Municipal: metrópoles consomem as cidades menores, que consomem vilarejos e assim por diante... No meio de um ataque de Londres à uma cidadezinha desesperada, Hester Shaw, uma menina com uma cicatriz horrível, tenta matar Thaddeus Valentine, o maior arqueólogo da metrópole. Valentine é salvo por Tom Natsworthy, um historiador aprendiz de terceira classe. De repente, ambos acabam caindo para fora da Cidade de Tração. Agora perdidos no vasto Campo de Caça, sem uma cidade para protegê-los, os dois precisam unir forças para alcançar Londres e sobreviver a um caminho cheio de saqueadores, piratas e outras Cidades de Tração. Além disso, ao que tudo indica Londres está planejando um ato desumano, envolvendo uma arma não usada na Guerra dos Sessenta Minutos, que pode dar fim ao pouco que restou do planeta...





“Era uma tarde escura de primavera, com ventos fortes, e a cidade de Londres estava perseguindo uma pequena cidade de mineração através do leito seco do velho Mar do Norte. ”

E é deste jeito bem peculiar que somos apresentados ao mundo das Cidades Tração. Mas afinal o que significa Londres estar perseguindo outra cidade? Vamos adentrar nesta resenha eletrizante e descobrir!



A premissa básica desta aventura, é um mundo povoado por cidades que se movem, isso mesmo, cidades motorizadas que se mantém caçando outras cidades menores para agregar seus recursos, praticando uma espécie de "canibalismo". Louco né? Porém bem interessante. O modo como o mundo vive é regido pelo chamado Darwinismo municipal. Onde as cidades mais fortes, e mais rápidas se dão melhor, e consequentemente acabam ficando no topo da cadeia alimentar. 
O livro começa nos apresentando Tom Nathsburry, um jovem aprendiz que faz parte da guilda dos historiadores. Os historiadores são os responsáveis nesse novo mundo por preservarem tudo que foi relacionado a tecnologia e conhecimentos antigos, muito deles perdido na chamada guerra dos sessenta minutos.

Esta guerra é mencionada algumas vezes durante a história, mas nunca detalhada apropriadamente. O que sabemos é que provavelmente que a partir dela, que o mundo vivenciado por nossos protagonistas surgiu. Dá se a entender que estamos falando de uma guerra nuclear que devastou o planeta e foi responsável por deixar um legado permanente sobre a Terra, influenciando as cidades a buscarem seus recursos, já que não o mais dispunham ficando paradas.

Mas, voltando ao enredo, após sermos apresentados a Tom, logo descobrimos que Londres, onde ele vive, uma das maiores e mais importantes cidades-tração do mundo, está perseguindo sua presa, uma pequena cidade mineradora. Dispondo de bastante tecnologia que chamamos de steampunk, finalmente Londres captura a cidade menor e acompanhamos o que acontece quando a cidadezinha é devorada por Londres. Não fica exatamente claro de início se as pessoas que viviam na cidade apenas morrem, ou de algum modo são agregadas a cidade, porém, pelo termo utilizado no livro, o de canibalismo urbano, já temos uma ideia do que possivelmente ocorre.

“A cidade mineradora viu o perigo e se virou, mas as grandes esteiras sobre Londres estavam começando a rolar cada vez mais rápido. Logo a cidade estava em pesada perseguição, uma montanha de metal em movimento que subia em sete andares com as camadas de um bolo de casamento, os níveis mais inferiores englobavam a fumaça do motor, as moradias dos ricos em branco reluzente ficavam nas plataformas mais altas e, sobre todas as construções, a cruz da Catedral de St. Paul em ouro brilhante, seiscentos metros acima da terra arruinada. ”

Tom, tem como principal referência Thaddeus Valentine, um historiador lendário que fez grandes descobertas para Londres, inclusive de uma certa “coisa” conhecida como MEDUSA, ganhando fama e respeito por todo o mundo, mas disso falamos mais tarde.


Após acompanharmos pelos olhos de Tom a perseguição de Londres para com essa outra cidade menor, somos transportados para as entranhas da cidade tração, que é onde o trabalho sujo acontece. Os aprendizes de engenheiro e os chamados catadores, veem ali seu campo de trabalho, assim como alguns aprendizes de historiadores, espoliando tudo o que puderem das sobras da cidade “devorada”, desde peças novas para implementar Londres até algum resquício de tecnologia antiga que a cidade capturada eventualmente manteve. Valentine e sua adorada e linda filha, Katherine acompanham o trabalho de Tom, tentando conseguir algo de útil naquilo tudo.

“- Sr. Valentine, veja uma antiguidade! Valentine alcançou a caixa e levantou o disco, inclinando-o de modo que uma luz como um arco-íris se precipitasse em sua superfície. – Isso Mesmo, os antigos utilizavam isso em seus computadores, como uma forma de armazenar informações”

A partir daí a vida de Tom e Katherine mudará completamente. Mais uma personagem chave é apresentada e é aí que as coisas vão começar a tomar forma na narrativa. Em meio as entranhas da cidade, uma figura que se passa por um dos catadores, sorrateiramente faz um movimento mortal em direção a Valentine com a intenção de mata-lo e com seus reflexos apurados, Tom consegue impedir a tragédia e  parar o algoz de seu grande ídolo. Porém a figura misteriosa se revela como Hester Shawn, e acusa Valentine de ter matado sua mãe, e daí sua atitude para com Valentine se justificaria. Tom persegue Hester até a calha de lixo da cidade, porém ela se joga para o mundo exterior conseguindo escapar. Valentine vai atrás de Tom e pergunta a ele o que ele ouviu de Hester, e após sua rápida explicação, Valentine empurra Tom para o lixo na intenção de mata-lo. O Clima da história a partir deste ponto então é definido, começamos a ler descrições bem eletrizantes.

“Tom sentiu uma grande e gentil mão sobre seu ombro e então – nunca teve certeza de como aconteceu – uma torção, um empurrão, e ele foi lançado por sobre o corrimão e estava caindo, assim como Hester Shawn caíra, agarrando-se violentamente para segurar o metal liso à margem da calha de lixo. Ele me empurrou, pensou, e foi mais surpresa que sentiu do que medo quando a garganta negra o engoliu no escuro. ”

Após se ver fora de sua amada cidade Londres, Tom encontra em Hester uma aliada nada provável e os dois, perdidos no mundo exterior chamado de campo de caça pelas cidades tração, irão passar por perrengues que os obrigarão a se unirem pela sobrevivência. O mundo que o autor criou aqui é nos apresentado mais graficamente e notamos pelas descrições o que a Terra se tornou após a guerra e após um longo período de tempo.

Percebemos muito da personalidade dos dois nessa aliança inesperada e acabamos encontrando em Hester uma menina bastante sofrida e que utiliza a raiva para esconder seus verdadeiros sentimentos. Uma personagem bem complexa até. Já Tom é tudo aquilo que o bom e velho herói adolescente é, corajoso, órfão e pronto para qualquer combate, mesmo sabendo que não pode ganha-lo.

Enquanto isso, também acompanhamos em Londres, Katherine, que presenciou tudo nas entranhas junto ao pai, e se vê em um conflito, já que ele não parece ser aquele herói que todos veneram afinal. E finalmente quando se vê sozinha, em uma ausência de Valentine em uma missão para o prefeito de Londres, vai investigar tudo o que puder sobre o passado do próprio pai e se depara finalmente com MEDUSA. Só posso dizer que MEDUSA, é uma máquina tão temida que pode colocar cidades abaixo em um piscar de olhos, e os planos de Londres para com ela não são nada bons.

A partir daí a história começa a ter um tom bem mais aventureiro e elementos como “homens renascidos” que são uma espécie de ciborgues assassinos utilizados na guerra dos sessenta minutos e cidades flutuantes, ajudam a constituir a originalidade da história. Acompanhamos Tom e Hester pelo mundo a fora e conhecemos cada vez mais como esse mundo pós-apocalíptico funciona e essa é a graça de tudo, ir descobrindo aos poucos o universo criado pelo autor. Após Hester se abrir com Tom e contar toda sua motivação, Tom decide ajudá-la e os dois têm como objetivo principal voltar a Londres e por um ponto final no que Valentine misteriosamente fez com sua descoberta MEDUSA.


De maneira geral, eu achei o livro bastante divertido, porém bem previsível em algumas partes. Como toda aventura infanto-juvenil, ele possui algumas reviravoltas bem óbvias, mas apesar disso, eu achei a história bem divertida e o cenário me agradou bastante. De todos os personagens Hester acabou se tornando minha favorita, por demonstrar um pouco mais de profundidade que os demais, e não ser a típica heroína padrão que é bonita e perfeitinha. A edição da Harper Collins está muito caprichada e os detalhes no início de cada capitulo ajudam a constituir a edição de maneira primorosa. Ah e vale lembrar que esse é o primeiro livro de uma série, chamada Crônicas das cidades famintas.

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11 comentários

  1. Este livro também inspirou um filme que está para sair? Claro que se não tem algum engano da minha parte..rs
    Adoro enredos assim e lendo a resenha, me meio à mente nitidamente Jogos Vorazes, por isso de distritos maiores, menores. No caso do livro acima, cidades indo atrás de outras cidade em busca de algo que fosse útil.
    Primeira resenha que leio e com personagens jovens,mas muito bem construídos, com certeza, quero muito poder conferir sim!!!
    Vai para a lista de desejados.
    Beijo

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  2. Eu lembrei imediatamente do filme Blade Runner .
    Sinto um verdadeiro pânico com esse tipo de história, parece mais uma visão funesta do futuro..guerras,destruição, luta por sobrevivência, cidades maiores que se alimentam de cidades menores...medo.
    Mas apesar de ser um livro infanto-juvenil fiquei muito interessada, os personagens são bem construídos e eu gostaria de saber o que Valentine esconde, deve ser um segredo muito forte e acho que tem a ver com Medusa.
    Muita coisa para descobrir nesse livro, apesar de assustar esse futuro apocalíptico.
    O único ponto negativo é ser uma série.
    Achei a capa muito bem feita.
    Mais um para a lista!

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  3. Oi Eduardo tudo bem?
    Eu gostei bastante da premissa do livro, e principalmente do cenário na qual ela se passa, Londres.
    Fiquei bem curiosa para descobrir um pouco mais sobre essas Cidades motorizadas e o darwinismo municipal, que é bem cruel de se pensar.
    Gostei da capa e quero ler o livro.
    Beijos

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  4. Ai meu Deus, se já me perdi na resenha, que dirá na leitura desse livro completamente fora da minha zona de conforto. De cara achei a idéia super bacana misturar a lei de Darwin nessa ficção cientifica, ter cidades "mais fortes" motorizadas que sobrevivem e ganham força com o canibalismo??? ahahahah muito louco. Quando entrou Tom na historia comecei a me perder, ele perseguia e ficada observando essa tomada de terras ou seu objetivo era parar isso tudo??? Enfim, tirando o tom aventureiro com que tu descreveu, nada dele me agrada, não é meu estilo de leitura.

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  5. E quando a gente acha que os autores não podem mais nos surpreender, vem algum e nos surpreende com cidades que caçam outras cidades. Sim, isso é muito louco.
    É a 1° vez que vejo esse livro; tenho a impressão que a história tem um início mais lento por conter muitas informações, e são muitos elementos desconhecidos.
    Surpresa que seja uma leitura divertida, esperava ser outra coisa - apesar de não encontrar a palavra certa.
    Confesso que não senti vontade de ler no momento, mas se é juvenil, vai agradar bastante os leitores do gênero.

    Beijos

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  6. Parabéns pela sua resenha, muito bem escrita, nos desperta a curiosidade sem nos dar spoilers, me deixou interessada mesmo não sendo meu tipo de livro, mas realmente parece muito interessante.

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  7. Olá! Eita que eu gostei de tudo que o livro traz! Como fã de fantasia, sem dúvida, quero conferir mais dessa história que mostra ser bem forte e cheia de aventuras, afinal o autor criou um mundo bem diferente e maluco. Só fiquei receosa com o fato da história acabar se tornando um pouco óbvia, até que ponto isso atrapalha a leitura? Em se tratando de uma série, já fica aquela expectativa pelos próximos (coisas de leitor).

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  8. Eduardo!
    Gosto muito dos livros de steampunk, é uma fic~ção que me agrada muito e aqui as cidades são 'ambulantes', achei a ideia sensacional, bem como o fato de estarem em busca de nova subsistência, fantástico.
    cheirinhos
    Rudy

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  9. Oi Eduardo,
    Olha, eu ando lendo poucas distopias, acredito que por estar achando os enredos com os mesmos elementos...
    Não nego que é bem escrito, real de certa forma, afinal, é um jogo de poder entre cidades, que sabemos que acontece nas entrelinhas, mas não tenho tanta empolgação em ler.
    Já havia visto o trailer do filme, e esse sim me empolga, principalmente por levar o nome do Peter Jackson.
    Beijos

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  10. Tenho que confessar que quando vi o trailer do filme achei a ideia meio aleatória e sem sentido, mas agora que descobri que tem um livro e pela resenha consegui entender um pouco mais a ideia do autor, porém não é algo que me atraia a leitura, mas adoro essas histórias de jornadas pela sobrevivência e brigas por poder. E espero que Valentine se de mal no fim pelo o que ele fez a Tom kkk. Agora vou só esperar pelo filme, pois aparenta estar com uma produção incrível.

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  11. Descobri recentemente a existência de um filme inspirado na obra e creio que o fracasso de bilheteria me permitiu não saber sobre a existência de Máquinas Mortais. Entretanto, eu adorei a ideia do livro, uma cidade sobre rodas e uma garota com desejo de vingança é tudo para um enredo cheio de aventuras e possíveis reviravoltas. Porém, a abundância de direcionamento ao público jovem-infantil e as reviravoltas óbvias relatadas na resenha não me motivaram tanto assim. Eu classificaria um livro como um passatempo, quando você quer ler algo que irá te agradar, mas não te surpreender ou quando o leitor encontra-se numa ressaca literária. Fora isso, não arriscaria.

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