Resenha - Frankenstein

19 novembro 2018


Título: Frankenstein
Editora: DarkSide Books
Ano: 2017
Páginas: 299 (com os contos extras)
Skoob
Onde comprar: Amazon , Saraiva

Victor é um cientista que dedica a juventude e a saúde para descobrir como reanimar tecidos mortos e gerar vida artificialmente. O resultado de sua experiência, um monstro que o próprio Frankenstein considera uma aberração, ganha consciência, vontade, desejo, medo. Criador e criatura se enfrentam: são opostos e, de certa forma, iguais. Humanos! Eis a força descomunal de um grande texto.

Quando foi a última vez que você teve a chance de entrar em contato com a narrativa original desse que é um dos romances mais influentes dos últimos dois séculos? Que tal agora, na tradução de Márcia Xavier de Brito? Além disso, esta edição conta com quatro contos sobre a Imortalidade, em que Shelley continua a explorar os perigos e percalços daqueles que se arriscam à tentação de criar vida: “Valério: O Romano Reanimado”; “Roger Dodsworth: O Inglês Reanimado”; “Transformação”; e “O Imortal Mortal”, histórias pesquisadas e traduzidas por Carlos Primati, estudioso do gênero.



Existe um motivo para que um clássico seja considerado um clássico. Existe um motivo para que, depois de tanto tempo, a gente ainda queira lê-lo.

A edição de Frankenstein da DarkSide Books vai além da história simples e pura. Ela conta com alguns prefácios que nos elucidam o contexto geral da história, como por exemplo a noite em que ela foi concebida.

Na citação abaixo Márcia Xavier de Brito introduz o dilema principal da história:


“Mary era sábia... Frankenstein torna-se uma fábula moderna para os riscos do orgulho intelectual desmedido. [Quem é o verdadeiro monstro em Frankenstein? A criatura sem nome, de aparência repugnante, ou o criador, Victor Frankenstein, com seu egoísmo, seu orgulho e seus conhecimentos monstruosos...”

Como é possível perceber, “Frankenstein” não é a história de um monstro terrível que ganha vida em uma noite de tempestade e sai pelas cidades aterrorizando as pessoas. Antes disso, é a história de Victor Frankenstein, um estudante de ciências naturais que acredita ser possível criar a vida unindo partes aleatórias de seres mortos. Para isso ele passa várias noites em cemitérios recolhendo o material que acha necessário. O monstro, portanto, nada mais é do que a criação de uma mente perturbada que acredita poder tudo.

A história foi escrita entre os anos de 1816 e 1817, publicada pela primeira vez em 1818 e depois em 1831. É considerado um romance de terror gótico. Apesar disso, minha percepção é de que o livro envereda por um caminho quase filosófico, questionando o certo e o errado, o que pode e o que não pode, os limites que não devemos cruzar. O livro é todo narrado por meio de cartas de Robert Walton, um desbravador dos mares, para sua irmã, contando sobre sua viagem e o encontro com Victor, bem como suas memórias. Como e quando os dois se encontram faz parte de toda a história de Frankenstein – o criador – portanto é necessário ler para entender. E aqui vale ressaltar que a leitura desse livro, apesar de rica, pode ser bastante difícil, uma vez que foi escrito há tantos anos, bem como narrado de forma lenta, principalmente no início.
“Um dos fenômenos que atraíram de modo peculiar minha atenção foi a estrutura do corpo humano e, decerto, de qualquer animal dotado de vida. Por isso, muitas vezes perguntei-me de onde procedia o princípio da vida... Colecionei ossos de Jazigos e perturbei, com dedos profanos os segredos tremendos da figura humana.”
“Era quase uma da manhã; a chuva triste tamborilava nas vidraças e minha vela já quase se apagava quando, por um bruxuleio de uma luz semiextinta, vi o olho amarelo e baço da criatura; ela respirou fundo e um movimento convulsivo agitou seus membros.”
“Oh! Nenhum mortal poderia suportar o horror daquele semblante.”


(Um adendo para falar da beleza que é esta edição da DarkSide Books... cheia de ilustrações primorosas).

Quando Victor se depara com a monstruosidade de sua criatura ele percebe que nunca deveria tê-lo criado. Porém, agora que o monstro “sem nome” vive ele não consegue tirar essa vida, muito menos consegue suportar uma convivência com a criatura. E, em minha opinião, aí está a raiz de todo o problema. O criador, não suportando o horror do que criara, abandona o monstro a própria sorte.

O monstro, sem nome, por sua vez, é como uma criança num mundo hostil. Ele não entende quão grotesca é sua aparência e não compreende por que as pessoas têm asco dele. Por isso ele se isola, tudo o que aprende é observando uma família de dentro de um esconderijo. Até que algo terrível acontece – precisa ler para saber – e isso desperta nele o que de mais perverso o ser humano pode ser. É quando o mal toma conta dele. Mas, de certo modo, é possível compreendê-lo e até mesmo ter empatia por esse ser tão desprezado e incompreendido. Até mesmo quando fica cara a cara com seu criador o questiona sobre compaixão e a solidão na qual é obrigado a permanecer.
“Como posso persuadí-lo? Súplicas lhe farão voltar os olhos favoravelmente para a criatura que implora à sua bondade e compaixão? Creia-me Frankenstein, fui benevolente; minha alma ardeu de amor e de humanidade; mas não estou só, miseravelmente só? Você, meu criador, me abomina, que esperanças posso ter de seus semelhantes, que nada me devem?...”


Eu amei cada pedacinho lento dessa narrativa tão rica em pensamentos e reflexões. Apesar de ser classificado como terror gótico, ele não nos imputa susto ou medo. Muito pelo contrário. A narrativa nos enreda e nos faz caminhar pelos recônditos sombrios e esquecidos da mente. Em certos momentos eu via o monstro, criatura de Frankenstein, como uma criança abandonada tendo que descobrir por si só as mazelas do mundo. É triste, e deprimente. Talvez nesse momento eu concorde com o termo gótico, mas não com o terror. E, apesar de todo o sofrimento que o monstro imputou a Frankenstein, ele não sentia que estava satisfeito, não valeu a pena.

Enquanto eu lia a história tive sentimentos ambíguos. Me pegava, muitas vezes, sentindo pena da criatura que Frankeinstein criou e depois abandonou a própria sorte, mas depois sentia muita raiva das coisas que ele fazia em nome de uma vingança. Ele generalizou as ações ruins de alguns seres humanos, assim todos deveriam pagar. O mesmo aconteceu com Victor.
Para mim, há dois monstros nessa história. Todos cometeram erros e inocentes pagaram por isso.


“Enquanto destruía suas esperanças, não satisfiz meus desejos.”

O que a ambição sem limites pode fazer com a vida das pessoas? Fica a reflexão.


“Seria o homem, ao mesmo tempo, de fato, tão poderoso, virtuoso e magnífico e, no entanto, tão vicioso e desprezível?”
“Como nossos sentimentos são mutáveis e como é estranho o amor com que nos apegamos à vida mesmo quando nos resta apenas a infelicidade!”

Inscrições Abertas - Participe !


11 comentários

  1. Que edição memorável da DarkSide! Está virando clichê eu afirmar que é minha Editora favorita, mas olha aí que trabalho impecável. Que ilustrações maravilhosas e trazendo não apenas o Frankenstein de antes,mas muito mais da vida do seu gênio criador!
    E adorei ler que há essa pequena introdução quase poética da criatura e criador!
    Um clássico é um clássico e pode passar o tempo que for, a gente sempre vai querer mais!
    Beijo

    ResponderExcluir
  2. Eu sou doida pra ler esse livro! É um dos clássicos qur mais me interessam! Um dos primeiros livros de ficção científica e escrito por uma mulher! Realmente, há um motivo para um clássico ser um clássico!!! Amei as fotos, queria até mais pra ver cada pedacinho do livro!

    ResponderExcluir
  3. Olá! As edições da Darkiside são simplesmente maravilhosas e um verdadeiro chamariz para conhecer um clássico desses, Brasil. Eu confesso que sobre Frankenstein e sua origem só conheço o que vejo em filmes, mas com uma edição dessas, fica difícil resistir (risos). E ainda tenho um incentivo a mais, afinal a obra não puxa tanto para o terror, o que para mim, é um baita ponto positivo.

    ResponderExcluir
  4. Não conheço muito bem a história do Frankenstein, e foi surpreendente saber que é muito mais do que um livro de terror.
    Toda essa questão filosófica é interessante, faz refletir... Que bom que não tem tanto terror.
    O pouco que vi desse monstro foi em desenhos e animações, então acabo achando ele fofo.

    Beijos

    ResponderExcluir
  5. Oi Mayra.
    Quero muito ler esse clássico.
    Essa edição da DarkSide está lindíssima. Adorei saber que há um contexto histórico sobre a obra. Isso ajuda bastante o leitor a se situar sobre os costumes da época, além da contextualização política, que influencia bastante na trama do livro.
    Acho que eu iria me sentir como você. Provavelmente iria compreender e até me simpatizar coma c criatura, por ter sido abandonada num mundo em que ela não conhece nada nem ninguém, mas depois ficaria com raiva das crueldades cometidas por ela.
    Espero ler o livro em breve.
    Beijos

    ResponderExcluir
  6. Oi Mayra,
    Raramente eu vejo alguém que teve as mesmas impressões que eu n historia de Frankenstein. Conheço a edição mais antiga, e já tive oportunidade de ler a original, claro que ela tem suas diferenças dessa, mas o sentido é o mesmo... Sempre me peguei pensando no real monstro, em como a psicopatia esta presente nesse enredo, e nas reflexões que ele traz. É bem mais profundo que imaginamos!!
    Quero muito essa edição, vi algumas fotos, e ela da vida a esse clássico, esta belíssima.
    Beijos

    ResponderExcluir
  7. Nunca li Frankesntein, mas essa edição da Darkside encheu meus olhos de desejo. Eu também já tive essa sensação nos filmes que vi, entre enxergá-lo como monstro assustador ou sentir pena. As ilustrações parecem incríveis. Quero muito pra mim. Muito legal esses extras que essa edição traz.

    ResponderExcluir
  8. Oi, Mayra!
    Confesso que nunca tive interesse em ler o clássico Frankenstein, nem mesmo assistir adaptações do livro... acho que é por causa de que se trata de uma história triste - pelo menos pra mim é - onde uma criatura foi criada por uma pessoa egocêntrica que acaba o abandonando ao finalmente ter noção do que fez, deixando a criatura se virar sozinha em um mundo tão hostil... Mas concordo com você, há dois monstro na história de Frankenstein, ambos, criador e criatura, erraram.
    Ps: que edição incrível essa, hein?! A DarkSide Books arrasando como sempre!

    ResponderExcluir
  9. Nunca tive medo do Frankstein, não sei se porque nos filmes que via ele era sempre meio bobo, mas se parar pra pensar é perturbador a forma que ele foi criado, imagina ler uma manchete dessas nos dias de hoje? Deve ser solitario ser criado por uma pessoa e depois esqueci a sorte, mas não sei se seria do meu interesse ler esse livro, nunca gostei de ler classicos. E como sempre as edições da Darkside são lindas de morrer.

    ResponderExcluir
  10. Olá!
    Uma historia tão clássica que vem de geração a geração. Eu não li nada sobre ele mais estou bastante curiosa para ler e conhecer mais essa magnifica historia. A edição da editora estar uma maravilha, como sempre arrasando.

    Meu blog:
    Tempos Literários

    ResponderExcluir
  11. Ainda não li esse grande clássico, mas essa edição está muito linda. Essa história é incrível , eu gosto de tudo que se refere à essa obra, o lado psicológico, o clima gótico , a corrupção dos personagens, os desejos de superação, de querer o impossível, até hoje em dia ,os homens buscam na ciência imitar a Deus, criando seres , tentando superar o criador. Como no livro o doutor Victor se desespera ao ver que sua criação sai de seu controle, e com vida própria ameaça a segurança das pessoas próximas.
    Darkside sempre capricha, um luxo esse livro. Um clássico imperdível.

    ResponderExcluir

Licença Creative Commons
O site I LOVE MY BOOKS por Silvana Sartori está licenciado com uma Licença
Creative Commons Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional.
Por isso, qualquer contéudo aqui presente como resenhas, fotos e Colunas publicadas são exclusividade. RESPEITE e NÃO COPIE, pois PLÁGIO é CRIME!


Instagram

I Love My Books - Blog Literário . Berenica Designs.