Resenha - À espera de um milagre

13 março 2018

Título: À Espera de Um Milagre
Autor: Stephen King
Editora: Companhia das Letras / Selo Suma de Letras
Skoob
Páginas: 400
Onde comprar: Saraiva / Amazon / Submarino

Uma trama de mistério e terror, ambientada nos anos 30, em plena Depressão americana, num cenário de desespero e sufoco: a Penitenciária de Cold Mountain. Stephen King foi buscar no lado mais sombrio de sua imaginação a história assombrosa de John Coffey, condenado à morte, e seu encontro fatal com o carcereiro Paul Edgecombe. Nas telas, o diretor Frank Darabont recria a história magistral de King, com Tom Hanks interpretando o guarda Edgecombe.



Paul Edgecombe é um senhor idoso que mora em um asilo. Um dia, naquele lugar monótono e sossegado, começa a relembrar a época em que trabalhava como chefe dos guardas na Penitenciária de Cold Mountain, lidando com os prisioneiros do corredor da morte em seus últimos momentos. Apesar de ele ter se responsabilizado por vários tipos de criminosos, um deles foi o que mais lhe marcou: John Coffey. Afinal, foi o único preso que lhe fez sentir dúvida se Coffey realmente merecia ter seu fim na Velha Fagulha, a cadeira elétrica. Lá no Bloco E da penitenciária, ele cuidava de uma equipe de guardas excelente e amigável como Harry, Dean e Brutal. Exceto por um homem presunçoso chamado Percy Wetmore, que estava trabalhando lá apenas por ser o sobrinho do governador. Por sempre ameaçar os outros guardas de sua posição privilegiada, gostava de ser maldoso a ponto de passar dos limites morais e éticos com os presos. 

O detalhe que faz John Coffey ser tão memorável para Paul é que ele não pode ser comparado a nenhum outro condenado que já cuidou, tanto na aparência como na individualidade. Primeiro, porque ele é um negro forte que possui mais de dois metros de altura e que foi sentenciado à morte por ter estuprado e assassinado irmãs gêmeas de 9 anos. Segundo, porque sua personalidade não condiz em nenhum aspecto sobre a sua aparência amedrontadora: é analfabeto e desprovido de inteligência, tem muito medo do escuro, não exibe nenhum sinal de comportamento violento e passa a maior parte do tempo no catre da sua cela chorando. Como um homem assim poderia ter feito algo tão horrendo e cruel àquelas meninas?

"Respirava em espasmos, com o peito se enchendo até forçar as fivelas dos suspensórios do macacão e depois soltando o imenso volume de ar em outro daqueles uivos. Frequentemente lemos nos jornais que “o assassino não demonstrava nenhum remorso”, mas não era o que se via ali. John Coffey estava dilacerado pelo que fizera. Mas sobreviveria. As meninas não. Elas tinham sido dilaceradas da forma mais literal.”

Sua data de execução já está marcada para dali a uns meses e tudo que Paul deseja é que Coffey não dê trabalho até lá. Mas conforme o vai conhecendo, vê que não se trata de um homem qualquer, e não somente por causa dos crimes terríveis. Há coisas muito misteriosas nas mãos daquele homem e Paul quer descobrir tudo que puder sobre ele. Enquanto lida com essa questão, também se ocupa com outros criminosos peculiares, como um francês que se ocupa em domesticar um rato e ensinar vários truques, e um jovem imprevisível que demonstra ser um psicopata.

Através da escrita, Paul revela como era a rotina de um guarda de prisão, como são feitos os procedimentos, os relatórios, as execuções e toda a preparação que existe antes de elas ocorrerem. Ele escreve, sobretudo, tudo que consegue se lembrar daquele ano de 1932 e todos os terríveis acontecimentos que ficaram marcados para sempre.


Eu sei que a adaptação desse livro é muito famosa, mas por incrível que pareça, ainda não havia tido a oportunidade de conhecê-la e felizmente consegui evitar spoilers até o momento em que iniciei minha jornada nessa história. Sou imensamente grata por isso, pois, do contrário, teria deixado de me surpreender com as grandes reviravoltas das últimas partes. É impossível esperar por algo assim! Juro que não imaginava que cada pequeno acontecimento levaria a aquilo e confesso que estou até agora chocada com o modo que as coisas terminaram naquele ano de 1932. Eu sabia que estava correndo alguns riscos ao ler um livro do Stephen King, afinal, estou acostumada com o tom de desesperança que ele atribui a maioria de suas obras, mas não esperava que esse sentimento fosse transmitido de um modo tão intenso. Ele realmente me pegou de surpresa e me deixou desbulhada em lágrimas.

Eu sabia que iria gostar do livro antes mesmo de ler. Em primeiro lugar, porque as pessoas sempre falam muito bem do filme, que já levou várias indicações para prêmios; e em segundo, porque foi criado por nada mais, nada menos que Stephen King, meu escritor favorito. Essas eram as minhas expectativas, eu sabia que o livro seria emocionante e só. Optei por nem mesmo ler a sinopse até o final, pois queria ser surpreendida. Felizmente, minhas expectativas foram superadas e o livro acabou entrando para os favoritos da vida!

O Stephen King sabe como ninguém deixar o leitor imerso nas histórias que cria. Essa é uma artimanha que vai nos atingindo aos poucos, sem que percebemos de imediato; nossa confiança torna-se conquistada página por página. Tendo em vista que os últimos acontecimentos do livro são pesados, surpreendentes e chocantes em comparação ao início, vocês podem imaginar como me senti quando cheguei até lá. Completamente desolada!

À Espera de Um Milagre se trata de uma história profundamente triste, mas que merece ser lida por todas as pessoas do mundo. Não é apenas um livro qualquer onde o autor inseriu alguns elementos para tornar a história mais dramática exclusivamente, mas sim de um enredo bem construído e fundamentado que nos deixa curiosos e intrigados em seu desdobramento, que, no fim, acaba fazendo morada em nossos corações. Apesar de ser ficção e conter elementos sobrenaturais, é uma história que possui o poder de nos ferir tanto a ponto de nos fazer questionar as noções básicas que sabemos sobre Deus, religiões, justiça, preconceitos, milagres. O livro nos ensina que, embora as aparências descrevam uma verdade, nem sempre estamos enxergando o todo. E, às vezes, há coisas que são impossíveis de serem explicadas.

“Há uma frase que li em algum lugar e nunca esqueci, algo sobre “um enigma envolto num mistério”. Isso é que John Coffey era e acho que a única razão pela qual ele conseguia dormir de noite era porque não se importava. Percy o tinha chamado de idiota, o que era cruel, mas não estava longe da verdade. Nosso garotão sabia o próprio nome e sabia que não se escrevia como o que se toma com leite, e isso era mais ou menos tudo o que lhe importava saber.”

Um dos meus personagens favoritos, sem dúvidas, é Brutus Howell, apelidado pelos guardas carinhosamente de Brutal. Ele é um cara grande e forte que fala direto na lata, não se preocupa em soar elegante em suas palavras como Paul. Mas apesar da sua aparência intimidante, é fácil notar os traços de gentileza e empatia nele, e de como gosta de lutar e dar o melhor de si para defender as pessoas que confia. Brutus é uma mistura perfeita de força e compaixão, de brutalidade e empatia.

Percy é um personagem intrigante e repulsivo. No momento em que ele aparece na história, já notamos em suas primeiras palavras que não se trata de uma pessoa boa e ética, mas no decorrer das páginas, quando observamos melhor suas atitudes, ele também soa um tanto inofensivo; como um cão que late muito, mas não morde. Porém, ele ainda pode causar muito estrago, especialmente por estar sempre exibindo suas conexões com o governador, já que é parente próximo. Está a todo o momento querendo aparentar como uma pessoa inatingível e que pode fazer qualquer coisa, pois sairá impune disso. Ele gosta de ostentar sua posição privilegiada aos outros guardas, como uma forma de se sentir superior, logo, sempre que ele surge ali no meio de algum problema importante, é inevitável nos sentirmos um pouco aflitos, ansiosos pela próxima surpresa desagradável. Se trata de um personagem que dá o ar da tensão na história a todo o momento.


O livro é dividido em seis partes e amei como as histórias foram se conectando, relacionando o Paul idoso com o Paul mais jovem, de 1932, e do modo que ele foi acessando suas memórias e segredos enquanto precisava lidar e conviver com as pessoas da casa de repouso em que se encontra atualmente. Nós sentimos a urgência dele ao escrever sobre aqueles tempos misteriosos e difíceis, e como é tão importante anotar tudo com tanta precisão.

A escrita é em primeira pessoa e apesar de Paul estar narrando a história, ela diz muito mais sobre John Coffey do que sobre ele mesmo. A diagramação está ótima, não encontrei erros de revisão e mesmo a capa não ser tão grandiosamente ornamentada, eu gosto muito dela, especialmente porque a cor azul está mais predominante. Recomendo muito esse livro e espero que ele toque as pessoas do mesmo modo que fez comigo. Entrou para a lista dos favoritos do autor e da vida!


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9 comentários

  1. Mds. Eu não sabia que existia o livro, eu não me canso de assistir o filme, a primeira vez que vi o filme achei interessante a história e gostei bastante. Nunca vou me cansar de assistir, a história em si é muito linda. Agora sabendo que existe o livro já quero comprar o livro.😍😻💜

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  2. Eu assisti o filme a um bom tempo atrás, acho até que quando foi lançado e achei extremamente triste, não sei se teria coração para ler o livro que geralmente é infinitamente mais detalhado. Embora eu ache a escrita do King um pouco confusa demais não me vejo chorando nesse livro, por conta disso. Mas certamente é uma historia linda que vale a pena ser lida.

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  3. Ah...suspira por este livro e também o filme!
    Acabei lendo o livro há muito tempo, bem na época que o filme foi lançado e é realmente uma obra que precisa e deveria ser lida por todos os leitores do mundo.
    King é mais genial ainda, principalmente em colocar em cada página o peso que era o corredor verde. A gente se sente lá, pisando no chão frio, sentindo as dores impressas nas paredes.
    Percy é um pobre infeliz,mas ele precisava existir para que alguns acontecimentos viessem à tona.
    Deu vontade reler!rs
    Beijo(show de resenha)

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  4. Amanda!
    Para mim é o melhor livro do King, totalmente emocionante e chorei muito também como você.
    Confesso: sou totalmente rendida a esse livro em especial de King (e do filme também...já assisti muitas e muitas vezes), para mim é o melhor enredo e a mensagem subliminar é ainda mais profunda.
    As personagens são intensa e fortes e apesar de todo drama, suspense e um certo terror em determinados momentos esporádicos, ao final de tudo a história que fica é o verdadeiro amor... é meu ponto de vista.
    “Os lírios não bastam. As leis não nascem das flores. Meu nome é luta, e escreve-se na história.” (Luciana Maria Tico-tico)
    cheirinhos
    Rudy
    TOP COMENTARISTA MARÇO: 3 livros + vários kits, 5 ganhadores, participem!
    BLOG ALEGRIA DE VIVER E AMAR O QUE É BOM!

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  5. Oi Amanda.
    Já vi o filme e gostei muito. Por esse motivo não leria o livro, pois já sei tudo o que acontece e não seria tão impactada com o final caso não tivesse visto o filme.
    Adoro narrativas em primeira pessoa, ainda mais quando a narrativa acontece durante um longo período de tempo.
    Adorei como o autor inseriu elementos sobrenaturais na história. Só a deixou mais rica.
    Beijos

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  6. Eu não sabia que tinha o livro! Assisti o filme quando era mais criança, junto com com meus pais, mas nao entendia muita coisa.. depois de um tempo, revi umas três vezes, e não canso de chorar ou sentir tamanha magnitude da história! Apesar de ja estar ciente dos acontecimentos, eu ia amar muito ler o livro.. afinal, existem emoções e detalhes que só as palavras são capazes de nos fazer compreender! Ainda mais considerando o incrível autor: Stephen King realmente sabe como produzir uma historia que prende a atenção (mesmo em primeira pessoa, um detalhe que, na minha opinião, faz com que alguns detalhes se percam).

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  7. Nossa, esse é um dos maiores clássicos do King mesmo, mas apesar disso eu nunca li e também não vi o filme. Já pensei em ler mas sempre fica lá pelo final da fila de leitura, porém vou ver se adianto isso, rs. Parece um livro bastante reflexivo e até mesmo sensível. Beijos.

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  8. Oi Amanda!
    Realmente é um clássico famoso do autor mas assim como você nunca vi o filme, espero me surpreender bastante quando eu for ler também. Gostei da história e pelo autor minhas expectativas estão altas. Já gostei um pouco dos personagens só pela sua resenha, com certeza devo amar o Paul e todos os personagens que o cercam. Lerei o livro assim que possível. Bjs

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  9. Olá!
    Como ainda não li livros do King sempre é um prazer conhecer suas obras, esta por exemplo não conhecia tbm, vai pra lista e espero uma oportunidade pra começar acompanhar o trabalho dele.
    Bjs!

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