Resenha: Véu do Tempo

11 dezembro 2017

Título: Véu do Tempo
Autor: Claire R. McDougall
Cortesia: Grupo Editorial Pensamento / Jangada
Skoob
Páginas: 368
Onde comprar: Saraiva / Amazon

A medicação para a epilepsia mantém Maggie num estado permanente de torpor, mas não consegue aliviar sua dor por ter perdido a filha em decorrência da mesma doença. Com o fim do seu casamento e o filho mais velho num colégio interno, Maggie se muda para uma casa de campo nas ruínas de Dunadd, o local histórico que um dia foi a sede da realeza da Escócia. Tudo muda em sua vida após uma convulsão, e Maggie desperta num vilarejo dentro dos muros de Dunadd do século VIII. Mesmo sem saber se isso realidade ou apenas uma alucinação causada pela doença, ela é atraída pela presença de Fergus, irmão do rei e pai de Illa, uma menina que tem uma semelhança impressionante com a sua falecida filha. Mas, com as demandas do presente chamando-a de volta, conseguirá Maggie deixar para trás o príncipe escocês que já a chama de meu amor?






“Ele me perguntou quem sou eu, mas há muitos eus – como uma imagem refletida num espelho quebrado, estou espalhada por toda parte.”

Maggie desde sempre sofreu com o fardo de ter epilepsia, no entanto, ela nunca imaginava que poderia vir a passar essa terrível sina para seus filhos – motivo pelo qual Maggie se vê arrasada quando sua filha morre em decorrência da mesma doença que possui.

Se mostrando impossível não se sentir culpada por ter passada tal carga genética a ela, ela se vê perdida em um estado de torpor produzido por medicações para ajuda-la. O que já estava ruim só piora quando além de ter que lidar com a dor de sua perda, ela se vê diante do fim de seu casamento. Longe de seu filho mais velho que se encontra em um colégio interno, Maggie decide mudar sua vida indo morar no campo para poder se dedicar tanto a sua tese enquanto espera a marcação da sua lobectomia. Enquanto ela tenta se isolar de seus problemas para conseguir viver um dia de cada vez, um segredo que a acompanha há anos a faz embarcar em uma situação inesperada.

“Eu vim para cá porque estou com medo de seguir em frente, e o tempo passa devagar aqui. Às vezes, em Dunadd, o tempo sequer parece existir.”

Há anos, Maggie guarda segredo sobre seus sonhos; sonhos esses que estão longe de serem normais. Enquanto seu corpo se encontra em meio às convulsões de sua doença, ela acaba por se ver em meio a uma viagem para outro tempo, onde é permitido a ela interagir com as pessoas que se encontram por lá. Questionando seriamente sua sanidade, ela não consegue entender o porque desse tipo de coisa acontecer com ela além de se perguntar se isso é realmente real ou mero fruto de sua cabeça. No entanto, quando em mais uma de suas crises ela se vê voltando no tempo para uma versão de  Dunadd - o lugar em que vive - de muitos séculos atrás, ela mal pode imaginar o que isso poderá fazer com sua vida.

“Muito antes de meu distúrbio receber um nome, eu já tinha sonhos. Não sonhos passageiros, mas o tipo de sonho, em sono profundo, que se entrelaça no tecido da mente e não vai embora.” 

Sendo confundida com uma druida e tendo seu caminho se cruzando com Fergus, um lindo príncipe,  e Illa, sua filha tão encantadora e parecida com a sua falecida filha, Maggie irá se deparar com uma batalha interna sobre o que fazer. Enquanto o presente chama por ela, Maggie terá que fazer uma escolha que determinará toda a sua vida. Deve ela ficar ali ao lado do belo príncipe escocês que já conquistou seu coração ou deve voltar para seu tempo e para sua vida repleta de vazios? Presente ou passado, qual é a escolha que ela deve fazer?


“Parece que desperdiçamos a maior parte da vida tentando não morrer. Mas, no fim, a morte acontece de um jeito ou de outro. O tempo é uma medida tão inútil para quantificar qualquer coisa… O máximo que você pode dizer é que nascemos e que morremos. O que vem no meio é uma pequena pausa. Na grande expansão do universo, a pausa não é nada mais do que algumas respirações. Tentamos fazer com que isso signifique alguma coisa, acrescentando-lhe anos, mas os anos não a tornam maior. Estamos aqui, partimos. Outra coisa qualquer toma o nosso lugar.”

Alternando presente e passado, Maggie irá descobrir muito mais sobre si e sobre o que poderia ter, mas estaria ela disposta a largar tudo em um lado para viver do outro? Só lendo para descobrir.



[ - Minhas Impressões - ]

Véu do Tempo é um livro que apresenta momentos interessantes inseridos em uma trama complexa e muito bem trabalhados ao alternar presente e passado de forma a levar seus leitores a acompanhar fatos históricos importantes de uma maneira natural e leve. Apresentando com riqueza detalhes da cultura escocesa, essa é uma obra que se mostra um prato cheio para os ávidos por conhecer e se embrenhar em meio a diferentes civilizações. Apresentando de maneira real a participação das mulheres e as formas como elas eram vistas, essa é uma obra que equilibra ensinamentos a ficção de uma forma que não prejudica nenhum dos lados, mas alcança o ideal de forma que beira a perfeição. 


Porém, preciso confessar que Maggie não foi uma personagem que conseguiu me cativar logo de cara e que se mostrou alguém extremamente complexa e confusa para se entender, não por causa dos sonhos onde consegue quebrar a barreira do tempo, mas sim por suas atitudes que lembram questões acerca do feminismo, mas que se mostram um pouco confusas e superficiais não explicando exatamente o porque e nem o que essa postura é na verdade. Além de que o fato de sabermos tão pouco sobre ela e sobre quem ela realmente é, tornou um pouco complicado para mim me sentir próxima a ela a entendendo e tentando descobrir.

Outro ponto é que ela apesar de tentar se mostrar alguém determinada e segura de si, se mostra alguém totalmente dependente e confusa sem saber qual decisão tomar ao se ver envolvida por alguém cuja comunicação se mostra escassa diante da diferença de lingas; aliás, sua dúvida entre escolher não fazer a cirurgia e poder continuar visitando seu novo amor ou fazer e se tornar a mãe que seu filho sempre desejou poder ter, foi o que mais conseguiu gerar em mim empatia pela sua situação. Afinal, qual seria a escolha certa em uma situação dessas? Haveria uma que realmente poderia ser a melhor ou a correta?

Mesmo assim, Maggie se mostrou uma protagonista que cumpre o que a premissa promete ao apresentar através de suas viagens cenários completamente novos repletos de fatos desconhecidos e sabedoria. Com importantes lições, Claire soube dar um toque de humanidade ao mesmo tempo em que fazia chegar ao leitor as lições de vida que desejou com sua história; mesmo com suas falhas, ela é uma personagem que consegue envolver o leitor em seu dia a dia de forma a tornar a leitura fluida sem se mostrar enfadonha ou repetitiva. Simples, mas bem feita, essa é aquela personagem que não cativa um espaço na vida daqueles que a leem ao mesmo tempo em que também não deixa de ter presença.

Já acerca de Fergus, preciso dizer que realmente não funcionou para mim apesar de sua aparência e atitude condizerem com seu título e época. Cada vez que a autora tentava inserir profundidade a ele, eu acaba por ter uma sensação de superficialidade, como se nunca realmente conseguisse sentir o que deveria com o que estava ali presente. No entanto, nem todos os personagens se mostraram assim, como é o caso de Jim que acaba por representar para a protagonista uma figura paterna repleta de apoio, e cuidados que Maggie acabou por nunca encontrar em ninguém – nem mesmo em seu ex-marido. Ele é aquele ar fresco e normalidade que a história apresenta para mostrar que a autora sabia o que estava a fazer, principalmente ao ser capaz de criar alguém tão real e crível como ele. 


Com personagens que variam na forma como fazem sentir, essa é uma obra que se mostrou repleta de detalhes capazes de torna-la crível e envolvente através de sua narrativa fluida que alterna presente e passado na dose certa de forma a não deixar o leitor perdido ou confuso. Extremamente delicada, essa é uma narrativa que se mostra sensível, profunda e cheia de reflexões através de seus acontecimentos e dos questionamentos feitos pelos próprios personagens, mas que acabam por refletir internamente naqueles que estão a acompanha-la. Sem se mostrar algo grandioso ou complexo, essa é uma trama que inova com sua inserção de viagens no tempo causadas através de episódios de uma doença tão seria e complexa como é a epilepsia. 

Sua edição demonstra um primor que encanta e enche os olhos do leitor que se depara com uma dedicação tão profunda e intensa através de detalhes sutis, mas nem um pouco irrelevantes. Com uma bela capa, essa é uma obra que atrai olhares a primeira vista e desperta curiosidade acerca de sua trama. Com uma diagramação impecável, somos lembrados o tempo todo acerca da passagem do tempo para a protagonista que se encontra na iminência de tomar uma das decisões mais importantes de sua vida. Mantendo o padrão já conhecido e esperado pela Editora Jangada, esse é um livro que não deixa nada a desejar com suas folhas de qualidade e fonte confortável para a leitura. Simples, mas nem um pouco inferior, Véu do Tempo é uma obra que se mostra completa ao apresentar uma boa revisão, juntamente a uma boa diagramação, a uma boa história. 


Véu do Tempo é uma obra que não apresenta muito a ser falado, ao mesmo tempo em que permite que se aprofunde por diversas de suas facetas para comentar. Com uma narrativa que flui de maneira rápida e fácil, essa é uma leitura feita para ser realizada em poucos dias e que se mostra agradável ao seu termino, apesar de deixar certo quê de ausência de algo a mais. Construída de forma a emocionar o leitor, essa é uma obra que se mostra indo muito além do que estamos acostumados a ser confrontados com sua trama repleta de elementos diferentes e complexos. 

Deixando questionamentos no ar durante ao longo da sua trama, esse é um livro para fazer o seu leitor pensar e imaginar acerca do que realmente aconteceu e do que poderá acontecer... Indicado para todos que gostam de histórias com abordagens sobre o tempo e com um bom romance de fundo, essa é a obra indicada para ser lida em um fim de tarde ou um domingo regado de preguiça onde se deseja visitar outros lugares sem sair do lugar. Intrigante e ao mesmo tempo impactante, essa é uma obra que se mostra muito mais profunda do que parece a uma primeira vista... Se uma escolha pudesse mudar toda a sua vida, você seria capaz de ter certeza sobre que caminho seguir? Esse e muito mais questionamentos você encontra nessa obra escrita por Claire R. McDougall, que mesmo não sendo uma das melhores do gênero mostra conhecimento e técnica para o que está a fazer! Recomendo. 

Um beijo

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8 comentários

  1. Oi Bruna!
    Eu adorei conhecer esse livro pois conhecia apenas o nome, o enredo me pareceu ser lindo tenho ctz que é uma leitura mto agradável, gostaria mto de ler ...
    Bjs

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  2. Puxa, já tinha visto a capa deste livro pelo mundo literário, mas de fato, não havia parado para ler do que se tratava e confesso que gostei muito de tudo que li acima.
    Adoro esse lance de misturar passado e presente, apesar de já ter me perdido muito em enredos assim, hoje em dia gosto de testar minha mente.rs
    E tem o lance de conter fatos históricos e culturas, o que são pontos que amo também ler e saber mais.
    Vai para a lista de desejados e espero poder conferir em breve!
    Beijo

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  3. Bruna!
    Que livro mais interessante!
    Viver no isolamento e com epilepsia, a princípio seria um grande problema, porém seus sonhos a levam para uma realidade paralela, onde pode aprender muito sobre magia e é considerada uma druída, adoro livros com esse tema.
    Gosto de passado e presente na escrita, porque dá uma visão mais abrangente.
    E gosto dos detalhes, principalmente sobre as civilizações e fatos históricos, fiquei bem interessada pela leitura.
    Desejo uma ótima semana!
    “ Bendita seja a data que une a todo mundo numa conspiração de amor.” (Hamilton Wright Mabi)
    cheirinhos
    Rudy
    TOP COMENTARISTA dezembro 3 livros + 2 Kits papelaria, 4 ganhadores, participem!

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  4. Oi Bruna! Nunca li nada que aborde temas como epilepsia e as dificuldades dessa doença, apesar de já ter convivido com uma pessoa que sofre com essa doença. Posso imaginar que é muito triste, nesse sentido e fico curiosa para saber como a autora colocou essa questão na narrativa. Essa coisa de viagem no tempo me lembrou um pouco Outlander, rs, mas pode ter sido só a primeira impressão mesmo.
    Beijos.

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  5. Olá Bruna, tudo bem?
    Não tinha muito costume de ler dramas, mas recentemente passei a me interessar pelo gênero. Este aqui traz uma estória muito boa, e aborda um tópico bem interessante e não muito comum, a epilepsia. Fiquei curiosa para conhecer um pouco mais.
    Gostei dos cenários que a protagonista nos mostra, tanto presente quanto passado, e da forma que ela os une e combina.
    Aprecio bastante estórias sobre o tempo, apesar de não ser muito fã de romance. Acho que aqui tudo vai ser inteligado, e com certeza será um drama que emociona e nos envolve muito.

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  6. Oii Bruna ;)
    Acho que nunca li um livro em que a personagem principal tem epilepsia, e achei bem legal o fato de com isso ela conseguir viajar no tempo!
    Confesso que achei a premissa muito similar a Outlander, que é uma série que amo muito, e desde que vi comecei a amar tudo que envolve viajem no tempo. E eu entendo que é realmente difícil a gente conseguir se conectar com um personagem, quando sabemos tão pouco dele!
    Enfim, Véu do Tempo parece ter uma narrativa emocionante e envolvente, mas não sei se leria ele agora, mas obrigada pela indicação!
    Bjos

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  7. Nunca ouvi falar nem na altura nem no livro já conhecia editora e eu conheço vários livros dela que me impressionaram e agradaram mas não sei se esse livro é muito Meu gênero

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  8. Gostei bastante da escolha do nome do livro rsrs tem a ver. É meio chato quando a personagem principal não cativa a gente de primeira, comigo dá o maior desanimo de continuar lendo o livro. Mas gostei a ideia do livro, me lembrou um outro livro que só li a resenha também e acabei nem lendo, era de uma autora brasileira, e foi super falado quando lançou.
    Acho que eu gostaria de ler este livro, mais por causa dessa linha temporal mesmo.

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