Resenha - O Coração das Trevas

26 outubro 2017

Título: O Coração das Trevas
Autor: Joseph Conrad
Editora: Landmark
Skoob / Goodreads
Páginas: 176
Onde comprar: Amazon / Submarino

Publicado em forma de livro em 1902, Coração das trevas é um dos grandes clássicos da literatura do século XX, conhecido também por ter servido de base para o filme Apocalypse now!, obra-prima de Francis Ford Coppola. Nessa nova tradução de Sergio Flaksman, a prosa conradiana aparece em todos os seus contornos e trejeitos, conforme o leitor acompanha a viagem do protagonista Marlow pelo coração sombrio da selva africana. A missão de Marlow é trazer de volta Kurtz, um mercador de marfim cujos métodos passam a desagradar a companhia mercante que o contratou. Dividido entre o fascínio e a repulsa por Kurtz, Marlow aos poucos vai descobrindo a natureza desses métodos.



Essa é uma história contada dentro de outra história. Marlow, navegando pelo rio Tâmisa e sendo levado pelo tédio, decide contar aos seus companheiros de viagem a história do livro em si. De uma forma que beira a confissão, mas é como a página rasgada de um diário, Marlow conta para todos a sua experiência como empregado de uma empresa americana. Lá era capitão de um navio que deveria percorrer todo o rio Congo e encontrar o impressionável e enigmático Kurtz, um comerciante de marfim que se deixou levar pela selva do continente africano e passou a viver com os selvagens.

Kurtz é um europeu civilizado, com dotes para música, política e poesia, e ideias elevadas. Um homem modelo, mas que em sua trajetória em busca de marfim cometeu diversos crimes contra a sociedade, o principal deles: fazer com que os nativos o considerassem um Deus. 

Marlow conta em seu relato todos os percalços pelos quais teve que passar, desde o clima até as condições precárias de trabalho. Sem se esquecer de fazer contrastes entre as dicotomias que encontrava durante a sua travessia: negro e branco, luz e escuridão, selvagem e civilizado, colonizador e colonizado. O humano e o não-humano.

Conforme ele se aproxima do destino as coisas ficam mais macabras, sombrias e brutais. A escuridão da selva envolve toda tripulação e expõe para eles a degradação humana, os mal tratos e a crueldade com que os nativos eram tratados. Além é claro, de toda a corrupção e ganância envolvidas na extração do marfim.


Quando Marlow encontra Kurtz, dividido entre a repulsa e a admiração, vê um homem fraco, doente e louco. De tanto buscar o sucesso da companhia, o melhor funcionário não é mais útil, não é mais rentável, pelo contrário, gasta muito mantê-lo ali. Os gerentes querem seu fim. Enquanto isso, Marlow está fascinado e com medo, ele deverá salvar Kurtz ou deixá-lo morrer a esmo?

O Coração das Trevas nos mostra a decadência do homem e como a moral, a verdade, a realidade e até mesmo os desejos podem escapar do seu propósito e se curvar em direção a floresta, em direção ao coração das trevas e toda a brutalidade que ele esconde. As descrições aqui são intensas, mas deixam espaço para que a imaginação do leitor faça o que deve ser feito.

"Sua própria existência era improvável, inexplicável e plenamente desconcertante. Ele era um problema insolúvel. Era inconcebível como ele tinha sobrevivido, como ele tinha obtido sucesso em chegar tão longe, como ele tinha conseguido permanecer - o porquê dele não ter desaparecido instantaneamente."



[ - Minhas Impressões - ]

Esse é aquele tipo de livro muito antigo, e quando eu digo muito, é muito antigo mesmo, mas que te faz pensar em questões atuais, porque o que aconteceu no passado ainda acontece nos dias de hoje. O passado meio que é uma cicatriz no nosso presente, entendem? Principalmente quando a gente trata de um tema como a escravidão e o racismo.

Uma das coisas que mais me fizeram gostar dessa leitura, mesmo que tenha sido por obrigação, é que O Coração das Trevas é uma alegoria única, quase uma parábola. E eu já ouvi gente dizendo que essa foi uma obra premonitória, uma pequena amostra de tudo que o homem ganancioso seria capaz de fazer para conseguir o que quer, no caso, o marfim. Toda essa aura mística junto com a oportunidade de criar a minha própria crítica em cima disso tudo, fizeram com que essa fosse uma das leituras mais lentas, e ainda assim uma das favoritas do ano. Eu não quis devorar esse livro, eu quis analisá-lo, parágrafo à parágrafo e descobrir o que existia por trás daquelas letras.

"Era curioso ver o ímpeto que ele possuía misturado à relutância ao falar de Kurtz. O homem preenchera a sua vida, ocupara os seus pensamentos, influenciara os seus sentimentos."


O estilo de escrita do Joseph Conrad é uma coisa sensacional! Ele começa lentamente, com uma verdadeira introdução, sem te bombardear com as informações e conforme você avança, ele te mostra tudo o que há para ser visto e pensado. Marlow, o contador da história, te apresenta os personagens da forma mais crua possível, e mesmo assim ela é carregada de lembranças e sentimentos. Menos a selva, ela é a personagem mais cruel, ela é o verdadeiro Coração das Trevas, ela esconde os perigos existentes nessa aventura.

Além de Marlow e Kurtz, os personagens principais, nós conhecemos o Arlequim, cujo nome verdadeiro ninguém sabe, mas que tem um papel fundamental quando se trata de fidelidade e amor. Os outros, são apenas coadjuvantes, e mesmo que os seus nomes não sejam revelados, todos são complexos e únicos, com um papel fundamento dentro da narrativa.

"A conquista da terra, o que geralmente significa tomá-la daqueles que têm fisionomias distintas ou narizes ligeiramente mais achatados do que os nossos, não é algo belo quando examinado mais de perto."

É interessante que você saiba que o autor viveu, não exatamente os fatos do livro, mas algo parecido, talvez essa seja a pitadinha para uma história tão tocante como essa. Ele era um homem do mar, enquanto estava na Marinha de algum lugar que eu não me lembro só pensava em escrever, mas depois de começar a carreira na escrita, só escreveu sobre o mar. Esse livro não contém acontecimentos forçados ou coisas previsíveis, pois essa é uma história embalada no ritmo certo, naquele estilo meio road trip, mas cheio de reviravoltas sutis contadas por um jovem marinheiro de humor ácido.

Fiz essa leitura em e-book, então não posso falar muito sobre diagramação e coisas afins, mas eu li numa edição bilíngue com uma revisão muito boa e uma capa linda.  No mais, só digo que esse é um livro que talvez você demore a ler, e ele vai fazer questão de demorar mais ainda para ser esquecido.


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8 comentários

  1. Natália!
    Gosto de livros que mesmo escritors há muito tempo, são atemporais, porque trazem assuntos atuais, como no caso aqui o racismo e a escravidão, e nos fazem repensar sobre nossas atitudes em relação a eles.
    Livros com parábolas são sempre estimulantes para mente e gosto quando tem essa aurea mística, tipo um mistério a ser desvendado, mesmo que seja premonitória.
    Fiquei instigada para fazer essa leitura.
    “Só a mágoa deveria ser a instrutora dos sábios; Tristeza é saber.” (George Lord Byron)
    Cheirinhos
    Rudy
    TOP COMENTARISTA DE OUTUBRO 3 livros, 3 ganhadores, participem.

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  2. Este sim é realmente um livro antigo(muito antigo),mas que eu ainda não consegui ler. Fico até meio revoltada quando vejo livros assim, que marcaram gerações e andam esquecidos por todos nós.
    Mas foi prazeroso demais ver essa nova roupagem em um livro considerado tão pesado para a época e tão atual ainda.
    Outro fator que me me "assustou" é que é um livro pequeno e mesmo assim, traz um conteúdo tão grandioso.
    Vou tentar ler ele, nem que seja em e-book!
    Beijo

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  3. O livro mostra uma aventura e tanto, apesar de falar sobre a escravidão, que é um tema delicado, onde muitas pessoas antigamente passavam por isso e eram muito maltratadas. Todas elas buscavam melhorar suas vidas, mas nem sempre tinham sucesso, já que os senhores da época costumavam ser bem cruéis. Acho que o livro deve retratar bem isso e os personagens Kurts e Marlow são distintos mas que juntos dão uma dosagem boa a história!!

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  4. Oi Nat, tudo bem?
    Que coisa mais legal esse negócio de história dentro de uma história. Achei super interessante o tema do livro, parece realmente uma viagem. Por ser um livro um pouco mais denso eu acho que eu tb leria devagar para absorver todas as informações. Quero ler.
    Beijos

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  5. Nossa esse parece o meu tipo de livro! Nunca ouvi falar, e olha que é um clássico! Adoro descobrir coisas novas, rs. Já entrou pra minha lista. Gosto muito de histórias que precisamos digerir e aprendemos algo com elas, histórias que nos marcam e nos moldam. Adorei a indicação!
    Beijos.

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  6. Oi! Não conhecia o livro, e fiquei curiosa pra saber o quão antigo ele é. Haha Eu simplesmente amo quando histórias são baseadas em alguns fatos que o próprio autor já viveu. Isso trás mais verdade para a história e, dependendo do gênero, toca o leitor ainda mais. Confesso que não me interessei pela proposta, mas que bom foi uma leitura boa pra ti! Beijoss

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  7. Ola Natali,
    Eu nao conhecia o livro e não gostei muito da sinopse
    Pela sua resenha e um pouco triste perceber que mesmo o livro tendo sido lançado em 1902 ainda traz uma estória relacionada com a triste realidade em que vivemos, onde por causa da ganância do homem ele passa por cima de todos sem se importar em machucar as pessoas.

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  8. Oi Natália ;)
    Não sou muito acostumada a ler livros que a narrativa acontece dessa forma mais parada, até porque não gosto muito. Na verdade não gosto de exageros... nem uma narrativa parada e nem uma em que o autor joga tudo em cima dos leitores de uma só vez.
    Não é um livro que me interessou, achei que pela premissa não combina muito com meu tipo de leitura. Mas achei legal que o autor botou um pouco de sua experiência na Marinha conforme foi escrevendo a obra.
    Realmente, como você disse é incrível como coisas que aconteceram no passado tendem a se repetir, o ser humano não aprende com o erre né?
    Bjos

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