Resenha - Eu sei o que você está pensando

20 outubro 2017

Título: Eu Sei O Que Você Está Pensando (Dave Gurney #1)
Autor: John Verdon
Editora: Arqueiro
Páginas: 352
Skoob / Goodreads
Onde comprar: Amazon / Saraiva

Uma carta perturbadora chega via correio com uma simples declaração ao final: "Veja como conheço seus segredos - apenas pense em um número." Errará quem pensar que uma carta dessas chega a seu destino final apenas por obra do acaso.
Para o detetive aposentado da polícia de homicídios da cidade de Nova York, Dave Gurney, que está formando uma nova vida ao lado de sua esposa Madeleine, as cartas começam a deixar de ser estranhas para se tornarem um complicado quebra-cabeça que levará a uma enorme investigação sobre assassinatos em série.
Trazido para o caso como consultor, Gurney em pouco tempo percebe pistas que a polícia local deixou passar. Ainda assim, diante de um oponente que parece ter o dom da clarividência, Gurney vê seus esforços irem em vão, seu casamento rumando a um precipício e, finalmente, um medo incontrolável de que seu adversário não pode ser parado.




Dave Gurney é um detetive de homicídios aposentado de 47 anos que não consegue se desprender totalmente de sua profissão. Uma prova disso são as fotografias de assassinos – dos quais passou toda a sua carreira correndo atrás – que passa o tempo todo manipulando para seu curso de exposição de arte, criado por uma dona de galeria de renome regional. Sua esposa, Madeleine, não esperava que o marido continuasse se envolvendo com alguma coisa que estivesse relacionado ao antigo trabalho, e é claro, está chateada. As coisas entre os dois passam a ficar mais intensas quando um antigo colega de turma liga para Dave pedindo para se encontrarem. Mark Mellery se tornou um guia espiritual de bom comportamento famoso e bem-sucedido na área, o que lhe rendeu um instituto formidável e dois livros populares. Mellery sabe, através da mídia, que Gurney havia se tornado um grande detetive, reconhecido por resolver casos de assassinos em série perigosos e difíceis. Quando se encontram, lhe confidencia uma grande preocupação: ultimamente, vem recebendo cartas anônimas estranhas e ameaçadoras.

Tudo começou com uma carta lhe dizendo para pensar em um número de um até mil e que iria conseguir identificá-lo. Mellery pensou no número 658. E ao abrir um pequeno envelope, encaminhado junto com a carta, encontra exatamente o número que pensou. Mas como isso é possível? Como ele poderia ter lido seus pensamentos? Isso deixou Mellery tão chocado que cumpriu os requisitos do desconhecido, pedindo-lhe que depositasse 289,87 dólares em um determinado endereço para um tal de X. Arybdis. Mas a estranheza não para por aí. Depois de alguns dias, foi contatado novamente, recebendo poemas estranhos e ameaçadores. Gurney orienta seu antigo colega a procurar a polícia, mas Mellery se recusa, pois acabaria gerando repercussão e, consequentemente, destruindo sua carreira e fama, já que seus pacientes não iriam mais acreditá-lo. Gurney, de mãos atadas, se limita a refletir sobre o número e o nome, a pressionar Mellery sobre o seu passado e possíveis inimigos.

“Você acredita em destino? Eu acredito, porque achei que nunca iria vê-lo de novo, até que um dia... ali estava você. Tudo voltou: o modo como você fala, como se mexe – e, acima de tudo, como pensa. Se alguém lhe dissesse para pensar em um número, sei em que número você pensaria. Não acredita? Vou provar. Pense em qualquer número de um a mil – no primeiro número que lhe vier à mente. Visualize-o. Agora veja como conheço seus segredos.”

Mas o número se torna apenas mais uma incógnita quando uma série de assassinatos metódicos e ritualísticos passa a ocorrer e fazer com que Gurney deixe um pouco de lado seu trabalho artístico, problemas pessoais com a esposa e a tristeza pelo filho falecido para provar que não ficou famoso por mero acaso.


Romances policiais são simplesmente fascinantes para mim, especialmente quando o enfoque da história se dá no suspense. O autor cria uma obra composta em um quebra-cabeça complexo que nós, leitores, precisamos ordenar as peças e colocá-las em seu devido lugar para que, no fim, a imagem forneça coerência. É isso que Eu Sei O Que Você Está Pensando me ofereceu durante toda a leitura. Fui encontrando vários pedaços, encaixando-os conforme encontrava as partes certas no decorrer dos capítulos até chegar à página final, pois ela que me trouxe a percepção de que se trata de uma grande história. Eu adorei todos os elementos da obra: o protagonista e seu passado triste; os personagens secundários e suas personalidades distintas; descobrir as possíveis motivações dos assassinatos; o perfil do suspeito, seus métodos e suas mensagens enigmáticas. O autor escreve de uma forma tão incrível e, em algumas cenas, tão bem descritiva que me colocou naquele caso, senti que estava trabalhando ao lado de Gurney a todo momento.

Percebi que tinha o privilégio de acompanhar cada passo-a-passo de uma investigação, mesmo a escrita sendo em terceira pessoa. Nós acompanhamos as reuniões, as deduções de cada um dos policiais são evidenciadas e postas em debate, cada detalhe do crime é examinado e discutido de forma minuciosa. Eles se unem e fazem tudo que for necessário para avançar o mais rapidamente no caso e descobrir quem é a pessoa por trás das mensagens e dos crimes tão complexos. E o que dizer do protagonista Dave Gurney? Apesar de ele seguir o mesmo padrão de detetives fictícios, de estar sempre acompanhado de um grande problema pessoal no meio de uma investigação, ele é um homem interessante, reservado que não gosta de atrair atenções. Sua mente é tão aguçada que até os acontecimentos rotineiros, comuns e nada significativos não passam despercebidas. Seu drama pessoal é um tanto quanto significativo, a culpa que alimenta a cada dia pela morte de seu pequeno filho e de como se sente incapaz de superá-lo.

Apesar de eu ter gostado do livro, não posso ignorar o fato de que muitos erros da narrativa não passam despercebidos, nem de longe. Conforme o detetive Dave Gurney vai decifrando e refletindo sobre os mistérios, também fui me envolvendo nessa jornada pensando de que forma tal ação poderia ter acontecido. Só que muitas vezes senti que meu pensamento não chegava ao mesmo ponto que o dele. Haviam coisas óbvias demais que ele deixava passar distraidamente ou que adiava para resolver depois, e que não fazia sentido ele não saber, tendo em vista que se trata de um detetive reconhecido e elogiado pelos outros agentes.

“Agora percebia, contrariado, que esse sentimento era o desejo da clareza relativa de um crime verdadeiro: uma cena de crime em que pudesse passar um pente fino e que pudesse peneirar, medir e estudar; digitais, pegadas, fios de cabelo e fibras a analisar e identificar; testemunhas a interrogar, suspeitos a localizar, álibis a verificar e relacionamentos a investigar, sem falar na arma a ser encontrada e nas cápsulas para a balística. Nunca havia se envolvido de modo tão frustrante num problema tão ambíguo legalmente, com tantas obstruções aos procedimentos normais.”

Além disso, sua esposa Madeleine demonstra ser a personagem mais esperta, pois ao lhe pedir conselhos sobre algum mistério a ser desvendado, ela está sempre pensando racionalmente e seguindo a lógica do caso, enquanto ele fica empacado no mesmo lugar por muito tempo. E ela nem sequer trabalhou no ramo da polícia. Acredito que o autor vendeu muito o peixe de que Gurney é um grande detetive, mas em alguns casos isso não me convenceu muito. É mais simples dizer que toda a polícia é incompetente e Gurney é o componente menos arruinador, do que declará-lo como um grande detetive de homicídios. Gurney comete alguns erros tão absurdos que chega a colocar a sua vida e de outros em risco. Como isso pode se encaixar em sua fama? Enfim, decidi optar pelo pensamento de que Gurney agiu dessa forma nesse caso em específico, dada a sua alta complexidade, e não nos anteriores.

O livro é dividido em três partes, mas falei um pouco apenas da primeira para não entregar nenhum spoiler. Apenas devo revelar que a partir da primeira parte o rumo da história muda bastante! E digo isso em um bom sentido, pois depois de um certo número de páginas já estava me sentindo bem saturada da “leveza” da história, comprovada pelas ameaças anônimas direcionadas a Mark Mellery. O autor me deixou muito ansiosa para descobrir qual seria o próximo passo desse suspeito, então fiquei satisfeita quando as coisas começaram a se desenrolar mais rápido a partir da primeira parte. É intrigante o mistério dos números, imagine só, você recebe a carta pedindo-lhe para pensar em um número e ao abrir um envelope pequeno, lá está ele. É um mistério irresistível! Considerei milhares de hipóteses e não consegui acertar nenhuma delas. Foi uma jogada muito bem planejada do autor! É admirável tamanha criatividade, nunca havia visto nada igual.

Eu Sei O Que Você Está Pensando é o livro de estreia de John Verdon, então acredito que suas próximas obras devem ter sido pensadas com mais cuidado. É difícil acertar cada detalhe de primeira, não é mesmo? Fiquei bastante satisfeita e já não vejo a hora de ler o segundo volume da série. A diagramação, revisão, edição, enfim, todos os elementos do livro estão bem organizados. Fiquei bem intrigada com a capa, não sabia o porquê de ter a pegada de uma sola de sapato pois nada remetia ao ato de pensar em um número, mas depois que cheguei nas partes que explicam isso, compreendi que foi uma ótima escolha para dar imagem ao livro. Devo parabenizar a excelente tradução, fiquei encantada! Os poemas permanecem com rimas e coerências perfeitas mesmo na língua portuguesa. Em suma, quem gosta de romances policiais e de desvendar mistérios intrigantes, fica a minha dica!


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10 comentários

  1. Amanda!
    Gosto demais de livros policiais com mistérios e se ainda vem como um quebra-cabeças, onde o leitor tem se empenhar para ir montando a cada página para poder descobrir todo mistério envolvido, ainda melhor, né?
    Pena que algumas coisas ficaram bem óbvias e outras sem nexo, porém, ainda assim, acredito que vale a leitura.
    Desejo um ótimo final de semana!
    “É melhor saber coisas inúteis do que não saber nada.” (Sêneca)
    Cheirinhos
    Rudy
    TOP COMENTARISTA DE OUTUBRO 3 livros, 3 ganhadores, participem.

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  2. Oi Amanda, tudo bem?
    Eu tambem adoro livros de investigação, são meus preferidos, eu era viciada em CSI. Fiquei bem intrigada com essa história de ter alguém que "sabe" o que o outro está pensando, como isso seria possivel?
    Acho que esses errinhos me incomodariam um pouco na leitura, porque como a pessoa pode ser tão boa e lesada ao mesmo tempo? Kkk
    Enfim, sua avaliação foi boa apesar de tudo. Gostaria de conhecer o livro.
    Beijos

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  3. Amo de paixão um bom livro focado nisso de investigação, mistério...ainda mais quando colocado desta forma meio que vidente.
    E oh, cá entre nós, começar escrevendo algo assim, bem diferente do que se vê e lê por aí, mostra que o autor começou com o pé direito!
    Já gostei de cara da esposa do policial aposentado..rs Mulheres tem essa destreza em ver tudo por outro ângulo e isso é fundamental para um bom enredo.
    Vai para a lista de desejados, com certeza!
    Beijo

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  4. Fiquei intrigada para saber o significado da carta com o número!! Esse livro deve envolver o leitor do inicio ao fim, já estou imaginando várias possibilidades do desfecho da história. Sem dúvidas que é um ótimo suspense.

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  5. Olá Amanda, tudo bem?
    Este livro foi o único que li do autor, mas já faz algum tempo. Foi bom ler a resenha e recordar o enredo (misturo e esqueço muito após ler!).
    Como você, gosto da combinação entre suspense e aventura policial, acho uma ótima combinação. Contudo, não me animei em continuar a série, achei a narrativa um tanto quanto parada.
    Concordo que, por se tratar do primeiro livro do autor (não sabia disso) temos que dar um desconto. Quem sabe não me animo para continuar? Vou querer saber sua opinião sobre os próximos, para ver se serão melhores.

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  6. Olá. Até gosto de romances policiais mas não são meu gênero favorito. Achei o mistério da carta intrigante, mas não me atraiu a fazer a leitura. Acho legal que o autor tenha acertado no seu romance de estréia, apesar de ter alguns pontos ainda a melhorar, mas isso é um sinal promissor de que suas próximas obras devem evoluir (espera-se). Por enquanto não me interessei a ler, mas quem sabe depois.
    Beijos.

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  7. Olá Amanda ;)
    Não conhecia o livro ainda, e me surpreendi com a premissa já no início!
    Sou muito fã de romances policiais, e adoro quando eles são assim surpreendentes e tem uma narrativa bem complexa e imprevisível. Estou muito curiosa para saber o que esse adivinhador que mandou as cartas para Mellery tem haver com os assassinatos da cidade.
    Estou muito curiosa pra saber os mistérios que o livro vai abordar e esse spoilers haha
    Não sabia também que era uma série, e mesmo a escrita do autor sendo boa nesse livro, tomara que ele melhore mais ainda!
    Bjos

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  8. Olá Amanda,
    Não sou fã desse gênero literário, mas fiquei curiosa quando li sobre as cartas que o amigo do detetive recebia.
    Gosto de ler livros que parecem que enquanto leio eu tbm faço parte da estória e esse parece não decepcionar.
    Bom saber que mesmo o foco sendo em um personagem masculino a esposa do personagem se mostra tão inteligente quanto ele.

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  9. Oi! Acho que para um livro de estreia, cometer alguns furos é aceitável. Adoro livros do gênero! Acho sensacional se sentir dentro das investigações e ficar bolando teorias sobre os casos que aparecem. (E quando a minha teoria ta certa eu me sinto muito detetive hahaha) Uma pena que o protagonista comente alguns erros absurdos, mas quero conhecer a obra mesmo assim! Beijoss

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  10. Gosto da temática, então já entrou pra minha listinha com certeza!

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