Resenha - Terra do Sol

16 março 2017

Título: Terra do Sol
Autora: Eliana Portella
Editora: Coerência
Páginas: 450
Skoob
Onde comprar: Saraiva

Dmitry e Natasha Pasternak desembarcaram no Brasil em meados de 1976 com destino ao Amazonas. Os jovens e louros doutores integravam uma elite de médicos pesquisadores soviéticos. E foram necessários bem mais que insistentes convites para ingressarem na aventura de trocar Moscou por uma floresta. Dividiam as mesmas paixões, entre elas a ideia de deixar a Rússia e se aventurar num país de terceiro mundo, o que parecia mais um devaneio que um sonho; e trocar a terra natal pelo Brasil nunca fizera parte de seus planos.
Uma expedição em terras brasileiras, que deveria durar um curto período de tempo, tem seus propósitos desviados pelo sol que brilha todos os dias na pele, no coração e na alma daqueles que encontram muito mais que o resultado de suas pesquisas científicas. Encontram o amor, a amizade e o desejo de viver intensamente a aventura de se entregar aos seus mais secretos sonhos e anseios.
A jovem Iara, nativa da terra quente e descendente de índios, entra na vida e nos corações do jovem casal recém-chegado das terras álgidas.
Natasha, vivendo um momento crucial em sua carreira, dá à luz Yuri e o entrega aos cuidados da brasileira. O menino, de corpo nativo e coração estrangeiro, será criado ao lado de Moara, filha de Iara. Assim como sua mãe, ela também vai entrar em seu caminho.
E o que começou como uma brincadeira de infância acaba tomando grandes proporções na medida em que a vida com seus mistérios os convida a viver uma experiência apaixonante e proibida.
Para uns, o amor está sempre em primeiro plano; para outros, ele é só um detalhe. E enquanto o destino brinca com a existência daqueles que acreditam serem donos absolutos de suas verdades, a ilusão e a realidade se confundem e maltratam os corações desavisados.









O livro é a terceira obra da autora Eliana Portella, ambientado, no início, na região Norte do país. A história é dividida em duas partes: livro um e livro dois. O livro um aborda parte dos acontecimentos da vida de Iara, a índia que faz trabalhos domésticos para o casal soviéticos que veio trabalhar no Brasil. Ela fica encarregada pela criação de Yuri, enquanto os pais estão exercendo sua profissão, e o menino se aproxima de sua filha, Moara. Após algumas complicações, Iara e Dmitry se envolvem e passam a viver como um casal, o que faz com que Yuri e Moara sejam criados como irmãos.

Essa primeira parte tem uma narrativa mais rápida, recheada de ambientes típicos da Amazônia, em que você consegue imaginar com clareza de detalhes sucintos e pertinentes, como é o dia-a-dia de um médico e uma índia dona de casa. Pouco depois eles se mudam para São Paulo, onde acompanhamos a adaptação de Iara, que nunca havia saído do seu lar, em uma cidade de pedra e muito movimentada como a capital paulista.

No segundo livro, embarcamos no ponto de vista de Moara e Yuri. Irmãos de criação, sempre foram muito próximos. Yuri sonha em seguir os passos do pai: se formar em medicina e viajar a trabalho para outro país em condições precárias, onde poderá fazer o bem para pessoas que realmente precisam de auxílio. Moara, por sua vez, está indecisa sobre seu futuro e não encara o meio-irmão como parente, alimenta uma paixão secreta desde menina. Ela tem noção do tabu que teria que enfrentar caso resolvesse levar adiante seu grande desejo de poder amar Yuri como um homem, entretanto, isso não a impede de agir quando percebe que poderá perder o contato com ele.

Essa segunda parte é mais extensa; aprofundada na questão do amor entre irmãos e nas escolhas de vida de cada um. A autora aborda com delicadeza o "incesto", entre aspas porque não é realmente um incesto, e faz com que o leitor fique bem dividido quanto às atitudes dos personagens. Tem hora que você quer que fiquem juntos, tem hora que tem certeza absoluta que seria uma péssima ideia.

Diferente dos romances que estão transbordando nas livrarias nos dias atuais, Terra do Sol se destaca por ser uma leitura original. Nele você não irá encontrar aquela fórmula de romance clichê que sempre segue a mesma receita: paixão + amor + problema = final feliz. Muito pelo contrário, é uma leitura madura, de casais totalmente palpáveis, que erram, que crescem, que amadurecem, que sofrem, que se desesperam, que se arrependem, que sabem abrir mão quando é necessário. Esqueça macho alfa e mocinha coitadinha. Deleite-se com a realidade.

Os personagens desse livro não são aqueles que você sonha em um dia poder conhecer, ou que a situação nunca poderia acontecer com você. Iara, Dmitry, Yuri e Moara poderiam muito bem ser seus vizinhos, ou fazer parte da sua família, tamanha a credibilidade passada pela autora. Não foi atoa que escolhi esse livro como uma das melhores leituras que fiz no ano passado.

Deixando o enredo e os personagens de lado, a diagramação do livro está simples e muito delicada. As folhas são amareladas e a fonte num bom tamanho. Ele possui alguns erros na edição impressa que pode incomodar. Alguns leitores podem considerar o livro extenso e denso, mas é bem escrito, coerente e fluido. Você nem percebe a velocidade em que está lendo. Como o forte da trama é a credibilidade da história, não espere encontrar finais completamente felizes, talvez não seja exatamente o que você gostaria de encontrar. Para mim, essa é a razão do livro ser ainda mais interessante, nem sempre os finais são felizes, a vida não é fácil.

Indico a leitura para todos que gostam de romances diferenciados dos clichês que pipocam nas estantes. Você não irá se arrepender.

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