Resenha - O que há de estranho em mim

07 março 2016



Ao internar a filha numa clínica, o pai de Brit acredita que está ajudando a menina, mas a verdade é que o lugar só lhe faz mal. Aos 16 anos, ela se vê diante de um duvidoso método de terapia, que inclui xingar as outras jovens e dedurar as infrações alheias para ganhar a liberdade.
Sem saber em quem confiar e determinada a não cooperar com os conselheiros, Brit se isola. Mas não fica sozinha por muito tempo. Logo outras garotas se unem a ela na resistência àquele modo de vida hostil. V, Bebe, Martha e Cassie se tornam seu oásis em meio ao deserto de opressão.
Juntas, as cinco amigas vão em busca de uma forma de desafiar o sistema, mostrar ao mundo que não têm nada de desajustadas e dar fim ao suplício de viver numa instituição que as enlouquece.



Livro: O que há de estranho em mim 
224 páginas || Skoob || Editora: Arqueiro || OndeComprar







"Os adultos tinham abandonado seu papel, buscando refúgio num casulo de ignorância para depois dizer que os filhos é que eram desajustados."

Um livro denso e profundo ao extremo. Uma leitura perturbadora e exploradora sobre a negligência de pais em relação a educação de seus filhos. Um livro excepcional de Gayle, que traduz toda sua natureza inconformada com a ausência de amor, carinho e atenção da sociedade sobre o ato de educar.

" A Monstra o convenceu de que espontaneidade é o mesmo que irresponsabilidade. "

Aos 16 anos Brit é uma adolescente como qualquer outro jovem de sua idade. Errado! Para seu pai, Brit é uma menina rebelde, depressiva e com tendência a sofrer o mesmo fim trágico de sua esquecida mãe. A mãe da jovem sofre de esquizofrenia e sumira sem deixar rastros para sua família. Isso causará a ruína do relacionamento familiar. Brit buscava na companhia de seus amigos da banda Clod e do seu amigo/paixão Jed e principalmente o amor e a atenção que seu pai se ausentara em dar após a perda de sua esposa.

O relacionamento entre os dois piorou após o nascimento de seu meio-irmão, fruto do casamento de seu pai com a "Monstra" - sua madrasta - que causara um distanciamento enorme entre pai e filha. Nisso Brit é levada para um passeio que no final se mostrou uma tentativa errônea de corrigir a jovem. O pai a destinara ao sofrimento no internato de Red Rock que parece mais uma prisão do que uma escola que busca na terapia, a cura dessa jovens "rebeldes" e "perdidas".

"Mas à noite, depois que apagavam as luzes e trancavam a porta por fora, eu abria as comportas e chorava até ensopar o travesseiro. "

O martírio da jovem é intenso e constante, porém encontra nesse local vil e infernal a companhia e a amizade de mais quatro meninas: Bebe, a patricinha, Cassie, a lésbica que precisava da "cura gay", V que é jovem que parece mais uma amazona e a doce e ex-miss Martha que agora foi obrigada a emagrecer, já que seus "psicólogos" acreditam que ela engordara apenas para punir seus pais. Nessa improvável amizade, surge o Clube Exclusivo das Malucas.

Elas sofrem diariamente com comidas de má qualidade, dormitórios em péssimo estado de conservação, caminhadas sem fim num calor de quase 50° que foram apelidadas de "caminhadas da morte" e pior ainda, eram forçadas a participar da "terapia conjunta", que consistia em humilhar e ridicularizar as pessoas que estavam na "berlinda". A jovem era chamada de "piranha", "suja", "ovelha negra" e tudo de ruim que você possa imaginar. As pessoas que deviam ajudar essa jovens que nitidamente de problemas de controlar suas emoções e sentimentos, simplesmente eram pessoas incapacitadas para esse trabalho e apenas queriam faturar em cima da crueldade que faziam as meninas.

No trabalho forçado na "pedreira" foi selada a amizade entre essas jovens. Todas se ajudavam e guardavam essa amizade dos outros para não serem penalizadas e rebaixadas de níveis. Porém, sempre tentavam algo "ilegal", como surrupiar comida na hora do café da manhã, mandar cartas em códigos secretos - coisa que Brit fazia muito com Jed - fugiam para dar uma "esvaziada" na mente e outras coisas que se descobertas poderiam acarretar muitas punições.

" Mamãe era o arco-íris após a tempestade; papai era o guarda-chuva que nos mantinha secos."

O ponto épico do livro são as emoções confusas e algumas vezes maduras das personagens. Brit não se conhece profundamente e tem problema com sua imagem. Nunca superou o sumiço de sua mãe e sabe que seu pai simplesmente a abandonou naquele lugar. Não sabe se Jed a ama como ela o ama tanto. V é um mistério sem precedentes na estória, Cassie não sabe ao certo se gosta de mulheres ou se apenas tem medo da rejeição de seus pais e de sua pequena cidade no Texas. Martha é controlada pela sua mãe que acha que a estética é mais importante do que a felicidade e escolhas de sua filha e finalmente Bebe que foi deixada de lado pela sua mãe devido sua carreira nas telenovelas e cinema.

Quando a dor, o abandono e os últimos acontecimentos explodem os limites de paciência dessas meninas, um plano é elaborado para que Red Rock seja exterminado da face da terra. E será que essas jovens conseguirão acabar com esse lugar de tortura e extrema crueldade? Será que um relacionamento familiar pode realmente ser restaurado em lugares assim? Será que Brit está pronta para enfrentar seus monstros?

"– É que a gente acha que a loucura e a sanidade ficam em lados opostos de um oceano, mas na verdade não passam de duas ilhas vizinhas. "

Um enredo que aparentemente parece um suspense, mas quem se aventura a desbrava esse livro, descobre que Gayle corajosamente tocou numa ferida que há muitos anos tem sido ocultada em muitos países: A Educação Emocional.

Talentosamente ela elaborou uma trama fictícia sobre relatos que conseguira quando fora repórter de uma famosa revista semanal nos EUA. Não conseguia acreditar no que ouvia. Não sabia o tão profundo era a situação que a educação emocional estava em boa parte do Ocidente.

Brit e suas amigas nada mais são que a representação de milhares de jovens que são taxados de "rebeldes" e "problemáticos" por seus pais e professores, porque tem problemas em lidar com suas emoções, reações e sentimentos. Não tem problemas mentais, mas precisam de ajuda e atenção para encontrarem o caminho para o auto-controle e equilíbrio emocional que todos devemos ter.
"Agora as regras do jogo mudaram. O que a gente diz, o que a gente faz... é a gente que decide, não eles. Game over. "

Uma capa que traduz todo o sofrimento físico e psicológico que essas personagens sofreram nesse inferno chamado Red Rock. Um enredo capaz de provocar lágrimas em qualquer leitor desavisado - como eu - e despertar a ira ou cólera desenfreada por esses pais omissos e covardes que permitem que seus filhos sofram mais do que é necessário e joguem sua irresponsabilidade sob sua prole que clama por socorro e amor.

''O que há de estranho em mim'' é uma obra encantadoramente perturbante e realista que mostra que Gayle sabe muito bem apresentar a verdade de forma crua sem ausentar ninguém de sua parcela de culpa num problema que pode está acontecendo com qualquer pessoa e até com o leitor desse livro.

Recomendo a leitura com toda certeza, porque vocês irão se sensibilizar com esse livro como eu e vão passar a entender mais os sentimentos humanos.

22 comentários

  1. Olá Joanice, eu acho essa capa incrível e tenho muita vontade de lê-lo. Gosto bastante do estilo como a autora escreve. Infelizmente, só tenho um marcador dele, mas espero ter o título na minha estante em breve. Só pela sinopse já é possível perceber o quanto a história é densa, realista e sensível. Sem contar que é importante para podermos refletir sobre os assuntos retratados. Sua resenha só intensificou essa percepção, e fiquei ainda mais curiosa para conferir.

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  2. eu li esse livro em janeiro - se não me engano. a discussão em cima dessa problemática de pais relapsos e por muitas vezes egoístas de jogar as filhas nesse tipo de instituição é algo que deve ser falado frequentemente. E não só sobre pais que fazem isso com filhos, mas filhos que largam seus pais idosos em qualquer tipo de instituição, sem se dar ao trabalho de ver como os senhores são tratados.
    A única coisa que eu questionei - e isso me incomodou muito - foi o motivo da protagonista ter parado lá. Porque ela mesma diz que o pai já foi um cara legal, que já a mimou, cuidou e protegeu. E como ele pode não reconhecer sintomas de um problema mais sério, se ele viveu ao lado de alguém realmente doente? Ficou forçado, mal construído.
    Por outro lado, o problema da martha, da Cassie, da V e da outramenina - que esqueci o nome - são problemas reias, problemas sérios e que são abordados de modo correto e sério.

    http://criptografandosonhos.blogspot.com.br

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  3. Oi, Joanice
    Já ouvi falar muito sobre o lado psicológico desse livro, e é justamente isso que me atraí nele. Ainda não conheço a narrativa da autora.
    A premissa dele é ótima, e fico imaginando como deve ser mesmo revoltando imaginar como alguns pais podem ser assim, de certa forma virar as costas para os problemas dos filhos. Adorei a resenha e quero muito fazer a leitura desse livro ainda.

    livrosvamosdevoralos.blogspot.com.br

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  4. Todos os livros que eu li da Gayle Forman me deixaram devastadas, mas bem satisfeitas e é essa expectativa que tenho para com esse livro. Que bom que você gostou do livro, porque depois de ler sua resenha, fiquei ainda mais empolgada!!! Amei os quotes que você escolheu para compartilhar conosco e vou adiantar este livro na minha fila de leituras.
    MEU AMOR PELOS LIVROS
    Beijos

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  5. Oi Amiga
    Estou contando os minutos para ler esse livro. Os temas fortes e a carga emocional com certeza é o que mais me atrai.
    Amei os pontos que você destacou, principalmente a questão da educação emocional que realmente não tempos. A capa realmente já é de doer na alma.
    Bom saber que a leitura sensibiliza e envolve. Quero ler com certeza.
    Beijinhos
    Rizia - Livroterapias

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  6. Olá *---*

    Por favor parem de postar sobre esse livro, não aguento mais de ansiedade. Sério, todo mundo que leu esse livro adorou de paixão. Me arrependo amargamente não ter comprado ele quando estava na promoção. Essa pegada psicológica que o livro carrega me chama muita atenção, esse clinica da arrepios, como pode um pai fazer isso com a filha. Não vejo a hora de ler, ainda mais ansiosa que antes.

    Bos
    rillismo.blogspot.com.br

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  7. Olá, tudo bem?

    A primeira vez que vi esse livro, a sinopse dele não me chamou a tenção. Mas, ao ler a primeira resenha, eu mudei de opinião. Assim como a sua me fez ter uma outra visão da história. Já adicionei ela na minha estante de desejados do skoob, e espero em breve também conferir a leitura.

    Beijos,
    Dai | Cheiro de Livro Nacional

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  8. Oi Joanice, tudo bem?
    Realizei essa leitura recentemente e adorei mais esse livro da Gayle! A autora sabe bem como falar de um tema sério de uma maneira leve.
    Eu já tinha ouvido falar sobre essas escolas e nossa é um absurdo que lugares assim existam e funcionem até hoje.
    Gostei muito da personagem Brit e de como ela lidou com sua situação! Adorei a amizade dela com as meninas, foi algo bem bacana nessa história!
    Eu amei o livro e recomendo muito para todos os leitores!

    Beijo :*
    http://www.livrosesonhos.com/

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  9. Oiii!!!

    Eu AMO os livros da Gayle lançados pela Arqueiro.
    As temáticas são mais densas e muito melhores trabalhadas. Não li esse livro por que estou fugindo de livros tensos assim agora, mas assim que conseguir, vou tentar a leitura.
    Eu gosto muito da escrita da autora e tenho certeza que ela fez um ótimo trabalho.
    Gostei da sua resenha e dos pontos tocados da obra ;)

    Beijinhos

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  10. Estou com esse livro aqui em casa desde o lançamento e tenho buscado incentivo para ler ele em algumas resenhas, mais infelizmente ninguém tinha me convencido ainda a parar para ler ele. Sua resenha espetacular finalmente conseguiu isso, suas palavras me ficaram de uma forma que estou pensando aqui por que ainda não li esse livro. Só não vou iniciar a leitura agora porque tenho que terminar algumas iniciadas, mas assim que estiver tudo certo irei ler com certeza... Pois agora sei que o livro trás tudo aquilo que eu busco em uma obra desde que estudei saúde mental na faculdade.

    Abçs
    Sou bibliófila

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  11. Olá Joanice.

    Excelente crítica, expandindo as discussões apresentadas no livro para seu texto. O livro trata de um assunto sério e atual, com diversos pais não somente julgando os filhos a partir de seus preconceitos mas também tentando o máximo incuti-los com os mesmos. E o fato de o livro se concentrar em garotas é sintomático: são normalmente as mulheres as mais julgadas pela sociedade (quando os homens são é justamente no momento que fogem do padrão estabelecido pela sociedade para o masculino). Novamente, ótimo texto. O livro de fato acabou me interessando.

    Abraços!

    Rodrigo Lopes.

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  12. Oi Joanice linda!
    Eu adoro os livros da Gayle e a acho uma excelente escritora na hora de abordar assuntos tão profundos. Acho que essa história tem muito a nos ensinar e nos fazer refletir sobre a sociedade em que vivemos.
    Ainda não li o livro apesar dele estar na minha lista desde que o vi pela primeira vez....mas pela sua resenha tenho certeza que vou me emocionar.
    Bj
    Camila Bernardini Coelho

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  13. Oii!
    Ótima resenha ♥ Mas não é um livro que eu leria! Não gosto de livros com temas pesados e sérios. Sei lá, gosto mais de romances descompromissados e geralmente com um toque de sobrenatural ou fantasia! Mas com certeza é uma ótima dica para quem curte livros com temas mais pesados. Achei legal porque o assunto tratado no livro é algo que não é muito comum.

    Beijão!
    http://loucaspaginasblog.blogspot.com/

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  14. Tentei ler um livro da autora - SE EU FICAR - E não rolou, achei a personagem irritante, chata e egoista. Abandonei o livro com 70 páginas lidas. Mas O que ha de estranho em mim chamou minha atenção e pretendo lê-lo em breve, pois a premissa me agradou muito. Um livro bem emocional, carregado de tensão ... PRECISOOO DESSE LIVRO.
    Amei sua resenha e vou ler o livro assim que puder. E concordo com você sobre a capa, realmente ela passa dor, sofrimento para o leitor.

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  15. Olá!

    Estou bem curiosa com esse livro! Minha resenhista o leu e resenhou, e teve as mesmas impressões que você. A autora saiu do clichê e mostrou para todos a realidade dessas "casas de recuperação". Adoro livros com críticas sociais!

    Bjus
    Blog Fundo Falso

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  16. Olá Joanice,
    Acho que você classificou o livro bem como encantadoramente perturbante. É exatamente isso que sua resenha me transmitiu.
    Minha relação com a autora é bastante conturbada, mas eu sou brasileira e não desisto nunca (risos).
    Quero entender porque o pai da Brit faz isso com ela e como ela reage a isso no 'internato' com as outras meninas.
    Sua resenha me instigou ainda mais.
    Beijos,
    http://mileumdiasparaler.blogspot.com.br/

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  17. Oi Joanice, sabe que desde eu esse livro foi lançado eu tenho vontade de lê-lo, acho que a trama dele parece muito cativante e eu particularmente adoro esses livros que nos fazem refletir e emocionar, acredito que esse tem um potencial!

    Beijos

    http://lovereadmybooks.blogspot.com.br/2016/03/resenha-sombras-do-mundo.html

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  18. Olá, ótima resenha. EU ainda não li nada da autora, mas quero começar justamente por esse livro, O que há de estranho em mim tem a premissa que mais me chama a atenção entre os livros da autora, assim como a temática forte e pertinente.

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  19. Oiie Joanice, tudo bem?

    Então, eu nunca tinha lindo nem resenha desse livro, e sinceramente achava que a estória era outra rs Sabe, só vejo elogios com a escrita da Gayle e espero mesmo poder lê-lo logo, pois gosto de livro assim, forte, porque é forte, ainda mais com essa relação nada legal pai filha e a questão de problemas psicológicos. Eu simplesmente amo livros que nos traz uma emoção forte e faz com a gente reflita sobre a vida.

    Bjs

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  20. Olá.

    Desde que vi sobre o lançamento e li a sinopse que quero muito ler esse livro, ainda não pude compra-lo e estou sem tempo no momento pra ler. Mas estou pensando seriamente em colocar ele no lugar de outra leitura, a vontade de ler é imensa e sua resenha só fez aumentar (se é que é possível). Ótima resenha.

    Beijos.

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  21. Essa capa é muito bonita, mas passa uma impressão de tristeza, solidão e desolamento. Mas acho que ideia é essa mesmo, né? Eu gosto muito da premissa desse livro e, já há algum tempo, estou doida para lê-lo. A história dessa menina, que parece ser tão negligenciada pela família me deixa sempre tão comovida. Não vejo a hora de fazer a leitura!

    Tatiana

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  22. Olá

    Confesso que nunca li nada da autora, tenho vontade de ler Eu estive aqui e agora fiquei curiosa pra ler esse também, pela sua resenha a autora sabe escrever muito bem sobre temas polêmicos, sobre o que você citou sobre educação emocional, acho que o problema é que questões que envolvem emoções,geralmente são tratadas como besteira, quando na verdade a maioria não sabe lida com isso, e a solução que encontram é fingir que o problema não existe ou passar o problema pra outro.


    Bjss

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